Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
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22/10/2003

Avaliação contínua: indizíveis, bastonadas e Felicidade Nacional Bruta.

Secção Tiros nos Pés
No seu discurso de ontem o Presidente da República sentiu-se obrigado a dizer, a propósito da novela Casa Pia, que apesar de poder dispor de toda a informação necessária e legítima e de se relacionar com todos os órgãos do Estado e seus titulares, nós que o reelegemos sabemos que nunca iria usar tal informação ou aproveitar tais relações para fins menos legítimos.
A que propósito o disse, se ninguém ainda insinuou interferências suas nesta novela, apesar das suas relações de 30 anos com o Dr. Ferro Rodrigues e de alguns anos com o Dr. Paulo Pedroso?
Disse o indizível e deixou-nos a todos a pensar porque o terá feito.
Três chateaubriands pelo seu despropositado protesto de inocência.

Não querendo deixar escapar a oportunidade de ser solidário com o seu colega Dr. Jorge Sampaio, o Dr. Júdice na sua entrevista de ontem à RTP, disse outro indizível, ainda mais indizível para um bastonário da Ordem dos Advogados: O senhor procurador-geral tem de pôr termo a isto, ou então alguém tem de pôr termo ao procurador. É tão simples como isto.
Isto não é um estado de direito, é um estado de confusão.
Cinco chateaubriands para o Dr. Júdice pelas suas bastonadas.

Secção Sol na eira e chuva no nabal
Enquanto as nossas luminárias se ocupam da novela Casa Pia, um relatório da Standard & Poor’s informa-nos que o endividamento das empresas portuguesas duplicou entre 1995 e 2002, atingindo no ano passado 92% do Produto Interno Bruto. Naquele pequeno país, chamado Irlanda, povoado ainda não há muitas décadas por esfomeados comedores de batata, o mesmo índice, no mesmo período, passou de 55 para 65%.
Pior do que isso, e ainda não dito por nenhum relatório, é a Felicidade Nacional Líquida ter descido do seu clímax de 1998, em pleno consolado do Sr. Eng. Guterres, para o presente nível negativo.
Diz a minha amiga Doutora Ana, formada na Sorbonne em Psicologia Clínica, se não podemos ser ricos, ao menos que sejamos felizes.
Três chateaubriands para ela, que ainda não percebeu que, se o dinheiro não dá a felicidade, pelo menos suaviza as agruras da infelicidade.

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