Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/12/2003

BLOGARIDADES: Que o próximo não seja um annus horribilis como o que agora fecha para saldo.

Estamos quase no fim deste annus horribilis, é altura de felicitar os leitores persistentes ou acidentais (mais os primeiros do que os segundos) pelo privilégio de frequentarem o Impertinências - provavelmente o melhor blogue em língua portuguesa.
Façam votos para que no próximo ano o Impertinente continue com pachorra para alimentar o Impertinências, esta besta insaciável.

ESCLARECIMENTOS (para quem esteja distraído e pense que o Impertinente 1º acredita no que escreveu, 2º é um picareta, cheio de poses e sem auto-ironia, e 3º é, por isso, igual a todas essas luminárias enfunadas que povoam a Bloguilha):

a) O Impertinente é um picareta, com poucas poses, capaz de se rir de si próprio, e não é igual a todas essas luminárias enfunadas, porque algumas delas são realmente notáveis.

b) Melhor blogue em língua portuguesa é talvez um exagero. Provavelmente o melhor dos começados com “I” e inseridos em 26 de Setembro no PtBloggers.

DIÁRIO DE BORDO: Não esperemos demais de Alá quando os chefes dos fiéis são incompetentes e corruptos.

Porquê os sismos de Bam no Irão e de Paso Robles na Califórnia, com poucos dias de intervalo e praticamente a mesma intensidade, tiveram efeitos tão radicalmente diferentes?
Será que Alá abandonou os seus fiéis? Talvez não. Mas há dúvidas quando olhamos para os chefes que lhes enviou.
Veja a resposta de David Aaronovitch citada por O Intermitente - uma fonte constante para quem já não tem pachorra de procurar agulhas nos palheiros do politicamente correcto.

ESTÓRIA E MORAL: O homem doente da Europa.

Estória
Um relatório do Eurobarómetro, bastante citado na imprensa, mostra que 38% dos portugueses sofrem de reumatismo ou artrite, 22% de hipertensão e 10% de diabetes, o que perfaz a bela percentagem de 70% de portugueses que se queixam destas maleitas graves. Se adicionarmos as restantes maleitas graves, provavelmente ultrapassaremos os 100%, mas claro que há portugueses avaros que poderão ter simultaneamente várias doenças graves. Esta performance é absolutamente notável comparativamente com a maioria dos outros países da União Europeia.
Um outro estudo da Fundação de Ciência e Tecnologia, também citado na imprensa, conclui que 36% das crianças portuguesas entre os 7 e os 9 anos têm excesso de peso, o que parece afastar a fome como factor explicativo da morbidez dos portugueses.
Disse-me Alf, o melmaciano que abanca no sótão dos Tanners, is that so with Portuguese people? They should be healthy enough to suffer so much disease.

Moral
Não é de agora o mal que não melhora (ditado popular)

30/12/2003

HISTÓRIA E MORAL: Ainda a missão dos pastéis de nata.

Estória
Do meu amigo Zé Agostinho recebi a seguinte correcção e adenda à AVALIAÇÃO CONTÍNUA de ontem,
Os rapazes ficaram indignados quando souberam que os seus soldos eram passíveis de IRS.
A avaliar pela informação divulgada pela CNN, que listava todas as tropas aliadas (que incluem por exemplo a Albânia e a Macedónia ) Portugal não consta da lista! Sabemos agora que estão como seguranças do "Ministério da Adm. Interna" de um qualquer país.
Provavelmente a missão começa e acaba dentro das 4 paredes do quartel onde estão instalados, sem nunca terem ido á rua.


Moral
O ridículo é mais mortal do que as balas do inimigo.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A missão dos pastéis de nata.

Perguntas impertinentes
Lê-se e não se acredita. Os magalas da GNR ofereceram-se para ir trabalhar no ofício deles para o Iraque, numa missão resultante de um compromisso internacional dum governo legítimo do país deles, numa zona de menor risco, ao colo de outras tropas mais à séria, que por lá já se encontravam. Mães e namoradas choram no ombro dos média e da oposição, governo dá-lhes pastéis de nata para a viagem, tentar servir-lhes bacalhau e bolo-rei na consoada, promete-lhes promoções quando voltarem. Os rapazes convertem-se em vedetas do Big Brother e desdobram-se em declaração aos média, o ministro da Administração Interna vai ver se estão todos bem, e volta preocupado com o estresse que os rapazes sofrem, resolvendo diminuir a duração da missão de 6 para 4 meses.
Alguém já lhes disse que os pais deles foram entrouxados, sem refilar, entre 18 ou 24 meses numa guerra sem sentido, tentativa, falhada antes de começar, de prolongar um colonialismo retardado e bolorento, com um equipamento obsoleto, em condições muitas vezes abjectas, num clima mau até para os macacos?

Chateaubriands, ignóbeis e urracas à discrição, respectivamente para o governo, a oposição, e os magalas.

Esclarecimento:
Escrevi pastéis de nata e não pastéis de Belém, como os média referiram, porque, como todos sabemos, o presidente da República, que tem lá casa perto, só relutantemente aprovou a missão.

29/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: Como atrair as juventudes ao redil.

Leio nos jornais que a JSD – os yuppies do PSD – estão a atrair prosélitos oferecendo-lhes a opção entre uma cervejola e um chóte de vodca. Um amigo purista da política telefonou-me inflamado: é uma vergonha. O quê? A cervejola? O chóte?, perguntei. Seja o que for, respondeu ele. Não tenho a certeza, disse eu.
A coisa poderia até ser adoptada pelas outras juventudes. A JS podia oferecer um almoço de desagravo com a família Soares, a juventude bloquista um aborto, o JC uma viagem de estudo à Coreia do Norte e, já agora, a JP (não sei se é assim que se chamam os Queques de direita do doutor Portas) um lugar de amarração na marina de Cascais.

28/12/2003

BLOGARIDADES: Upgrade d'O Meu Pêpê (1).

aqui e aqui tinha prometido começar a esboçar a réplica virtual do Abrupto, a que chamei O Meu Pêpê. De boas intenções está o inferno cheio, quanto mais das más, como esta.
Mas ontem o Abrupto proporcionou-me uma oportunidade imperdível ao pôr em dia o serviço de etiquetas do museu. Nada menos de 11-onze-11 naturezas mortas, paisagens, retratos, etc., pendurados nas duas últimas semanas foram identificados em batch.
Isso nunca aconteceria n’O Meu Pêpê. N’O Meu Pêpê, das duas uma: ou as etiquetas são colocadas online e real time ou será realizado um concurso entre os utentes do blogue, sendo declarado vencedor o utente que acertar mais etiquetas (uma etiqueta vale um ponto). Em caso de empate, as naturezas mortas valerão dois pontos. Se ainda assim persistir o empate, as naturezas mortas com queijos valerão três pontos. Se não houver naturezas mortas com queijos, terão as flores os três pontos.
O utente vencedor terá direito a publicar num post d’O Meu Pêpê um poema da sua autoria. Se não tiver competências poéticas, poderá publicar uma composição em prosa, com o máximo de 500 caracteres, sobre o Piton de la Fournaise.
Post Scriptum:
Reparo agora que JPP abomina a palavra utente. Apresso-me a substituí-la por utilizador.

27/12/2003

BLOGARIDADES: Ressurreição.

Quando foi anunciada a morte do Cataláxia escrevi aqui:

Não há desculpas para liquidar um blogue impertinente. Não há nenhuma tese de doutoramento que o justifique. É uma desistência sem perdão.

Pois bem, ei-lo de volta uns dias antes do Natal, de pantufas, com o marmanjo do Sean e a marafona da Kathleen, apenas para aquecer os butes e entrar a matar no tema aborto no dia seguinte ao Natal.
Estás perdoado, pá. Volta sempre.

DIÁRIO DE BORDO: O colectivismo em altura.

