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22/08/2014

SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio a resvalar para o princípio do fim

Durante mais de dois anos publiquei a série de 31 posts «O princípio do princípio», o último dos quais em Fevereiro passado, salientando os sinais positivos da economia em resposta às medidas que o governo PSD-CDS foi forçado a tomar pelo Memorando de Entendimento. A insuficiência das reformas, o gradual esgotamento do fraco ímpeto reformista do governo, o fim do PAEF e a aproximação das eleições e do seu apelo à demagogia e irresponsabilidade estão a comprometer os progressos feitos. Alguns sinais de fumo:

Se é certo que a economia voltou a crescer anemicamente 0,6% no 2.º trimestre, é igualmente certo que a produção industrial desceu em Junho 1,2% com ajustamento sazonal. (*)

O défice comercial do 1.º semestre teve o maior aumento desde 2008. Até Maio o défice comercial português foi o 5.º mais elevado da UE em percentagem do PIB.

A taxa de poupança das famílias decresceu no 4.º trimestre de 2013 e no 1.º trimestre de 2014 devido principalmente ao aumento do consumo.

Os custos do trabalho aumentaram 3,1% no 2.º trimestre devido ao aumento dos custos salariais de 2,6% e de 4,9% dos outros custos.

No que respeita ao OE, no primeiro semestre as despesas correntes aumentaram mil milhões de euros, incluindo, por incrível que pareça dada redução dos efectivos, as despesas com o pessoal que aumentaram meio milhão de euros e o aumento foi em todas as funções, e nomeadamente no Ensino Básico e Secundário que aumentou 231 milhões, desmentido a lengalenga da FENPROF. Assim, apesar do aumento de 825 milhões dos impostos, o défice corrente aumentou de 318 milhões. Só o saldo primário (sem juros) melhorou de 176 milhões devido ao aumento dos impostos ter superado o aumento dos juros.

Se é certo que as emissões de BT desta semana a 3 e 12 meses se fizeram a taxas médias historicamente mais baixas (menos de 0,1% e 0,2%, respectivamente) e os yields nos mercados secundários em todos os prazos estão a descer, não é menos certo que isso se deve menos à consolidação orçamental do que à maior tolerância ao risco dos mercados de que têm beneficiado todos os PIGS.

Como seria de esperar, no final do 1.º semestre a dívida pública atingiu 134% do PIB e ainda que se considere a dívida líquida do saldo de caixa de 17,9 mil milhões de euros (um confortável colchão quando comparado com o saldo deixado por Sócrates e Teixeira dos Santos no final do 1.º trimestre de 2011 que dava para 5 dias de despesa), ultrapassa 120% ou seja o dobro do limite máximo.

O que é preocupante pode passar a ameaçador se a venda do Novo Banco não permitir recuperar a totalidade do reforço do Fundo de Resolução.

Enquanto isso, o governo PSD-CDS felicita-se contentinho pelos modestos resultados e no PS disputa-se qual dos dois candidatos a candidatos a primeiro-ministro diz mais vacuidades acerca do milagre do crescimento que espera os portugueses e fazem-se promessas irrealistas e irresponsáveis, enquanto se lavam as mãos do desastre que o seu partido infligiu ao país nos anos de governação de José Sócrates.

(*) Já depois deste post ter sido publicado, o BdeP divulgou esta manhã que o indicador coincidente da actividade económica desceu em Julho 0,3%, a confirmar os outros sinais.

1 comentário:

João Dias disse...

Meu caro, o senhor não existe mesmo... Bem Haja!