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20/06/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (36)

Outras avarias da geringonça.

A semana começou com Costa a exortar os professores a emigrar, exortação que foi muito bem acolhida pela Fenprof, pelo presidente-comentador e outras luminárias domésticas, ao contrário da exortação de Passos Coelho há 4 anos, o que mostra que as exortações não são todas iguais.

Compreendem-se essas reacções porque o presidente-comentador e boa parte do país se renderam aos malabarismos de Costa, incluindo os sindicatos, feito que Costa é o primeiro a celebrar: «é preciso recuar umas décadas para ver tantos dias sem greves». Rendição que não evitará que o presidente-comentador protestando inocência salte do comboio logo que seja visível que irá descarrilar e aquela parte do país rendida com os sindicatos controlados pelo PCP à cabeça venha a uivar de indignação depois do descarrilamento.

Quem não se rendeu foram os 22 economistas inquiridos pela Bloomberg que prevêem que Portugal vai crescer 1,2% este ano, 1,5% em 2017 e 1,2% em 2018. Nem o Commerzbank, que na sua nota de análise à economia portuguesa a vê «pairar à beira da crise». Nem o  Mecanismo Europeu de Estabilidade que considera que as reformas não podem ser adiadas e a sua reversão é um profundo disparate. Nem os malditos mercados/especuladores (aplicar conforme preferência) com os juros da dívida pública a dez anos a subir mais de 13 pontos base. Nem a realidade visto que, segundo o Eurostat, o emprego está a crescer Europa e a criação de emprego estagnou em Portugal e o indicador coincidente para a actividade económica do BdeP «abrandou pelo sexto mês consecutivo, entrando em terreno negativo (-0,1), pela primeira vez desde Agosto de 2013».

A curva da prosperidade segundo a gerigonça (diagrama de O Insurgente)
Tudo isso não impede que uma parte da realidade económica responda aos incentivos da geringonça. Por exemplo a poupança, a mais baixa na Europa, voltou a cair em Maio. Por exemplo a construção de casas novas cresceu pela primeira vez desde o 4.º trimestre de 2012, num país em que a população residente voltou a reduzir-se e em que existem mais de 700 mil casas devolutas. Por exemplo o crédito à habitação aumentou mais de 60% nos quatro primeiros meses do ano, tendo sido Março o mês com maior volume nos últimos cinco anos.

E quando a realidade não colabora, ignora-se a realidade. Por exemplo, suspeita-se que um inquérito parlamentar à Caixa venha a revelar uma realidade inconveniente? Como seja saber-se quem promoveu e quem beneficiou dos empréstimos que geraram 6 mil milhões de perdas, concedidos entre 2005 e 2010 sob a batuta do trio Sócrates-Santos Ferreira-Vara. No problem. As forças vivas do regime reagem; a gerigonça opõe-se ao inquérito, o presidente-comentador que fala sobre tudo diz que não fala sobre isso, ex-ministros das Finanças acham mal. Ou pinta-se a realidade como faz Costa ao adoptar o newspeak para endrominar a população quanto ao fecho de balcões da Caixa e o despedimento de dois mil utentes.

Contudo, nem a realidade nem a falta de fé do resto do mundo impedem a geringonça de criar o seu mundo paralelo e manter a sua fé, que contudo é uma fé dinâmica já que os seus objectivos e previsões são um alvo em movimento.

Clicar para ver a fé da geringonça em todo o seu esplendor 
Nem de prosseguir a sua marcha. Reintegra quase 300 utentes excedentários da vaca marsupial pública e projecta reintegrar outros tantos. Anuncia mais uma reversão - a reforma do sector das águas. Porquê? Porque sim.

Também continuamos com farsa da cruzada anti-sanções por défices excessivos, mas não é certo que a farsa se não transforme em tragédia porque a maioria dos ministros das Finanças não parece estar pelos ajustes de ir na conversa dos afectos, como o ministro das Finanças finlandês.

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