Não tenho uma opinião definitiva sobre a construção em altura. Nuns casos parece-me uma agressão à paisagem e ao ecossistema urbano, noutros não. Mesmo que fosse pecado, a ausência de pecado não faz a virtude, como se pode ver pelas monumentais devastações urbanas que as nossas cidades são com os seus prédios de 2 ou 3 andares amontoados anarquicamente.
Mas não é isso que está em causa com a recente polémica dos 35 andares das torres de Alcântara que a actual câmara pretende autorizar contra a oposição que, quando foi executivo, autorizou os 28 andares do World Trade Center alfacinha em Sete Rios.
O que está em causa é a cultura política lusitana presente em qualquer dos partidos que povoam a cena política que têm sempre diferentes critérios para avaliar o nós e o eles.
Não admira, diz a minha amiga doutora Ana, antropóloga nas horas vagas, pois uma das dimensões dominantes na cultura lusa é o colectivismo, o espírito de grupo (família, amigos, clube, partido, etc.) que leva o português a ter dois pesos e duas medidas com a maior naturalidade, sem mesmo se dar conta.

26/12/2003

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A diferença fundamental não é óbvia (outra vez) seguido de É melhor não perguntar.

Intróito
Talvez ainda por efeito das rabanadas, continuei as minhas leituras da Única. Desta vez da semana seguinte, isto é da passada. Pousei na Crónica Feminina de Inês Pedrosa e na Pluma Caprichosa de Clara Ferreira Alves, duas senhoras suportavelmente feministas e politicamente correctas, cuja produção croniqueira frequento regularmente, não digo com o prazer que leio o João Pereira Coutinho, mas também sem o esforço (que não faço) para ler o inefável doutor Eduardo Prado Coelho.

Secção George Orwell
Na crónica “Donas de casa e donos do mundo”, Inês Pedrosa protesta contra “a publicidade dos brinquedos (que) continua na Idade das Trevas do Sexismo Absoluto” impingindo action men aos meninos e barbies às meninas, cavando assim pela educação a maldita divisão de géneros, coisa que, como todos sabemos, só existe por via da mente depravada dos criativos e dos copywriters.
A nossa Inês descobre, mais adiante, a propósito da homossexualidade, que “a orientação sexual não se define através da educação”. Ficamos a saber que um rapaz homossexual, que talvez brinque com barbies até aos 12 anos, nasce homossexual, mas um rapaz heterossexual, talvez nasça heterossexual, mas só brinca com action men depois de sofrer a lavagem ao cérebro.
Poupo a prosa, remetendo para o post impertinente A diferença fundamental não é óbvia?
Dois chateaubriands para Inês Pedrosa, ficando três de reserva para o caso de manter o seu ponto de vista, depois de ter dois ou três filhos de cada género (talvez um bastasse, mas as probabilidades da genética pregam-nos partidas).

Secção Perguntas impertinentes
Em “O ser português” a Pluma Caprichosa expressa o seu desgosto, horror, desprezo por este país merdoso afundado em escândalos de pedofilia, onde a riqueza sem vergonha convive lado a lado com a medonha pobreza, os telejornais rascas são o reino da estupidez, a miséria espiritual do novo-rico enche as revistas cor de rosa.
Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país, conclui a Pluma, revelando a sua costela kennedyana.
É caso para perguntar, porquê tanto as elites como a choldra só fazem a primeira pergunta?
Dois afonsos para a doutora Clara, que, apesar de não ter respondido a esta pergunta, ainda assim mostrou que está aonde não devia estar.

Post scriptum:
A propósito da Pluma Caprichosa, vou aviar O’Neill nos próximos 10 écrans:
Estou aonde não devia estar
Estou no grande medo instintivo de minha mãe

...

Nota do editor:
O Impertinente, que tem uma fixação no Abrupto, pediu para publicar na sua ausência este post. Cortei o resto do poema, porque era só para mostrar erudição e não adiantava nada.
Assinado
Gordon Shumway

25/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: Parábola hiperbólica do Bem Mandado.

Preparava-me para resistir heroicamente ao Natal e ao seu cortejo de rendições ao consumo e a outros valores decadentes (reflexões xaroposas sobre «a vida», «intimismo», «confessionalismos fúteis»), devidamente fortalecido com o exemplo d’A Praia, quando tomo conhecimento por email de Ivan Nunes que faltava um aqui na sua frase parcialmente citada ali. Esse aqui reduziu a esplêndida resposta metafísica e radical d’A Praia, por mim imaginada, a uma trivial auto-ironia e a um confessado baquear às rabanadas, aos presentes e às xaropadas em geral.
Perdido o exemplo, deixei-me, também eu, sucumbir alarvemente. Espreitei para dentro dos embrulhos dos presentes, mergulhei nas rabanadas, atulhei-me de farófias e filhoses.
Como sempre acontece no final das libações, as minhas raízes judaico-cristãs trouxeram, com a digestão agitada, a culpa e o remorso. Envergonhado, escondi-me num sofá, peguei distraidamente num exemplar da Única (o 327º anexo do semanário do saco de plástico), fingi que estava a ler e afundei-me numa soneca, embalado pela ensurdecedora algaraviada dos impertinentes mais pequenos.
Quando acordei pousaram-me os olhos na página aberta - a nº 36. Um nome familiar irrompeu da floresta de letras desfocadas. Procurei os óculos caídos. Lá estava: LARGO DO LEÃO. Tratava-se dum artigo sobre o pediatra Gomes Pedro que, fiquei a saber, tinha andado na escola primária do Largo do Leão, precisamente a mesma onde, uns anos depois do pediatra, aprendi quase tudo o que interessa. Aprendi a fazer contas de cabeça, a ler e, um grande e, a escrever, com esforço, mordendo a língua e molhando o lápis, mas a escrever. Com um pequeno exagero, direi até, quero dizer escreverei, que o Impertinente nasceu para as letras no Largo do Leão e que as Impertinências encontram lá as suas raízes.
Ainda mal refeito da soneca, flutuando no limbo da semiconsciência, passeei a preguiça do sofá para o escritório e lá fui dar a minha volta pela Bloguilha. Varei n’A Praia para confirmar o aqui. Lá estava. Não sou o único pecador, pensei aliviado. Deixei-me arrastar pelos ventos e atraquei no cais do Armazém de Artes e Letras do Abrupto. Procurei o presépio pendurado. Não estava. Em vez do presépio, uma natureza morta. Mergulhei por entre posts, que no dia 23 foram numerosos, até ser atraído pela BIBLIOFILIA 6 - uma referência, inevitavelmente erudita, ao ensaio de Eduardo Pitta A Fractura. A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea, onde, pelos vistos, a voz dos pederastas na literatura se apresenta como uma “ética da desobediência”.
Alguma sinapse freudiana no cérebro impertinente ligou a “ética da desobediência” ao Largo do Leão.
Foi também lá, no Largo do Leão, que me iniciei no sexo. Não na prática do mesmo, que a idade não permitia, mas na introdução à sua teoria infantil, por assim dizer.
Foi ainda lá, na Escola Primária nº não sei quantos, que, pela primeira de muitas centenas de vezes nos anos seguintes, ouvi um daqueles garotos “de pé descalço” como recordou o pediatra, mandar imperativamente uma das pequenas criaturas que povoavam a nossa aula da 2ª classe: “vai levar no cu”. Essa pequena criatura cresceu e, por uma improvável e inexplicável coincidência (feliz? Infeliz?), algures na adolescência, se não antes, começou obedientemente a cumprir o imperativo mandato. Tão bem o fez, que passou a ser conhecido por o “Bem Mandado”, em homenagem a esse episódio remoto.
Foi por isso que a alusão do Pitta, citada pelo Abrupto, à “ética da desobediência” a propósito dos pederastas, na literatura portuguesa ou em qualquer outro lugar, me pareceu, ainda mal refeito da soneca agitada pela digestão das rabanadas, completamente infundada.

24/12/2003

LOG BOOK: Politically correct season greetings to you all.

