Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

19/03/2024

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (109b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 109a)

Parece mentira mas deve ser verdade 

Há mais de um ano que os dois sindicatos dos funcionários da Justiça fazem greves alternadas umas com e outras sem serviços mínimos, greves que totalizam quase 24 horas diárias e adesões de 70% a 90% (semanário de reverência). 

Como até agora não se deu conta que os tribunais estivessem a funcionar pior do que já estavam, se isso fosse possível, poderemos concluir que poderiam funcionar com apenas 10% a 30% do número de funcionários?

A justiça portuguesa ainda não conseguiu apurar se os milhões do animal feroz vieram do cofre de sua mãe, do DDT, da Odebrecht ou outro

Talvez devido à greve, o Ministério Público anda sem sucesso há mais de uma década a procurar quem é “Príncipe” que recebeu quase 5 milhões de euros de luvas pela adjudicação em 2008 da construção da barragem do Baixo-Sabor ao consórcio de que fazia parte uma subsidiária da ODEBRECHT, grupo brasileiro creditado com o maior esquema de corrupção de todos os tempos. Por enquanto vão-se “extraindo certidões”.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

O Estado sucial administrado pelos apparatchiks socialistas deve ser uma das poucas organizações em todo o mundo que quanto mais recursos tem mais carências apresenta e pior funciona. Os técnicos do PlanAPP (don’t ask) do ministério da Saúde concluiu que o SNS que em 13 anos passou de 122 mil para 152 mil profissionais ainda precisará de mais 29 mil.

O Dr. Centeno está a trabalhar para melhorar o bem-estar dos portugueses

Deve ser um pouco humilhante para a máquina de agitprop socialista ver interrompidos os anúncios os amanhãs que cantam e ser confrontada todos os anos com gráficos, como o abaixo, que mostram os portugueses cada ano a caírem mais nos ranking do PIB per capita, do crescimento e dos salários.

mais liberdade

E daí justificar-se plenamente, aproveitando o Dr. Centeno, agora liberto das cativações e em esforço promocional, encontrar um indicador alternativo que mostre como os portugueses afinal são felizes e vivem bem. E daí resultou o trabalho «Bem-estar e PIB per capita em Portugal face à UE», publicado no Boletim do BdP, concluindo que usando o “índice de bem-estar”, onde se considera além do PIB per capita, o consumo, o tempo de lazer e a desigualdade, Portugal sobe quatro lugares no ranking de 20.º para 16.º. Com uma semana de três dias e mais facilidades no crédito ao consumo o Portugal do Dr. Centeno poderá aspirar a subir mais uns lugares.

18/03/2024

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (109a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Um marciano que lesse os jornais concluiria que quem perdeu as eleições foi a AD

A esquerda tinha 130 deputados agora reduzidos a 91, a que se poderão somar talvez 1 ou 2 do estrangeiro que ainda faltam apurar. São menos 39 deputados ou menos 43%. Quando o número de eleitores aumentou 14%, o PS perdeu 480 mil votos ou 22% e 40 deputados, caindo de uma maioria absoluta de 117 para 77 apenas dois anos depois. O PCP perdeu 34 mil votos e dois deputados e o BE manteve o número de deputados aumentando 34 mil votos. O Livre que se converteu em centro-esquerda lá escapou ao temporal com quatro deputados e 200 mil votos. A isto os optimistas costumam chamar desastre e os pessimistas catástrofe.

A esquerdalhada já conhece o programa e a composição do governo AD

Ainda não se tem a certeza de quem será o novo governo, muito menos se conhece o seu programa e composição e já o PAN informa o Dr. Marcelo que não aprovará «um programa que põe em causa» os direitos das mulheres, o PCP anuncia, com o peso da sua representatividade agónica, que apresentará uma moção de rejeição, no que foi secundado pela Dr.ª Mortágua (a neta da sua avó) que garantiu que o Berloque de Esquerda não viabilizará o executivo.

