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01/01/2017

ACREDITE SE QUISER: A ascensão do czar de todas as Rússias

«Russia, Iran and Turkey Meet for Syria Talks, Excluding U.S.». Há 8 anos, este título do NYT, em particular a sua parte final, seria impensável. Como seria impensável a claríssima interferência da Rússia nas eleições americanas e ainda mais impensável um presidente eleito dos EU desautorizar os seus serviços secretos por terem evidenciado essa interferência.

E, igualmente impensável, Putin reduzir a pó, desvalorizando-a, a decisão de Obama expulsar 35 “diplomatas” russos, como retaliação à intrusão russa no partido Democrata. ao corrigir a resposta do seu ministro dos Negócios Estrangeiro, que anunciara a expulsão de 35 diplomatas americanos, e anunciar por seu turno que a Rússia «não iria rebaixar-se ao nível da diplomacia irresponsável de cozinha» e aguardaria pelas políticas da nova administração americana.

Só não podemos creditar todos estes sucessos ao Maquiavel de São Petersburgo porque teve a preciosa ajuda de um Obama pusilânime e de uma Europa amolecida pelo conforto e sedada pelos apparatchiks. Na verdade, o que faz a força crescente do urso russo empobrecido e doente é a crescente fraqueza e a descrença nas ideias do ocidente democrático minado pelo multiculturalismo e o relativismo moral.


Como escreveu Henry Porter na Vanity Fair («Is Putin’s master plan only beginning?»), «o que nos diz que mudámos para uma era inteiramente nova é que Putin escapou impune a tudo. Barack Obama manteve sua posição depois da intrusão no partido Democrata e Trump acabou a criticar o serviço de espionagem americano e a defender um ex-agente do KGB. Agente que, não por acaso, compartilha o nome Vladimir com Lenin. Para Putin, deve ter sido um momento delicioso. Passados 27 anos da queda do Muro de Berlim e veja-se onde estavam então os dois homens: Trump vivendo na Trump Tower e ainda promovendo «The Art of the Deal»; Putin era o segundo oficial no posto avançado do KGB em Angelika Strasse, na cidade de Dresden no leste alemão. Enquanto o Ocidente capitalista crescia, o mundo de Putin desmoronava. O KGB foi expulso da Alemanha Oriental, os exércitos soviéticos retiraram-se da Europa de Leste e, em seguida, o ex-espião supérfluo do KGB teve de testemunhar a desintegração da poderosa URSS. Deve ter sido surpreendente para ele, anos mais tarde, testemunhar uma Europa à beira do colapso. E manipular as eleições dos EUA, enquanto Trump o defende contra a CIA que ele combateu toda a sua carreira como espião. Mas em 2017 pode ter um prémio ainda maior. Se União Europeia se desintegrar e Trump desestabilizar a aliança da NATO, a Rússia de Putin terá a Europa onde a quer e deixará de existir uma união que ele não pode controlar: o funcionamento das democracias da Europa Ocidental, cujo exemplo ameaça o governo de Putin na Rússia, será fatalmente afectado. Isso será uma reviravolta ainda maior.»

1 comentário:

Unknown disse...

A nível pessoal, a diferença entre um estadista (ia-me deslizando a tecla para Czar) e um pobre "entertainer", sub-produto hollywoodesco, objecto de uma colossal campanha publicitária da Esquerda Global, Inc.
que nem o mercado "doméstico" conseguiu convencer.
Talvez tenha sido a vacina contra multiculturalismos,discriminações positivas,relativismos culturais,hate-laws e outras vigarices sortidas que levaram os Estados (por enquanto)Unidos aoponto em que estão.
Quanto a esta península da Ásia, podem ser muito boas notícias : a Igreja Ortodoxa, em "harmonia espiritual" com o Kremlin, tem uma forma suave, dialogante e infinitamente compreensiva de lidar com o terrorismo islâmico.
Em boa verdade , com qualquer forma de terrorismo...Claro que algumas, poucas , "minorias" terão de rever , nalguns casos por completo, o seu "modus vivendi"...
Tempos interessantes nos aguardam , com uma europa desarmada (excepto o Reino Unido, claro, mas esses já começaram a tomar medidas ), sem o chapéu de chuva americano ( que as esquerdas "execravam") face a uma Rússia eterna que nem precisa de se mexer para intimidar.
Basta-lhe existir...E,segundo dizem as más línguas, profundamente anti-comunista.