Dear Friends
From us ("the wishor") to you ("hereinafter called the wishee"), please accept without obligation, implied or implicit, our best wishes for an environmentally conscious, socially responsible, politically correct, low stress, non-addictive, gender neutral, celebration of the winter solstice holiday, practiced within the most enjoyable traditions of the religious persuasion of your choice, or secular practices of your choice, with respect for the religious/secular persuasions and/or traditions of others, or their choice not to practice religious or secular traditions at all... and a financially successful, personally fulfilling and medically uncomplicated recognition of the onset of the generally accepted calendar year 2004, but with due respect for the calendars of choice of other cultures or sects, and having regard to the race, creed, colour, age, physical ability, religious faith, choice of computer platform or dietary preference of the wishee. By accepting this greeting you are bound by these terms that:
(i) This greeting is subject to further clarification or withdrawal
(ii) This greeting is freely transferable, provided that no alteration shall be made to the original greeting and that the proprietary rights of the wishor are acknowledged.
(iii) This greeting implies no promise by the wishor to actually implement any of the wishes.
(iv) This greeting may not be enforceable in certain jurisdictions and/or the restrictions herein may not be binding upon certain wishees in certain jurisdictions and is revocable at the sole discretion of the wishor.
(v) This greeting is warranted to perform as reasonably may be expected within the usual application of good tidings, for a period of one year or until the issuance of a subsequent holiday greeting, whichever comes first.
(vi) The wishor warrants this greeting only for the limited replacement of this wish or issuance of a new wish at the sole discretion of the wishor
(vii) Any references in this greeting to "the Lord", "Father Christmas", "Our Saviour", or any other festive figures, whether actual or fictitious, dead or alive, shall not imply any endorsement by or from them in respect of this greeting, and all proprietary rights in any referenced third party names and images are hereby acknowledged.
(Courtesy of A.B.)

23/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: Comunicar é preciso.

Estória
Segundo o “Portugal Social” do INE, citado ontem pelo DN, os portugueses gastam em comunicações (telefone fixo, telemóvel, acessos Internet) quase tanto como gastam em saúde e TRÊS vezes o que gastam directamente em educação (excluindo, claro, o que gasta o Estado do bolso dos contribuintes). Uma boa parte dos 451 euros gastos por família em comunicações vai directa para o telemóvel.
Segundo o Censo 2001, a população residente era de 10.356.117 potenciais clientes TMN, Vodafone ou Optimus. Nos 10 anos anteriores a população tinha aumentado de 5,1%, ou seja aproximadamente 0,5% anuais o que poderia fazer supor, se (um se que depende mais da chegada dos brasileiros, ucranianos e outras almas que nos procuram, do que da produção dos casais portugueses, que, por razões várias, sofre de um défice de produtividade) se, dizia eu, se esse ritmo se tivesse mantido nos últimos dois anos, então haveria agora 10.459.937,1 potenciais clientes.
O número de utilizadores de telemóvel deveria ser no final do 3º trimestre praticamente 10 milhões.
Se (um se que depende neste caso bastante da falecida Dona Idalina, a minha professora da 2ª classe) for assim, teriam escapado, momentaneamente, incólumes aos assaltos dos operadores exactamente 459.937,1 potenciais clientes, ou seja 4,4% do total, isto é pouco mais de metade do n.º de crianças em idade pré-escolar.
Se admitirmos que cada português móbil gasta em média 30 m por dia a comunicar, isso perfaz cerca de 150 milhões de horas/mês para toda a comunidade móbil, ou seja talvez cerca de 20% das horas efectivamente trabalhadas pela população activa ("activa" é apenas um conceito estatístico e não implica nenhum juízo de valor).
Precisamos de saber mais alguma coisa para compreender a falta de produtividade lusitana? E não só a trabalhar, mas também no coiso – veja-se a população escolar no ensino básico que diminuiu mais de 300 mil alunos na última década.
Precisamos de mais informações para perceber a iliteracia epidémica dos gentios?

Moral
Entre falar e fazer, muito há que dizer (ditado popular, do tempo em que não havia telemóvel)

Post Scriptum:
Já depois de ter contado esta estória, li o jaquinzinho chamado Manipulações com Números do Jaquinzinhos, comentando, que é como quem diz, fritando, o artigo Um Quinto dos Portugueses Vive em Risco de Pobreza e Exclusão Social da Lusa estupidamente comprado pelo Público. Apanhando a boleia da manipulação, poderei acrescentar que somos o único país do mundo onde quase todas as almas que vivem em risco de pobreza e exclusão social dispõem de telemóvel? Possivelmente para ligar para a Lusa e o Público a dar conta da sua miséria.

22/12/2003

CONDIÇÃO MASCULINA: O homem como animal de companhia.

Concedo que este tema é pouco próprio da época natalícia, porque, inspirado pel’A Praia, resolvi passar ao largo das reflexões xaroposas sobre «a vida», etc. Será que podemos chamar a isto uma guinada à esquerda do Impertinente? Aqui fica a pergunta para o Pai Natal.
Sempre defendi a interpretação extensiva da Convenção Europeia para a Protecção dos Animais de Companhia, que abrangesse o “homem” como animal de companhia. Essa interpretação, longamente contraditada pela doutrina e jurisprudência, ganhou maior suporte com a publicação do Decreto-Lei n.º 276/2001 que aplicou em Portugal a Convenção.
Neste último diploma, o «Animal de companhia» é definido como qualquer animal detido ou destinado a ser detido pelo homem, designadamente, no seu lar, para seu entretenimento e companhia. Sabendo-se que o termo homem está aqui aplicado no seu sentido geral de “espécie humana”, o que substancialmente significa “mulher”, fica fácil de compreender que, nesse contexto, o “homem” é, em essência, um animal de companhia, detido pela mulher no lar para seu entretenimento e companhia.
É claro que nem todo o “homem” se encaixará na classe «Animal de companhia», como por exemplo os que não se encontrem em estado de concubinato. É por isso que o diploma contempla também a classe de “Animal vadio ou errante» (qualquer animal que seja encontrado na via pública ou outros lugares públicos fora do controlo e guarda dos respectivos detentores).
O animal de companhia pode ser objecto de hospedagem de diversos tipos, incluindo a «Hospedagem com fins higiénicos», quer dizer o alojamento temporário ..., por um período que não ultrapasse doze horas sem pernoita. Acredito que este tipo de hospedagem se possa destinar ao “homem” vadio (“animal errante”) numa fase experimental, antes da sua eventual promoção à classe “de companhia”.
Este tema tem muito pano para mangas. Por agora vou ficar por aqui, mas não sem antes referir alguns direitos do “homem” de companhia, frequentemente esquecidos pelo «Detentor» responsável pelos animais de companhia para efeitos de reprodução, criação, manutenção, acomodação ou utilização, com ou sem fins comerciais.
Como simples exemplos, aqui vão 3 desses direitos:
* espaço adequado às suas necessidades fisiológicas e etológicas, devendo o mesmo permitir ...a prática de exercício físico adequado (art.º 8º)
* As refeições devem ser variadas (art.º 12º)
* observação diária dos animais, o seu maneio e organização da dieta (art.º 13º).
Algumas perguntas a quem de direito: quantos “homens” de companhia vêem os seus direitos respeitados pelo «Detentor»? Que medidas o governo pretende tomar para fazer respeitar os direitos e a dignidade mínimos do “homem” de companhia?
São as perguntas possíveis, feitas em condições difíceis, mas são perguntas incómodas, à espera de quem as queira responder.
NOTA:
Nova Definição no Glossário das Impertinência: "Possível" (comuniquês).

20/12/2003

BLOGARIDADES: O Natal na Bloguilha?

