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18/09/2014

Estado empreendedor (90) – As reformas não consistem em ejaculações legislativas

O falhanço da plataforma Citius está não só a comprometer a reforma judiciária como a comprometer o funcionamento de todo o sistema judiciário. Para se perceber o estado de negação dos apparatchiks, o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) informou num comunicado que está assegurado «o pleno acesso a todas as funcionalidades da plataforma Citius», mas apenas com «os novos processos instaurados após 15 de Setembro» via electrónica. Ou seja, a coisa não é grave porque só deixa de fora 3,5 milhões de processos para os quais serão necessários um ou dois anos de trabalho para os reintroduzir no sistema, segundo José Tribolet, presidente INESC.

E, pelos vistos, esse falhanço deixou surpreendidos a ministra e todos os dirigentes de topo do ministério da Justiça, o que deveria ser surpreendente e só não é porque são conhecidas a impreparação e a falta de diligência do aparelho administrativo do Estado para lidar com a mudança, gerir projectos e riscos e antecipar dificuldades.

«Do ponto de vista dos modernos sistemas de informação das organizações», os dirigentes de topo «são analfabetos, não conhecem o problema com que estão a lidar» e «acreditam que as coisas se resolvem com uma equipa corajosa ou uma liderança forte ou empregando consultorias externas que levam um ‘dinheirão’ e estão ali uns meses, mas este não é um trabalho de meses. Leva anos e tem de ser feito pelas pessoas da justiça», disse Tribolet à Rádio Renascença.

As reformas do Estado costumam falhar por falta da chamada «vontade política». Quando existe a «vontade política» falham por falta de capacidade de gestão o que vai reforçar durante anos ou décadas os lóbis afectados pelas reformas e vai amolecer ainda mais a amolecida «vontade política».

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