Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/04/2024

Dúvidas (371) - Não será um poucochinho exagerado? (8) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

Esta série de posts é dedicada a demolir o mito das patentes que pretende exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e é apenas mais um expediente de compensação do complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

No último post publicado a seguir à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023 referi que os pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a percentagens ínfimas do número total de pedidos dos 39 países do IPO (0,38%) e do número total de países (0,17%) e o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes colocam-nos no terceiro lugar a contar do fim do ranking dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.


O diagrama acima do mais liberdade com os dados do Global Innovation Index 2023 confirma as conclusões que retirei a partir do Patent Index 2023. Deveríamos dedicar pelo menos uma parcela das masturbações delirantes como «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» ou  «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» a uma análise crítica e racional das causas e das possíveis soluções.

26/04/2024

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Vindo dele, pior é difícil, mas sempre possível

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

Só quando me enviaram o vídeo de ontem do Canal A Cor do Dinheiro de Camilo Lourenço me dei conta de que poucos dias depois de ter insinuado propósitos políticos à PGR, o Dr. Marcelo meteu no mesmo saco da conversa com os correspondentes estrangeiros o caso das gémeas e do seu filho, juízos pessoais sobre o Dr. Costa e o Dr. Montenegro, a escravatura, os crimes coloniais e as suas indemnizações aos descendentes das vítimas. Só há uma justificação que se poderia considerar aceitável: demência senil.


Para mim não deixou de ser porque nunca foi o meu presidente, pelas razões que venho explicando há oito anos. Os dois mandatos do Dr. Marcelo tornam um exemplo de dignidade e decência os mandatos dos seus homólogos durante o Estado Novo, generais Carmona e Craveiro Lopes e almirante Américo Thomaz.

25/04/2024

Mitos (335) - O Estado Novo foi uma ditadura feroz e Portugal viveu uma longa noite escura que terminou com a alvorada de 25 de Abril e os amanhãs que cantam

Por razões que possivelmente radicam na consciência difusa e não assumida das fraquezas e contradições do regime actual saído da queda do Estado Novo, a esquerda, e com ela a legião de jornalistas e comentadores afectos, em vez de contribuir para reduzir essas fraquezas, desperdiça o seu talento a incensar o actual regime, ao mesmo tempo que distorce a história vilipendiando o Estado Novo.

A realidade, como habitualmente, é mais complexa do que o retrato resultante das simplificações ideológicas. Sem elaborar muito sobre este tema, remeto para «As causas do atraso português», o livro de Nuno Palma, a respeito do qual publiquei a série de oito posts Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos e acrescento agora meia dúzia de factos e considerações. 

Tivemos o PREC do qual quase saiu uma ditadura pior do que a do Estado Novo, tivemos a reforma agrária e as nacionalizações que expropriaram o "capitalismo monopolista", desmantelou-se o sector financeiro, hoje quase totalmente controlado por capital estrangeiro, a indústria foi reduzida a microempresas e PME e a uma ou outra sobra das grandes empresas industriais. Foi construído um Estado sucial pletórico que faliu três vezes nos últimos 50 anos, povoado por um número de funcionários (750 mil) que é o dobro da soma dos "servidores do Estado" (200 mil) com os mobilizados para a guerra colonial (170 mil). As Forças Armadas foram reduzidas a uma tropa pelintra, desmoralizada, mal equipada e incapaz de defender o país. O ensino público foi gradualmente infectado por ideologias neo-marxistas a um grau que rivaliza com a endoutrinação no ensino do Estado Novo mas fica longe do seu grau de exigência técnica. A qualidade do pessoal político degradou-se e a maioria dos ministros do regime actual não teriam por incompetência técnica lugar num governo do Dr. Salazar ou do Dr. Marcelo. O resultado é um país ultrapassado pelos países saídos das ruínas do império soviético, com uma economia pouco competitiva de baixa produtividade, endividado e dependente dos dinheiros europeus.

Por coincidência, li ontem uma carta de Francisco Pereira de Moura (FPM), antigo professor de Economia do ISCEF (actualmente ISEG), escrita em 1965 aos membros do colégio eleitoral que haveria de reeleger o factótum almirante Américo Tomás. Nessa carta, cuja leitura proporciona uma visão matizada e realista do que era o Estado Novo, FPM, então considerado um homem da "Situação", critica frontalmente a designação do presidente da República por um colégio eleitoral, de que ele próprio fazia parte como procurador da Câmara Corporativa, colégio que substituiu o sufrágio universal directo em resposta aos «acontecimentos que rodearam a eleição presidencial de 1958» (em que participou o general Humberto Delgado).