Deve ser este o primeiro Natal na Bloguilha. Que farão os bloguenautas nesta altura? Foram às compras como as criaturas normais? Também têm filhos, ou pais, ou namorada(o)s, amantes, concubina(o)s ou outras criaturas a quem devam oferecer prendas?
Como irão comemorar o Natal na Bloguilha?
Será que o Abrupto vai pendurar um presépio no meio de 3 poemas, 2 quadros e 5 gravuras?
Irá o debochado Pipi descrever a berlaitada do Pai Natal numa rena, na tundra gelada, antes de a atrelar ao trenó carregado de prendas para os meninos da Casa Pia?
Dedicará o Causa Nossa, pelo punho do doutor Prado Coelho, um ensaio à semiótica do natal da Esquerda, inconfundível com o Natal da direita?
Perguntas inquietantes, ainda sem resposta, a não ser a resposta metafísica e radical d’A Praia, que arruma o Natal da burguesia em três penadas:
reflexões xaroposas sobre «a vida», «intimismo», «confessionalismos fúteis» - a porcaria do costume em dose ainda mais intensa. Se fosse a vocês, passava ao largo.
Assim se distingue a esquerda à séria, da esquerda a fingir. Tomai lá, embrulhai e ponde no sapatinho.

19/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: O resultado da guerra pode influenciar as eleições numa democracia, como numa ditadura.

Estória
Na entrevista do dia 16 a Diane Sawyer da ABCNEWS, questionado sobre as próximas eleições em 2004, Bush comentou:
"Everybody's beatable in a democracy ... And that's the great thing about a democracy. People get to make that decision. I know how I'm voting."
Uma sondagem New York Times/CBS revelou um aumento da taxa de aprovação de Bush de 52 para 58 por cento, e uma redução da desaprovação de 40 para 33 por cento, subsequente à detenção de Saddam.
Saddam nunca teve que se preocupar com minudências de aprovação ou desaprovação, e já sabia o resultado das eleições ainda antes delas terem lugar.

Moral
Numa democracia o resultado duma guerra pode influenciar o resultado das eleições. Numa ditadura também.

18/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: A sociedade civil pel'O Meu Pêpê.

Tinha-me prometido outro dia começar a esboçar um Abrupto a la impertinente - O Meu Pêpê.
A preguiça e a necessidade de fazer pela vida, vão sempre adiando as boas intenções. Sem prejuízo delas, aqui vai uma referência (um retro-link?) a um post do Abrupto, provando que o homem quando resolve não pendurar quadros e suspende o derrame de erudição para a multidão de basbaques, produz peças políticas notáveis pela clareza radical.
O post Sociedade Civil, sobre as tretas que a esse título são paridas pelos emplastros e a esquerdalhada no país em que o estado da dependência é a dependência do estado, vai direitinha para o blogue imaginário O Meu Pêpê.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Pior que a ignorância, é a ignorância da ignorância.

Secção Assaults of thoughts
A Plain English Campaign meteu-se com o Donald Rumsfeld atribuindo-lhe o prémio Foot in Mouth pela sua seguinte frase dita no princípio deste ano numa conferência:
"Reports that say something hasn't happened are always interesting to me, because, as we know, there are known knowns, there are things we know we know. We also know there are known unknowns; that is to say, we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns - the ones we don't know we don't know."
Quem não concorda com o prémio é o Guardian que, apesar dos seus elevados padrões de escrita, ou talvez por isso mesmo, escreve no dia 3 no leader Know your enemy":
This is indeed a complex, almost Kantian, thought. It needs a little concentration to follow it. Yet it is anything but foolish. It is also perfectly clear".
Quem é o Impertinente para discordar?
Para premiar o almost Kantian thought, so simply expressed in good Anglo-Saxon words, o Donald leva 3 afonsos. As luminárias politicamente correctas da Plain English Campaign levam 3 urracas para premiar a falta de little concentration e 5 chateaubriands pela ignorância da sua ignorância. E ainda o prémio especial do Impertinente: Foot in Ass.

17/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: Senhor livra-me deles (2).

Há qualquer coisa de inautêntico, de postiço, no homem. Não me refiro às suas mudanças de políticas – o mundo é composto de mudança. Nem à óbvia instabilidade – não é o único, o doutor Santana Lopes é um caso singular e, ainda assim, não me parece postiço.
Há qualquer coisa que emana do homem, um não sei quê de falsas indignações, de falsas convicções, um olho sempre matreiro para as câmaras, uma permanente representação de si próprio.
Trata-se do doutor Paulo Portas, o Paulinho da Feiras.
Ao mano doutor Miguel não se lhe pode acusar de postiço. É apenas possuído por uma fé um pouco inquietante.
Perdi a fé (nunca foi inquietante) ainda era um infante, mas prometo a minha reconversão se o Senhor nos livrar de mais esta família.

ESTÓRIA E MORAL: Perder o Big Brother ou aceitar as vítimas dos escombros?

Estória
Segundo uma sondagem RTP/PÚBLICO, 75 por cento dos inquiridos responderam não à pergunta "Concorda com a vinda de mais imigrantes para Portugal?". No escalão etário 45-64 anos, o não atinge mais de 80 por cento dos inquiridos.
Alguém devia dizer aos inquiridos e aos portugueses em geral que ou desgrudam do Big Brother, levantam a bunda do sofá e vão para a cama mais cedo, trabalhar para a reforma, se dispõem a sacrificar o segundo chaço e as férias no apartamento da Quarteira para dispor duns dinheiros para mais um ou dois putos, ou então têm que escolher entre as vítimas dos escombros do comunismo e as vítimas dos escombros do colonialismo português dos dois lados do Atlântico.

Moral
Folguemos enquanto podemos, outra hora choraremos (ditado popular).

16/12/2003

BLOGARIDADES: A sensibilidade aos encantos viris não evita o estilo rasteiro.

Quanto estou deprimido tenho tendências masoquistas (depressões ligeiras) ou suicidas (depressões profundas). É nessas alturas que sou atraído pelo causa nossa, como uma mosca pelo vinagre. Ainda não percebi a ligação entre esses meus estados de alma e o estilo bolorento e cinzentão daquelas luminárias que produzem a causa nossa, que incluem o inefável doutor Eduardo Prado Coelho. Quanto estou mesmo muito deprimido, vou em busca dum post da doutora Ana Gomes, La Pasionaria do Largo do Rato.
Foi o que aconteceu agora. Li de um só fôlego os Majores Carapuças , e fiquei a saber que La Pasionaria apesar de considerar o futebol o ópio do macho luso é “sensível aos encantos viris de um Luís Figo, de um Vítor Baia ou de um Nuno Gomes”.
O gosto pelos encantos viris não a ajuda, porém, a chamar os bois pelos nomes. Pelo contrário, evita cuidadosamente nomear o major Valentim Loureiro nas dezenas de linhas que lhe dedica, cheias de insinuações num estilo rasteiro, sobre as batotas que o senhor major provavelmente terá levado a cabo nas suas múltiplas actividades militares, empresariais, desportivas e políticas.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A insustentável leveza da pesada herança do professor Sousa Franco e as atribulações do casal franco-alemão.

Secção Insultos à inteligência
Numa entrevista à Visão publicada no dia 11, o professor Sousa Franco passou a manteiga no doutor Durão Barroso, apenas para aguilhoar com vara comprida a doutora Manuela Ferreira Leite. Está no seu pleno direito de emitir opiniões.
Se ficasse por aí, não ficava bem, nem mal, ficava. Mas o seu ego intumescido não resistiu a cumprimentar-se, a pretexto da sua suposta pesada herança. Deu razão ao Impertinente que a semana passada recordava o trágico destino dos governantes portugueses que carregam as pesadas heranças recebidas dos seus antecessores.
«Herança pesada teve o governo Guterres quando eu entrei. Sabe qual é a média dos dez défices anuais do professor Cavaco Silva? É de 5,9 por cento. No último ano ainda estava nos 5,7 por cento, quando dois anos depois tínhamos de estar abaixo dos três. E estivemos.», disse o professor Sousa Franco.
Distraído, o professor não referiu alguns factos relevantes, ocorridos durante o seu consolado, que explicam o milagre operado, tais como:
1) a componente juros das despesas públicas diminuiu entre 1995 e 2000 de 6,2% para 3,2%, devido à baixa das taxas europeias, propagada gradualmente para a economia portuguesa;
2) a diferença de 3% do PIB subtraída aos 5,7% da pesada herança do professor Cavaco Silva teria baixado o défice para 2,7%, se o professor Sousa Franco não tivesse aberto a tampa do baú ao engenheiro Guterres para afogar os problemas com dinheiro;
2) assim aumentou a despesa pública total de 44,8% em 1995 para 46,8% do PIB para 2000;
3) significando que as despesas públicas sem juros aumentaram de 38,6% para 43,6%, isto é 5% do PIB;
4) enquanto isso, as despesas públicas da Zona Euro diminuíram no mesmo período de 48,2% para 44,2%;
5) o aumento líquido do n.º de funcionários públicos foi de 50.000, em 5 anos.
É caso para dizer que o professor Sousa Franco se-atolou-se em contradições. Ganha 3 bourbons por não ter aprendido nada desde que saiu do governo, 3 pilatos retroactivos pelo lavar das mãos no assalto ao baú, e 2 ignóbeis porque não é possível que seja tudo distracção.

