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16/09/2014

Dúvidas (49) – Teria o DDT caído, não fora ter-se metido com o PQP e o Chico dos Porsches?

Antes de nos felicitarmos pelo «funcionamento das instituições» que colocou um fim (provisório?) ao reinado do Dr. Ricardo Salgado, o Dono Disto Tudo, convirá reflectirmos um pouco sobre as verdadeiras causas da queda da casa dos Espíritos.

Como agora se torna cada vez mais claro, as «instituições» funcionaram mal e tardiamente. Os administradores não executivos «independentes» do BES entravam mudos e saíram calados, a comissão de auditoria vivia em paz e harmonia com a comissão executiva, o ROC e auditor KPMG assobiava para o lado e sacudia a água do capote «alertando» os seus estados de alma (*), o BdeP empurrava com a barriga para frente tentando gerir as pressões do DDT, o governo lavava as mãos, porque quem tinha de lidar com o assunto era (de facto) o supervisor.

Se as «instituições» funcionaram mal e tardiamente, o que funcionou e fez cair o GES? Afora as inúmeras fraudes e ilegalidades várias, coisa que só por si no Portugal dos Pequeninos não seria dramática, foram essencialmente duas grossas asneiras do DDT, resultantes provavelmente de uma certa soberba e megalomania, geradas por décadas de impunidade.

A primeira asneira foi o DDT ter tentado controlar sem sucesso o grupo Imprensa através da tropa de choque da Ongoing, Nuno Vasconcelos e Rafael Mora, a respeito dos quais Armando Vara, o amigo do animal feroz, foi escutado a explicar ao seu amigo Oliveira que quem se mete com a Ongoing «não sabe com quem se meteu (porque Nuno Vasconcelos e Rafael Mora) … não têm quaisquer escrúpulos». Meteu-se com o Dr. Balsemão (na sua juventude conhecido como o Chico dos Porsches) e meteu a vara no vespeiro do Expresso onde criou uma dúzia de inimigos de estimação que nunca mais tiraram os olhos da roupa suja do GES. Nem mesmo os muitos milhões que gastou a comprar páginas inteiras de publicidade (3 a 4 em cada edição) apaziguaram as coisas. Seria só uma questão de tempo e de oportunidade. Apesar de ter escrito por linhas tortas, o Expresso escreveu a direito e, devemos reconhecê-lo, muitos outros jornais provavelmente venderam mais barato o silêncio e até a benevolência.

A segunda asneira foi o DDT ter-se metido com o PQP (Pedro Queiroz Pereira, um tipo teso, antigo campeão de ralis) tentando controlar a Portucel para lhe aplicar a receita da PT – desnatá-la para financiar o buraco negro do GES. PQP acelerou a fundo e reuniu uma soma de informações suficiente para o BdeP sentir obrigação de fazer alguma coisa, pouca, diga-se. E mais do que suficiente para o Expresso começar a encher várias páginas dos números seguintes, até hoje.

A partir daí a sorte do GES ficou escrita.

(*) Segundo relato do Expresso, a PwC cessou unilateralmente em 2002 a auditoria do BES por razões oficialmente não reveladas que o Expresso atribui a terem sido identificadas situações irregulares de que a PwC pretendeu dissociar-se.

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