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22/09/2014

CASE STUDY: A Escócia à luz da tudologia

Salvo erro, foi um engenheiro agrónomo que em carta dirigida ao Expresso, muitos meses atrás, a propósito de um artigo de Miguel Sousa Tavares sobre o tema agricultura, escrito do alto da sua autoridade de proprietário de um monte alentejano (não sei se tem ou não, mas ficar-lhe-ia bem ter), demonstrou a profusão de asneiras do artigo e baptizou MST apropriadamente de «tudólogo». Não sendo o único, MST é um dos tudólogos com maior notoriedade o que faz dele uma criatura nociva para a lucidez dos seus admiradores.

Uma vez mais, escrevendo a propósito da independência de Escócia (a que ele atrela logo a do País Basco, Catalunha, etc.), MST não desperdiça a oportunidade de asneirar. Podia perfeitamente limitar-se a dizer que preferia uma Escócia independente porque sim – o que seria perfeitamente legítimo – e pronto, arrumava o assunto. Mas não, resolve fundar o seu pensamento em premissas produzidas pela sua mente prolixa: a Escócia está frente da Inglaterra em todos os indicadores do «nível de bem-estar económico (e) é mais rica, graças ao petróleo do Mar do Norte».

Na verdade, a Escócia não é mais rica: os seus 5,3 milhões de habitantes representam 8,4% dos 63,2 milhões do Reino Unido e produzem 8,2% ou 9,1% do PIB total, sem e com a parte proporcional dos rendimentos do petróleo, respectivamente. A sua parte do VAB (valor bruto acrescentado que mede melhor do que o PIB a riqueza de facto criada) é de apenas 7,7% do total do RU. O rendimento disponível per capita é inferior à média do RU e em especial à da Inglaterra: £16.267, £ 16.791, £ 17.066, respectivamente.

A economia da Escócia, há décadas em declínio, está a crescer menos do que a Inglaterra (0,2% contra 0,7% no último trimestre de 2013). A produtividade do trabalho é inferior à média do RU (97,4% contra 101,5% da Inglaterra). As exportações representam menos de 5% do total do RU.

O «Estado Social» escocês. financiado em parte pela Inglaterra, custa mais £ 1.300 por pessoa do que a média no RU. Os rendimentos do petróleo são muito voláteis e caíram de £ 11,5 mil milhões em 2008-9 para £ 5,5 mil milhões em 2012-13. Os bancos escoceses são uma bomba-relógio à espera de rebentar com os seus activos que valem 12 vezes o PIB da Escócia.

A invenção de Salmond de uma Escócia como estado independente desta vez morreu nas urnas, com grande desgosto de MST. Viva uma Escócia autónoma.

[Fontes: Office for National Statistics, Economist, Wikipedia – UK e Scotland]

1 comentário:

Anónimo disse...

Há uns factos que me levam a admirar-vos: Explicam-se bem (excepto para a omniciente esquerdalhada), referenciam-se (assinalam as fontes) e têm uma prosa com estilo inconfundível.
Abraços do eao