Secção Res ipsa loquitor
A CIG não conseguiu a aprovação da Constituição Europeia e o eixo Paris-Berlim falhou, pelo menos para já, a sua tentativa de criar os mecanismos para atrelar a Europa à sua carroça, às custas de parcelas da soberania dos outros membros. Ficou, portanto, suspensa a tentativa de instrumentalizar a UE aos desígnios do casal franco-alemão, um casal vivendo numa união de facto construída sobre os cadáveres de dezenas de milhões de mortos em duas guerras mundiais que o casal, outrora desavindo, incendiou.
Três afonsos para a firmeza de José Maria Aznar, que escreveu direito por linha tortas.

15/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: Senhor livra-me deles.

Confessou a doutora dona Maria Barroso à Visão "Houve bastante gente que me tentou convencer a candidatar-me à presidência da República".
Perdi a fé ainda era um infante, mas prometo a minha reconversão se o Senhor nos livrar desta família.

Correcção:
No CASE STUDY: O ersatz do líder da oposição publicado no dia 11.
onde se lê
presuntivos candidatos: Cavaco Silva, Guterres, Santana Lopes, Soares (pai), Soares (filho), Marcelo Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral, Carlos Monjardino, Vieira de Almeida, José Miguel Júdice
deve ler-se
presuntivos candidatos: ..., Soares (pai, filho e espírito santo), ..., ou qualquer outro membro da família Soares, nascido ou nascituro.

BLOGARIDADES: Qual é o préstimo dum arquitecto?

Ocupado a fazer pela vidinha, a dar atenção às quatro gerações impertinentes, e a pesquisar pachachas para desmontar a fraude do rato de biblioteca O Meu Pipi, só agora consegui chegar ao fim do esforço pedido pelo (pela?) Mimosa da Vareta Funda PARA PENSAREM! sobre os dramas existenciais dos arquitectos que já são 11.000, sem contar os que não estão inscritos na Ordem.
A primeira queixa é que o Estado permite que técnicos não arquitectos façam projectos, sem que a populaça aparentemente se incomode com isso. Esquecendo o Estado, de quem devemos esperar cada vez menos, porque será que a populaça, que hesitaria em confiar os seus dentes a uns técnicos que sabem dar anestesia e pôr um alicate, entrega o boneco da choça às mãos dum desenhador ou dum engenheiro, criaturas pouco hábeis com o lápis?
A premissa está errada. A populaça não confia os dentes a ninguém, a populaça sofre as cáries e o mau hálito como um facto da vida. Porque haveria de confiar a choça a um arquitecto?
Outra queixa é que a populaça não sabe o nome de nenhum arquitecto português. E saberá o nome dum médico além do marmanjo que dá consultas lá no centro de saúde do bairro? Ou dum engenheiro que projecta pontes? Ou dum economista, além do que estiver de serviço (se estiver algum) no ministério das Finanças? Dos profissionais liberais, de quem mais a população conhece o nome além do Luís Figo? Agora exagerei. Também há o Cristiano Ronaldo que agora foi para o Manchester, sem esquecer, dos que ficaram, aquele rapaz baixinho que está sempre a mergulhar para o chão (como é que ele se chama?).
Não quero ser ainda pior do que sou, mas ouso perguntar-me: quantos nomes de arquitectos a maioria dos arquitectos conhece, para além do que mora na prancheta do lado?
Quanto a exigências, são apontadas duas. A primeira é às entidades públicas. Nisto não há nenhuma originalidade. Afinal qual a porra de profissão que não espera que as entidades públicas façam por ela alguma coisa?
A segunda exigência é a nós próprios, isto é eles. O programa é demonstrar que tudo isto não foi sinónimo de uma batalha corporativista fechada. Aqui será preciso bastante talento, porque o que foi demonstrado com as 350 presenças e 10.650 ausências é que se trata duma batalha corporativista bastante fechada.
Finaliza com um apelo sejam vocês exigentes, isto é nós.
Pela minha parte já comecei. Se tiver tempo vou continuar com o Case Study O que espera dum arquitecto uma criatura que quer fazer uma choça.
(Continua? Sei lá.)

14/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: Em memória de Saddam – um caso de psicose varonil de origem maternal.

Intróito
A minha amiga e mentora doutora Ana, que também dá aulas na universidade da terceira idade, está a trabalhar numa tese com o título "A disfunção maternal na construção do self identitário dos filhos varões - Uma contribuição para a compreensão das psicoses varonis de origem maternal". Apesar desse título, a tese foca mais as consequências na formação da personalidade do jovem varão resultantes dum pai ausente ou dum pai frouxo, cujo papel é apropriado por uma mãe, por necessidade, no primeiro caso, ou por desígnio no segundo.
Foi a doutora Ana que me chamou a atenção, há uns meses, para a estória que agora recordo no Impertinências, em memória desse grande líder da resistência à hiperpotência, poucas horas após ser conhecida a sua captura pelas forças de ocupação, como lhes chamou justamente o doutor Sampaio, há uma semana em Argel.
É uma grande perda para a luta de libertação. Doravante maiores responsabilidades recairão sobre outros grandes vultos do combate à hegemonia da hiperpotência: Arafat e Ben Laden, na frente, e na retaguarda onde, para só citar o nosso país, se destacam o professor tele-evangelista Louças e o doutor Carvalhas.

Estória
«Pela parte do pai, Hussein, que faleceu antes do seu nascimento, Saddam pertence ao clã al-Majid; pela mãe, Sabha, ao al-Tifah. Sabha, por decisão paterna, acaba por casar - como segunda mulher - com Ibrahim Hassan. Este é primo em terceiro grau de um meio-irmão de Sabha, Khayr Allah, e pertence ao clã al-Muhammed. Saddam passa, assim, a integrar um outro clã que já não é o do pai nem da mãe mas do padrasto.
A infância de Saddam não parece ter sido feliz: criança belicosa, não se sentia particularmente amado em casa do padrasto e, mais tarde, revelou preferir os violentos jogos de rua à escola. Aos 14 anos, a situação torna-se intolerável para Saddam - que tem de partilhar a mãe com mais três irmãos - e opta por fugir para a casa do tio materno, Khayr Allah, regressando assim ao clã al-Tifah

(Lumena Raposo, no DN de 6 de Abril 2003, salvo erro)

Moral
Uma psicose varonil de origem maternal pode ser mortal para muita gente - mesmo para o próprio doente.

CASE STUDY: O Meu Pipi é uma fraude?