O PS é como aquela prostituta velha…

Segundo as conclusões de uma sondagem à boca das urnas, o PS, que continua o partido mais votado entre os reformados, foi apenas o terceiro no escalão etário 18-34 anos com pouco mais votos do que a IL. Muito passado, pouco presente e não se sabe se tem futuro.

A máquina de propaganda do PS continua a girar até ao último suspiro

Três dias antes das eleições o governo publicou um “projecto de portaria” anunciado em vários jornais com títulos fabricados no mesmo local. Exemplo do Público (ou Avante! do grupo Sonae): «Governo decide aumentos de 7,89% para 104 mil trabalhadores do privado» (outro exemplo do Eco).

Não é extraordinário um governo tão amigo dos trabalhadores que anuncia com antecedência que obrigará os seus patrões a aumentá-los vários pontos percentuais acima da inflação, se o governo seguinte aprovar a portaria cujo projecto o governo actual divulgou? É tão mais extraordinário que por trás desta linguagem cabalística está o expediente das chamadas «portarias de extensão» pelo qual, como expliquei a propósito do expediente de 2023, os contratos colectivos negociados pelos sindicatos (controlados pelo PCP) que representam 10% dos trabalhadores têm influenciado 90% dos contratos de trabalho, em empresas e sectores sem condições para pagarem a bitola das maiores empresas e continuarem competitivas. A salva de notícias, que o ano passado foi bem mais vasta. este ano perdeu-se no meio da campanha e dos resultados.

O desaforo do Dr. Costa não conhece limites

As «legislaturas devem-se cumprir» prescreveu o Dr. Costa que tem no seu activo três governos em oito anos e uma demissão a pretexto do seu chefe de gabinete guardar uns dinheiros no armário.

(Continua)

17/03/2024

Não sei se o Chega vai ou não desaparecer como o PRD. Sei, contudo, a razão por que resistirá mais do que o PRD

A propósito deste comentário de João Miguel Tavares no Público, que atribui a suposta resiliência futura do Chega à distribuição relativamente homogénea do seu eleitorado, ao contrário do PRD e na verdade diferentemente de todos os outros partidos, com a possível excepção do PS, eu diria que falta explicar a que se deve essa homogeneidade, que a meu ver se deve ao que há dias escrevi para um grupo de amigos.

Os votos do Chega são os votos do ressabiamento de ressentidos com o Estado sucial, por muitas e variadas razões, a maior parte compreensíveis. 

Algumas delas são generalizadas (uma descrença na democracia, como o pior dos regimes, com excepção de todos os outros, como disse Churchill, ou a rejeição das ideologias de identidade do género, etc.) e outras domésticas (como o novo situacionismo do PS e as suas consequências).

Assim se compreende que o Chega tenha tido 21% em Beja (concelho historicamente comunista), 17,5% em Valpaços (um dos 3 ou 4 concelhos mais pobres de Portugal) e 11,6% em Oeiras (concelho com maior percentagem de licenciados e a segunda média de rendimentos), ou seja, resultados não muito diferentes porque o Chega é um partido catch-all e onde não há ressentidos pela pobreza e por abandono capturam os ressentidos ideológicos.

E por falar em não desaparecer acrescento que o Chega irá desaparecer um dia, não como o PRD, nem a um prazo tão curto, mas porque todos os partidos um dia desaparecem quando desaparecem as causas que os justificam.

16/03/2024

Imigração. A maneira mais barata de aprender é com os erros dos outros

A Suécia foi durante décadas um país de baixa violência. considerado dos mais seguros em todo o  mundo, com uma política de imigração aberta e quase irrestrita, sobretudo para refugiados políticos ou para quem se apresentasse como tal, que levou a imigração da primeira ou segunda geração a representar cerca de 20% da população residente.

Nos últimos anos a violência tem vindo a aumentar e o número de mortos por arma de fogo é actualmente 0,6 por 100 mil habitantes, o terceiro índice mais elevado da Europa, o triplo dos Países Baixos, da Itália e da Croácia e quatro a cinco vezes o índice da Suíça, Áustria, Irlanda do Norte, Espanha e Eslovénia. A maior parte dessas mortes violentas na Suécia está associada a rivalidade entre gangues, na sua maioria compostos por imigrantes, a maior parte muito jovem.