A crítica de FPM foi muito para além da alteração do processo eleitoral, ditada pela necessidade do governo controlar os seus resultados, e pôs em causa de forma claríssima os fundamentos do próprio regime. É certo que nesse mesmo ano FPM terminou o mandato na Câmara Corporativa mas continuou a ser tolerado pelo salazarismo, não sofreu retaliações, veio a ser um dos fundadores da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), daria origem ao MDP/CDE, e só em 1973 foi demitido da função pública pelo governo de Marcelo Caetano por ter participado na vigília anticolonial na Capela do Rato. 

O que mostra esta carta? A falsidade de dois mitos em contraponto: o mito da ditadura despótica do salazarismo cultivado pelos "anti-fascistas" (a propósito, o Estado Novo nunca foi fascista) e o mito do Estado Novo como um quase paraíso cultivado pelos situacionistas retardados.

24/04/2024

Não misturemos o alho com o bugalho

A AD escolheu para cabeça de lista às eleições para o PE Sebastião Bugalho, um jovem talentoso com carteira de jornalista. Fez a AD muito bem, ou muito mal, isso é lá com a AD e fez Sebastião muito bem, ou muito mal, isso é lá com ele. O que não é só com ele, é que lhe chamam jornalista quando em boa verdade não pratica jornalismo e faz comentário político o que no Portugal dos Pequeninos faz do comentador um político avant la lettre, e nalguns casos, après la lettre

A evolução de comentador político para político é uma evolução respeitável, o que deixará de ser respeitável é a hipotética involução de político para comentador a fingir de jornalista que, a verificar-se, agravaria a confusão nociva entre comentador e jornalista.

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (8)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

O último post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante versa sobre o Estado Novo ter sido uma espécie de idade das trevas, mito que é um favorito da esquerdalhada e funciona como contraponto do mito de que a Primeira República foi um regime salvífico que tratei no post anterior.

Em primeiro lugar o Estado Novo não foi uma ditadura particularmente repressiva e muito menos um Estado totalitário. Na verdade, suporta bem a comparação com a "democracia" republicana. 

Em segundo lugar, a década de 50 o salazarismo colocou o país num processo acelerado de desenvolvimento traduzido por um aumento do PIB per capita  de cerca de 37% da média da Europa Ocidental para mais de 55% no final da década 60, apesar do crescimento fortissimo da maioria dos países dessa zona na mesma época. 

O mito do crescimento se ter dado à custa da exploração das colónias não tem pés nem cabeça, desde logo porque as exportações para as colónias no período de crescimento mais forte representavam apenas cerca de 3% do PIB. O mito do Portugal agrícola cai quando se compara a população activa na agricultura que nos anos 20 era quase 60% com os menos de 25% no final do regime.
 
Do ponto de vista da educação, o analfabetismo que no início do século XX atingia três quartos da população no final dos anos sessenta era residual e não existia analfabetismo infantil.

Na saúde pública todos os índices mostram fortes melhorias. A percentagem de homens com deficiências de crescimento reduziu-se a metade; a mortalidade infantil reduziu-se de mais de 140 por mil para menos de 60 por mil no final do regime. As percentagens da população com acesso aos serviços de saúde pública foi aumentando gradualmente de 10% em 1954 para quase 80% em 1975, ainda antes do tão incensado SNS.

23/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 3a)

O Dr. Medina diz que a UTAO não tem de “imiscuir-se” na engenharia financeira

A UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) tem como missão prestar apoio à comissão parlamentar permanente do parlamento com a «elaboração de estudos e documentos de trabalho técnico sobre a gestão orçamental e financeira pública». No desempenho da sua missão a UTAO concluiu que a redução do valor nominal da dívida em 2023 resultou, em grande medida, do «facto de entidades em todos os subsetores públicos serem investidores em parcelas significativas de dívida pública portuguesa», e que «este efeito subiu consideravelmente em 2023 (mais 12,1 mil milhões de euros do que no ano anterior)

Como seria de esperar, mostrando que está em sintonia com a visão socialista de que não há entidades públicas independentes e que todas devem ser câmaras de eco do governo, o ex-ministro das Finanças Dr. Medina criticou asperamente a UTAO não pelas suas conclusões mas porque «não tem de ter opinião sobre a afetação do Fundo de Estabilização financeira da Segurança Social».

Boa Nova: O Dr. Costa e o Dr. Medina tiraram 0,2% ao rácio de carga fiscal

Em 2023 o rácio de carga fiscal (relação entre a receita fiscal e o PIB nominal) desceu de 36,0% para 35,8%

Choque a realidade com a Boa Nova


O outro lado da questão é que a redução minúscula do rácio resulta da inflação e a carga fiscal aumentou 8,8% em termos nominais e atingiu 95 mil milhões de euros.

O peso dos elefantes brancos no Estado sucial é elefantesco


O endividamento das entidades do sector empresarial do Estado em 2022 representava 7,9% do PIB nacional (19,1 mil milhões). As garantias do Estado para com as entidades do SEE atingiam 2,1% do PIB (5,0 mil milhões).