Não vou estar com grandes titilações. O Meu Pipi é uma fraude. Por todas as razões já bastamente conhecidas e pelas que ficámos a conhecer com o seu programa de estudos para a licenciatura em queca. Um programa merdoso e incompleto, como o proposto no post do dia 11, nem um bacharelato justificava, quanto mais uma licenciatura.
Ontem tive um dia lixado e não estou para conversas, por isso vou direito ao assunto principal. Nenhum programa pode considerar-se completo sem o estudo prático e teórico das diferentes variedades de pachachas africanas, euro-africanas, afro-americanas, norte e sul. Esta última variedade exigiria certamente acrescentar ao elenco das disciplinas uma semestral no 4º ano denominada, por exemplo, Breve Preâmbulo à Xoxota. Já nem falo duma possível Introdução à Pachacha Asiática, porque isso provavelmente seria matéria para uma pós-graduação.
Francamente, dedicar 3 disciplinas e 3 anos a pachachas comprovadamente secas e em acentuada decadência, só mesmo dum Pipi livresco. Sem falar da falta de senso em tratar em cadeiras separadas pachachas actualmente inseparáveis – refiro-me, como já adivinharam, à pachacha franco-alemã.

Assim se chega à Tese nº 5:
Toda esta pesporrência farfalhuda só pode ser produzida por um Pipi que apenas trepa nos escadotes das bibliotecas.
q.e.d.
(Work in progress?)

13/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: A substituição do instrumento foi-se tornando pesada e impertinente.

Intróito
No Jornal de Seguros de 31 de Abril de 1906 (isso mesmo, “31 de Abril” é a data que está impressa no cabeçalho do periódico) foi publicada esta carta dum assignante que, inacreditavelmente, me passou desapercebida estes anos todos. A carta relata a estória (ou será história?) da filha do dono da casa e do seu instrumento desafinado, que poderia ser dedicada às seguradoras que distraidamente contribuem para o progresso das artes e a felicidade dos povos.

Estória

É digna de registo, pelo ensinamento que encerra, a carta abaixo transcripta recebida d’um nosso estimado assignante:
... Sr. redactor do «Jornal de Seguros»:
Para que conste e possa aproveitar a quem cumpre, permittam V. a narrativa d’um curiosissimo caso cuja authenticidade posso garantir.
Uma familia vulgar de Lineu, residente em Lisboa, havia segurado, por 1.700:000 réis, o seu mobiliario, existindo entre este um estafado piano, pelo valor de 225$000 réis. A sua constante desafinação desgostava a todo o momento a gentil filha do dono da casa para quem a exigencia da substituição do instrumento se foi tornando por fim pesada e impertinente.
Um bello dia, os tres - marido, mulher e filha - por luminosa iniciativa do primeiro, accordaram em que a companhia seguradora é que devia fazer o milagre! Para isso, fez-se um simulacro d’incendio junto do piano - uma explosão de candeeiro - e com petroleo e carqueja, artisticamente aproveitados, deu-se á victima o aspecto desolador do sinistro a que o soalho chamuscado pela chamma lançada, com pericia, a porções calculadas do fedorento liquido, mais negras e tetricas côres infundia.
E desalinhados os moveis proximos, desordenados os bibelots, aspergidos alguns litros d'agua sobre o tablado da farça, com este retumbante scenario, aguardou-se o representante da companhia reclamado ao alvorecer do dia seguinte.
- Podia ter sido uma grande desgraça, dizia commovido o segurado, se promptamente não acudo. As senhoras teriam succumbido se não tenho a felicidade de estar em casa. Foi a primeira vez na minha vida que reconheci ter grande serenidade de animo!
A prova da casualidade do sinistro era palpavel. Porventura poderia duvidar-se? O segurado, se houvesse má fé, deixaria arder tudo! N’esta orientação, o fiscal tomou as suas notas, na informação congratulou-se pela relativa insignificancia do prejuizo e acreditando que o instrumento deveria ter valido, antes de immolado, o preço do seguro, foi de parecer que este se satisfizesse, dando-se mais 50$000 réis para reparações diversas.
A companhia pagou contente e sem demora, registando a diligencia do segurado em extinguir de subito o fogo.
Estava feito o milagre. E dias depois, a visinhança deliciava os pacientes ouvidos com a aria da Somnambula executada n’um delicioso e potente Geissler.
Creia-me sr. redactor
Lisboa, 5 março.


Moral
Confiar no futuro, mas pôr a casa no seguro (ditado popular)

12/12/2003

ESTÓRIAS E MORAIS: A endemia prescritiva e a autofagia da vaca marsupial.

Estória nº 1
Quando o Impertinente chama tansos aos contribuintes cumpridores, onde se inclui, não é uma figura de estilo, é o lamento duma alma esportulada duma parte das suas grilhetas terrenas que tanta falta lhe fazem, em benefício duma súcia de relapsos.
Veja-se esta progressão dos processos em execução fiscal em percentagem do PIB:
1985 - 2,5% (vésperas da adesão à CEE e da chuva de subsídios; nesta época os portugueses ainda se consideravam pobres e gente séria)
1993 - 2,6% (nesta época os portugueses começavam a pensar que eram ricos, e estavam a começar a ficar fartos do professor Aníbal e ansiavam por um engenheiro Guterres que lhes desse boas notícias e, sobretudo, os besuntasse de diálogo)
1997 – 10,0% (agora sim, os portugueses empanturrados de diálogo, começavam a deixar de pagar impostos para começar “a cagar” para os impostos, usando a colorida expressão do doutor Ferro Rodrigues)
2001 – 10,7% ou 12,7 mil milhões de euros (tudo na vida tem um limite e não se podem deixar de pagar mais impostos do que os devidos)
2003 – 10,5% ou 13,9 mil milhões de euros (uma ligeira redução à custa do perdão dos juros de mora)
Em Março deste ano existiam 2,6 milhões de processos de execução fiscal, correspondentes a uma bela percentagem de relapsos. Dos 13,9 mil milhões de euros de dívidas fiscais 1,56 mil milhões de euros estão ameaçados de prescrição.

Moral
A prescrição é a endemia nacional.


Estória nº 2
Segundo as conclusões dum relatório da Inspecção Geral de Finanças sobre o diagnóstico da administração central, metade dos serviços prestados pelo Estado têm como cliente o próprio Estado. Com a licença, mais uma vez, do doutor Ferro, o Estado está-se “a cagar” para si próprio.

Moral
A vaca marsupial pública sofre de autofagia.

11/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: O ersatz e a questão presidencial pel'O Meu Pêpê.

À parte a diferença de tema e, sobretudo, do enfoque, a diferença principal entre um impertinente e um pertinente é que o Impertinente escreve isto no Impertinências e o doutor Pacheco Pereira aquilo no Público.
A pertinência e clareza do pensamento político do doutor PP estão bem patentes naquele artigo.
Sabem que mais? É um bom exemplo de abordagens que o blogue Abrupto bem podia adoptar, como prato de sustância, em vez daquelas águas sonsas em que navega a maior parte do tempo, esbanjando erudição e pendurando artes plásticas.
É por isso que uma das próximas missões que o Impertinente se impôs é esboçar um Abrupto a la impertinente, a que vou baptizar de O Meu Pêpê.

CASE STUDY: O ersatz do líder da oposição.