Esses são os factos pelos quais, como seria de esperar, a direita que está no governo atribui a responsabilidade aos sociais-democratas que governaram entre 2014 e 2022, e a esquerda atribui a responsabilidade aos apoios insuficientes e às falhas na integração dos imigrantes das políticas da direita.

Lá, como cá, a ideologia escamoteia a natureza e dimensão dos problemas que a imigração coloca e as soluções variam entre as políticas de portas abertas e as políticas de portas fechadas. As primeiras inspiradas numa mistura de pensamento milagroso com o secreto desígnio de subverter a "ordem estabelecida" e as segundas inspiradas no preconceito e no menos secreto desígnio de manter a "pureza da raça", desígnio que no caso sueco faz pouco sentido e no caso do Portugal dos Pequeninos, provavelmente o maior caldo étnico da Europa, é apenas ridículo. E estamos nisto.

[Reflexões avulsas a propósito desta peça jornalística]

Se os factos contradizem a opinião ou a doutrina, resta mudar a opinião ou a doutrina

Henrique Raposo (HR) e Pedro Tadeu (PT) têm em comum dizerem-se jornalistas, apesar de escreverem ambos comentário político, e abominarem o Chega. Quanto ao resto, parecem diferentes em quase tudo, o primeiro escreve no Expresso e assume-se de direita e o segundo escreve no Diário de Notícias e assume-se de esquerda (aparentemente PCP).

Entre as muitas coisas em que ambos não concordam uma delas é que HR atribui uma parte significativa do crescimento do partido do Dr. Ventura ao «povo (que) deu a sua força ao PCP e agora está a alimentar o Chega». Respondendo à pergunta retórica «O Chega veio substituir o PCP?» que faz no título da sua peça no DN, PT discorda liminarmente e mostra, baseado nos números de eleitores de ambos os partidos nos distritos de Lisboa, Setúbal, Évora e Beja, que representam no conjunto mais de metade dos votos do PCP, serem os ganhos do Chega muitíssimo superiores às perdas do PCP e, portanto, a tese de HR não tem pernas para andar.

Moral da estória: 

(1) O facto de se estar geralmente errado não significa que não se possa estar certo;

(2) O facto de se estar geralmente certo não significa que não se possa estar errado;

(2) Não fazendo sentido mudar os factos (a não ser para os adeptos da doutrina da pós-verdade e dos factos alternativos), resta mudar a opinião ou a doutrina.

15/03/2024

A ciência de causas ambientalistas e os montados

Li aqui que o relatório final grupo de trabalho nomeado pelo ministro do Ambiente «com vista a avaliar as medidas de proteção de espécie protegidas, como os sobreiros e azinheiras, conclui agora ser necessário o "aumento das áreas de compensação por abate, bem como a exigência de uma garantia bancária, entre outras medidas, tendo em vista uma maior eficiência nestes processos". (...) As recomendações do grupo de trabalho surgem na sequência dos protestos em relação à autorização do abate de mais de 1.800 sobreiros no Alentejo para construir o parque eólico de Morgavel, em Sines».

Acendeu-se-me o desconfiómetro no hipocampo por que algures no córtex ou no subcórtex algo me dizia que os montados de sobreiros e azinheiras não estavam ameaçados e, a ser assim, esta coisa de exigir garantias bancárias e o triplo da área de compensação seria um completo absurdo. Como a minha ciência neste domínio é praticamente inexistente e me lembrava vagamente de ter lido algo sobre este tema, fui procurar.


Fui procurar e encontrei o post Factos e mitos sobre florestas em Portugal de Henrique Pereira dos Santos, que sabe certamente mais do tema a dormir do que este vosso escriba acordado, post para o qual remeto e do qual extraí o gráfico acima que, só por si, ilustra o estado em que se encontra a ciência de causas ambientalistas aninhada no colo do governo socialista e, suspeito, no colo dos governos do PS-D.