A bazuca para as casinhas

O Dr. Costa conseguiu extrair à Óropa 22,2 mil milhões de euros para torrar até 2026 no Plano de Recuperação e Resiliência (“o plano que vai preparar Portugal para o Futuro”). Um sétimo desse montante (3,2 mil) serão aplicados para construir casinhas em Lisboa, Seixal, Setúbal e V. R. Stº António onde residem 8% da população. (fonte) Como é que isto promoverá o crescimento futuro da economia não sabemos e ele também não explicou.

22/04/2024

O Dr. Portas explica a diferença entre um estadista e um estradista

O salta-pocinhas

Em entrevista ao Observador, Passos Coelho evocou os tempos do resgate e da troika e revelou a respeito do Dr. Portas «Julgo que ele não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A ´troika´' exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele».

Essa evocação não deveria surpreender quem não tem falta de memória e não esqueceu o "guião" / "argumentário" que andou a ser escrito durante três meses nos idos de 2013, a demissão "irrevogável" do Dr. Portas e todas as outras palhaçadas, numa altura crítica, de um político inconfiável que, como escrevi na época, já defendeu tudo e o seu contrário, sem uma visão para o país para além das suas ambições e do seu ego híper-expandido, que já foi eurocéptico e eurófilo, Paulinho das feiras e frequentador de salões, conservador e liberal, que já intrigou tudo quanto havia para intrigar, sempre a contar os votos dos velhinhos e das velhinhas, dos reformados e da lavoura e a piscar o olho àquele trupe do jornalismo de causas e sem causas, com poucos princípios e muitos fins.

Confrontado com a entrevista, o Dr. Portas com a sua inegável vocação para os soundbites explicou «Passos Coelho achava que a troika era um bem virtuoso, eu achava um mal necessário». Provavelmente sem se dar conta, sublinhou a diferença entre um político que tentava ser um estadista, que percebeu a inevitabilidade mas também a oportunidade de mudar um país atrasado, afundado e dependente dos dinheiros de Bruxelas com um Estado sucial falido, e o político inconfiável que ele, Dr. Portas, foi e continua a ser.

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

A educação é a nossa paixão”, “O SNS é um tesouro”, “Virar a página”, “Contas certas”, “Cofres cheios

Estes são apenas alguns exemplos do talento socialista para criar um Portugal dos Pequenino imaginário num universo paralelo tirando o melhor partido das limitações atávicas do eleitorado que o impedem de ver a realidade. Nada disto seria possível sem a insubstituível ajuda das centenas de jornalistas amigos e a comentadoria do regime.

A tradição ainda é o que era. O comentário político como plataforma eleitoral

Enquanto se preparava para apear o Dr. António José Seguro da liderança do PS, o Dr. António Costa pôde contar com a generosidade do Dr. Pacheco Pereira (o militante do PS com mais notoriedade dentro do PSD) que lhe ofereceu como púlpito um lugar de comentador no seu programa na SIC “Quadratura do Círculo”, substituindo o Dr. Jorge Coelho.

Agora, enquanto se prepara para a sua candidatura a um lugar na Óropa, o Dr. Costa está a caminho de ser comentador no novo canal de televisão da Medialivre, o que não lhe trará vantagens visíveis para esse lugar, porque não é provável que em Bruxelas se dê atenção ao comentário doméstico, mas poderá ser um meio eficaz para não ser esquecido pelo eleitorado português para o caso de falhar a candidatura bruxelense e ter de se candidatar em 2026 a Belém.

A insustentável leveza da Segurança Social

mais liberdade

Como o gráfico mostra, a Segurança Social dos “privados” tem apresentando um saldo positivo crescente porque o número de contribuintes vem aumentando por força dos imigrantes e nos últimos anos o desemprego tem sido historicamente baixo. De resto, sem o aumento das reservas a Segurança Social é insustentável num cenário de inverno demográfico como aquele que nos espera.

Ao contrário, a Caixa Geral de Aposentações (CGA), a Segurança Social dos “públicos”, é cada vez mais deficitária, e não tem novos subscritores desde 01-01-2006 que passaram a fazer parte do regime e os pensionistas vêm aumentado todos os anos com as novas reformas.

(Continua)

21/04/2024

Nativism: More xenophobia than nationalism, nothing in common with patriotism

«Nativism, an ideology, governmental policy, or political stance that prioritizes the interests and well-being of native-born or long-established residents of a given country over those of immigrants, typically by advocating or enacting restrictions on immigration. Those who hold this view tend to reject or avoid the term nativist and instead identify themselves as “patriots,” “nationalists,” or “populists.” However, nativism is not equivalent to patriotism, nationalism, or populism; indeed, it has more in common with xenophobia and racism