A estória é conhecida e perdeu actualidade. Só vale a pena recordá-la porque é um epifenómeno duma grave patologia.
O doutor Jorge Sampaio foi a Argel falar do processo iraquiano. Não falou como presidente dum país cuja posição oficial foi apoiar a intervenção anglo-americana e que tem lá umas tropas, juntamente com muitos outros países. Falou em substituição do desacreditado líder da oposição, e passou manteiga nos seus anfitriões argelinos, que estão lá à custa duma enorme fraude eleitoral. Como líder da oposição, devoto duma ONU, cuja maioria dos membros é governada por corruptos ou fantoches ou títeres ou ditadores sanguinários, mencionou ocupação e forças ocupantes, esquecendo que o Conselho de Segurança aprovou a resolução 1511 sobre o processo de transição no Iraque, ao abrigo da qual os nossos magalas da GNR têm lá as botas.
Não vale a pena acrescentar nada ao que escreveu o director do Público aqui.
Reconheça-se que o doutor Jorge Sampaio não é original. Há uma tradição velha de 28 anos, que remonta ao general Ramalho Eanes, que promoveu um partido à custa do cargo e do partido do doutor Jorge Sampaio, e continua com o doutor Mário Soares, que se promoveu ao cargo também à custa do partido do doutor Jorge Sampaio. Essa tradição atribui ao presidente da República as dores da oposição e o papel de ersatz do seu líder.
Talvez por isso o lugar parece tão atractivo. Veja-se a longa lista dos presuntivos candidatos: Cavaco Silva, Guterres, Santana Lopes, Soares (pai), Soares (filho), Marcelo Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral, Carlos Monjardino, Vieira de Almeida, José Miguel Júdice, entre tantos outros já esquecidos ou ainda não revelados que poderão render-se à tentação de não mandar nada, nem deixar mandar, e não pagar por isso.
E porquê a atracção? Uma teoria conspirativa: é mais barato e mais agradável ser presidente da República do que líder da oposição, que implica suportar a travessia do deserto do poder, aguentar uma cambada de potenciais traidores escondendo as navalhas da traição nas calças da pouca vergonha e suportar uma infinita corja de medíocres ansiando por uma sinecura, tudo isto apenas mitigado pelo séquito de seguidores incondicionais, que vai minguando, na medida em que mingua a esperança do governo de serviço cair.
Mais importante do que perceber o porquê daquelas almas se sentirem atraídas pela presidência, quais borboletas pelo candeeiro, é perceber as causas da popularidade da coisa. Porquê a populaça venera tal comportamento, que outras populaças doutras paragens achariam irresponsável e oportunista?
Deve haver algo nas profundezas da alma lusitana que o explica. Algo que leva os portugueses a criarem mecanismos sociais e políticos para entropicar a sua vida. O Impertinente acredita que a coisa remonta à ocupação da Lusitânia pelo império, se não antes – não é verdade que um governador romano escreveu ao imperador, lamentando-se, resignado, que os povos indígenas não ser governavam nem se deixavam governar?
(Continua ?)

10/12/2003

CASE STUDY: O Meu Pipi está a ficar impotente?

A resposta a esta dilacerante questão, há muito anunciada, não foi fácil.
E não foi fácil porque O Meu Pipi, esse criador de grunhos, talvez ele próprio um grunhus literattus, apagou dos seus arquivos todas as obscenidades produzidas anteriormente à publicação desse repositório de poucas-vergonhas que é o seu livro. Estaria a defender as vendas? E, estando, seria a pedido da doutora Charlotte?. Mais dúvidas dilacerantes.
Se o fez por isso, teria sido por uma boa causa e, a ser assim, O Meu Pipi subiria na consideração do Impertinente, obtendo a promoção de escriba de obscenidades gratuitas a escriba de obscenidades pagas. De caminho ganharia reconhecimento dos tansos contribuintes, aliviados por não ter que subsidiar a obra pipiana.
Voltando à questão dilacerante, como se pode medir a potência de O Meu Pipi? Pela sua produção de sexo, naturalmente. E se a produção de sexo num macho à séria, que não fala das suas proezas, quanto mais escrever sobre elas, se pode medir pelas cobrições por unidade de tempo, como se pode medir a produção de O Meu Pipi, que nem ao menos fala, só escreve? Pela frequência e volume das suas obscenidades por unidade de tempo, naturalmente.
A manobra de escamotear os arquivos, deixou apenas os current posts abrangendo o período de dez semanas de 22-09 até 07-12. Esse período é suficiente para evidenciar um claríssimo amolecimento do órgão produtivo pipiano, quer em nº de posts, quer em volume seminal (o sémen de O Meu Pipi são palavras; que outra coisa poderia ser?).

Semanas......Posts...........Volume seminal
01-12-2003 |...................|
24-11-2003 |...................|
10-11-2003 |...................|||
03-11-2003 |...................|
27-10-2003 |||................|||
20-10-2003 ||..................||||
13-10-2003 |...................|||
06-10-2003 |||................||||||
29-09-2003 ||||...............||||
22-09-2003 |||................|

Apesar duma espécie de dead cat jumping nas semanas imediatas à publicação das poucas-vergonhas, fruto talvez duma erecção criativa pontual, mas tardia, a produção de O Meu Pipi é claramente evanescente - as primeiras 5 semanas desse período correspondem a 70%, do total, isto é mais do dobro das 5 semanas mais recentes.

Suportados por esta abundância de evidências, podemos enunciar a:

Tese n.º 4: O Meu Pipi caminha para a impotência a uma velocidade uniformemente acelerada.
q.e.d.

(Work in progress?)

09/12/2003

BLOGARIDADES: O Meu Mêmê (1).

Se há um sucesso na bloguilha chamado O Meu Pipi, porque não haver um chamado O Meu Mêmê? Ocorreu-me isto a propósito do sítio Manuel Maria Carrilho, verdadeiro expositor da vida e obra do Professor, Filósofo e Homem de Cultura com o mesmo nome.
A conversão do sítio vulgaris na variedade blogue exigiria certamente algumas adaptações, mas valeria a pena. É esse exercício que me proponho levar a cabo. Sei que acabarei, só não sei quando.
Substituir algumas das fotos mais formais, por outras mais íntimas, seria um bom ponto de partida. O Professor na praia, numa discoteca, na abertura da caça, são algumas ideias. As poses também poderiam ser mais originais – aquela mãozinha a segurar o queixo é mais do que trivial. Porque não mordiscar o indicador da mão esquerda como o Dr. Santana Lopes? O Professor ficaria com um ar naif-blasé muito moderno.
O estilo e os conteúdos teriam igualmente que ser ajeitados para os conformar com os paradigmas da bloguilha.
Há imensos exemplos que podem ser dados. Começo pelas primeiras linhas do editorial. Não é excessivamente aristotélico e passé, escrever hoje das duas uma: ou se levam os novos imperativos da comunicação social a sério, ou não?
Não seria mais moderno, em vez duma abordagem binária, uma abordagem trinária - hoje, das três duas: ou se levam os novos imperativos da comunicação social a sério, ou não, ou se fica na dúvida e depois logo se vê?
Ou ainda mais avant garde, uma abordagem fuzzy logic - hoje das muitas algumas: ou se levam os novos imperativos da comunicação social completamente a sério, ou mais a sério, ou mais ou menos a sério, ou assim-assim, ou menos a sério, ou nem pensar, ou a brincar.
(Continua?)

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Elogio da obsessão.

Secção Res ipsa loquitor
O diletantismo nacional comenta, com ar ligeiramente enfastiado, do alto da sua mediocridade bem pensante, a obsessão da ministra das Finanças com o défice. Parte desse diletantismo apenas anseia por manter ou renovar a sua sinecura. Uma boa parte da restante fala receando que, se ficar calada, seja esquecida – o pavor do diletantismo.
Este ódio de estimação que o diletantismo alimenta por essa obsessão da doutora Manuela não é um acaso. É o fruto gerado no ventre da casta que se vê a si própria como uma intelligentzia pairando acima da choldra. Uma casta – a versão pós-moderna dos Vencidos da Vida das Docas - que agarra, temente de o perder, o seu lugarzinho numa qualquer teta da imensa vaca marsupial pública, ou anseia por aceder a uma teta cada vez menos vaga.
Um bom exemplo dessa casta é a manada de “cineastas” (tomei o gosto pelas aspas) que O Independente inventariava na última sexta-feira, cujas obras custaram aos tansos desde dezenas até centenas de euros por cada espectador que distraidamente se sentou num cinema a olhar para elas. Sobre este tema da subsídio-dependência dos artistas, para não gastar mais latim remeto para o Subsídio ao Bom Senso do Jaquinzinhos que o trata com competência.
A doutora Manuela, por muita asneira que já tenha feito e ainda possa fazer, tem os tomates que faltam a essa casta mole e ociosa. Três afonsos para os tomates obsessivos da doutora Manuela.

08/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: O peru que era um “peru” e um correspondente que é um “jornalista”.