14/03/2024

Mitos (334) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (14) - Os efeitos delirantes do mito na mente dos crentes

Outros mitos sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres

Faço uma pausa no tratamento "sério" deste tema nos posts desta série para mostrar os efeitos delirantes deste mito.

Desde 2002 o Eurostat vem publicando anualmente dados sobre a chamada "disparidade salarial" para um número crescente de países membros. Os dados de 2022 acabam de ser publicados no quadro «Gender pay gap in unadjusted form». Como seria de esperar e tenho vindo a salientar desde o primeiro post desta série, estes dados não se referem às diferenças salariais atribuíveis ao sexo, visto que não têm conta as diferentes funções desempenhadas por homens e mulheres, como ressalta da definição do indicador
«O indicador mede a diferença entre os rendimentos horários brutos médios dos trabalhadores remunerados do sexo masculino e dos trabalhadores remunerados do sexo feminino como percentagem dos rendimentos horários brutos médios dos trabalhadores remunerados do sexo masculino. O indicador foi definido como não ajustado, porque dá uma imagem global das desigualdades de género em termos de remuneração e mede um conceito que é mais amplo do que o conceito de salário igual para trabalho igual.»
Em consequência, o indicador não mede a desigualdade salarial mas a desigualdade de funções ainda hoje influenciada por factores sociais e culturais que estão a mudar há uma geração mas que ainda não se reflectiram completamente nos papéis desempenhados no mundo do trabalho por várias razões, incluindo pela "divisão do trabalho doméstico" que também está em mudança.

Baseado nestes dados, o Jornal Eco produziu uma peça onde assumindo que a disparidade salarial «irá reduzir-se ao ritmo dos últimos dez anos» conclui que o céu será atingido em 2071. Tendo em conta que essa conclusão se baseia num indicador enviesado, como referi, e numa premissa  completamente arbitrária, ocorre-me um termo muito usado nas tecnologias de informação GIGO (garbage in, garbage out) ou, em linguagem vernacular, se entra caca, sai caca. O que me leva a concluir que este é mais um domínio onde a ideologia subverte os factos e a lógica, constituindo aquilo que chamamos no (Im)pertinências ciência de causas cujas conclusões são publicadas pelo jornalismo de causas e aproveitadas por bandos de fazedores de opinião para gáudio de uma legião de crentes.

13/03/2024

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (6)

 Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5

Outro post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante, recordando que os factos que fundamentam a demolição foram amplamente estudados e documentados no livro de Nuno Palma (NP) e nas dezenas de trabalhos de investigação que publicou (cfr o seu Research output).

"As causas ..." já vai na 5.ª edição, no total de 20 mil exemplares o que no Portugal dos Pequeninos parece um número muito significativo e raramente atingido, sobretudo num livro de ensaio.

No post anterior referi o tema da expulsão dos Jesuítas por Pombal, tema que se confirmou tocar no nervo das elites domésticas com as mentes mais infectadas pelo pensamento de esquerda (se é que nos tempos actuais se podem juntar as duas palavras), a quem o estatismo centralista e autocrático de Pombal na educação e no resto fascina.    

O certo é que, como NP amplamente demonstra, na educação em Portugal há um antes e um depois de Pombal. Em 1759 quando Pombal expulsou os jesuítas estes ensinavam cerca de 20 mil estudantes num grau equivalente ao actual secundário. Para se ter um ideia do impacto dos jesuítas, os 20 mil estudantes comparam com os 400 mil do ensino secundário de hoje com uma população residente 3 ou 4 vezes superior e uma escolaridade incomparavelmente mais elevada do que a de então.

O impacto foi tão forte que no período entre 1724 e 1771 a universidade de Coimbra teve uma média anual superior a 2.800 matrículas, contrastando com um período equivalente entre 1772 e 1820, depois da reforma de Pombal, no qual a média anual de inscrições caiu para cerca de um sexto do período anterior.

(Continua)