Estória
Assim como há jornalistas que põem aspas nos inimigos, também o Impertinente põe aspas nos jornalistas. Por exemplo, em Tony Jenkins, que é correspondente em NY do semanário do saco de plástico.
O apego ao rigor do “jornalista” Jenkins, na "contracapa" (mais aspas) do 1º dos 323 cadernos e anexos do Expresso de 6 de Dezembro, referindo-se ao belo peru castanho-dourado que George Bush segurava nos braços enquanto visitava as tropas em Bagdade, levou-o a denunciar que o peru era a fingir. Era um elemento de decoração que ninguém chegou a comer. Em vez disso os soldados foram servidos por uma cantina que forneceu refeições aquecidas.
Quanto à encenação, no dia de Acção de Graças, feriado nos EU com um profundo significado nacional, o George W. não segurava o adereço nos braços. Levava nas mãos a bandeja onde pousava o peru a fingir.
Quanto ao contexto do peru a fingir, para quem não conheça os costumes americanos, a coisa parece-se com uma grosseira manipulação da opinião pública pelo George W. e um insulto à inteligência dos soldados presentes, ou, usando as palavras do "jornalista", uma artimanha preparada deliberadamente.
O editorial Jive Turkeys de 6 de Dezembro do Washington Post aborda o mesmo assunto e, conhecendo-se a sua pouca simpatia pelo George W., lembra que show turkeys are part of a long tradition of holiday foods that are widely admired but not actually eaten: the viscous eggnog that has nurtured a thousand potted plants, the mince pie children slip to the dog, the fruitcakes passed along from family to family and generation to generation.
O Washington Post lembra o que para o público americano é uma trivialidade. O “jornalista” correspondente do saco de plástico, que escreve para um público para quem o peru é a carne de vaca dos tesos, infiltra o seu contrabando de opiniões no meio de factos distorcidos, pescados à linha na imprensa do seu país.

Moral
Não se pode comparar um “jornalista” correspondente do saco de plástico com um jornalista do Washington Post, definitively.

07/12/2003

ESTÓRIA E MORAL: Poderão os nossos alunos voar ? (bis)

Estória
Esta madrugada contei a estória do besouro estúpido insecto (que) pesava demais, tinha as asas demasiado pequenas, um abdómen e umas patas disformes, cobertas de pelos, um cérebro microscópico, incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo.
No meio da manhã, o meu amigo doutor André enviou-me uma mensagem comentando que a analogia com os estudantes é demasiado óbvia, e sugerindo que devia o Impertinente procurar voos mais altos!
De uma cajadada o doutor André mata muitos coelhos. O primeiro é o Impertinente, que fica equiparado a um besouro rastejante. Os outros coelhos são os nossos estudantes, equiparados a um estúpido insecto, portador de um cérebro microscópico. Em relação ao primeiro coelho, não quero ser juiz em causa própria, mas quanto aos estudantes acho uma grande injustiça. Afinal muitos deles conseguem chegar à idade adulta, sobrevivendo a condições escolares que arruinariam em definitivo outras criaturas.

Moral
Com amigos destes, o Impertinente não precisa de inimigos. E os estudantes já se têm a si próprios.

ESTÓRIA E MORAL: Poderão os nossos alunos voar?

Estória
Era uma vez um engenheiro que foi a um congresso de aerodinâmica (qualquer coisa que trata dos fluídos elásticos, explicou ele com ar enfastiado). Não um daqueles congressos turísticos promovidos pela Bayer para os médicos que receitam a sua medicina, mas um congresso à séria, com comunicações, painéis, discussões públicas, privadas, mesas redondas, e toda a parafernália imaginável nesses eventos.
A comunicação duma sumidade presente, um tal professor Jay Beetleson, versava sobre a aerodinâmica do voo do besouro. No final da torrente de demonstrações com fórmulas, gráficos, diagramas, diapositivos, etc., o professor Beetleson, concluiu que o estúpido insecto pesava demais, tinha as asas demasiado pequenas, um abdómen e umas patas disformes, cobertas de pelos, um cérebro microscópico, incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo, pelo que teoricamente não poderia voar. As demonstrações da luminária arrasaram a plateia que se quedou num recolhido e admirativo silêncio.
O meu amigo engenheiro, nessa altura no começo da sua carreira, ainda sem a vergonha, que vem a reboque da ciência, de parecer ignorante, perguntou à sumidade como explicava que, sendo irrefutáveis as suas demonstrações, não era menos irrefutável a prova circunstancial, o flagrante delito, do voo do besouro.
O silêncio da plateia, se já era denso, engrossou ainda mais.
Simples, meu caro congressista, respondeu amavelmente o professor Beetleson. O besouro voa porque não sabe que não pode voar.

Moral
Isto vinha a propósito do meu amigo engenheiro me explicar que, ao contrário do que eu supunha, a falta de qualidade do nosso ensino, em particular na área da matemática e das ciências, não era um mal em si mesmo. Pelo contrário, ele via riscos no aumento da exigência, nessa e noutras áreas, que afectando a auto-estima dos alunos e incutindo-lhes a perda de confiança os transformaria em besouros inviáveis, isto é invoáveis.

06/12/2003

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Brisa a la recherche du temps perdu.

Secção Insultos à inteligência
Não há razão nenhuma para a Brisa me tratar pior do que trata o comum dos seus clientes. Na verdade, sou mais do um cliente comum. Sou um aderente, isto é cliente com um apresto chamado identificador prantado no pára-brisas do chaço, desde a primeira hora que a Brisa inventou a via verde. Um identificador? Não, dois, que a patroa também tem um prantado. Poupo dinheiro à Brisa que me debita na conta bancária as portagens, em vez de ocupar um desgraçado dum portageiro pendurado na cabina e chupar monóxido de carbono 7 horas por dia. Além disso, nunca despejei o cinza nas auto-estradas, mesmo quando fumava.
Imagino, por isso, que não terá sido só para mim que a Brisa mandou uma carta que recebi ontem (5 de Dezembro) datada de 17 de Novembro a comunicar que a partir do dia 10 de Novembro iria ceder a sua posição no contrato dos aprestos a uma sua filha chamada VVP Via Verde Portugal e a alterar as condições do contrato. Mas não iria fazer tal coisa se eu, no prazo de 10 dias úteis (terminados no dia 28 de Novembro) a contar da presente data (17 de Novembro), me opusesse, por escrito, às novas condições contratuais.
A coisa fica ainda mais irritante porque a carta da Brisa datada de 17 de Novembro leva (levaria, se tivesse sido colocado no correio no dia seguinte) 13 dias úteis para percorrer os 2.323 metros desde a sede da Brisa até à sede do Impertinente.
Para a Brisa estou a enviar, por correio azul, 5 merecidos ignóbeis.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o fauno ataca de novo e Mme. la ministre tenta aguentar o bote.

Secção Musgo Viscoso
Deixando claro que se está borrifando para o governo central e para os figurões dos partidos da coligação, o fauno do Atlântico, doutor Jardim, arrota no seu quintal as postas de pescada que lhe apetece. Disse o fauno (ou Bokassa, segundo o venerando doutor Jaime Gama) no debate do Orçamento 2004 nós é que desautorizamos a linha de pacto com o regime que esses senhores têm lá em Lisboa.
Três pilatos para o governo central e os figurões.

Secção Assaults of thoughts
A quem a acusava d'avoir plongé son pays en récession, respondeu Mme Ferreira Leite a Le Monde "Qu'il y ait ou non pacte de stabilité, qu'il disparaisse ou non, qu'il y ait ou non des règles minimales de politique budgétaire, il y a un point acquis en Europe: il n'est pas possible de croître sans finances publiques équilibrées. Il n'est pas possible d'avoir une croissance durable en augmentant la dépense publique".
Respondeu bem. E, certamente não por acaso, quando a economia europeia ainda patina, o défice da balança comercial baixou 11,1% nos primeiros 3 trimestres, com o aumento de 2,4% nas exportações e a redução de 2,1% nas importações.
É preciso é não ceder aos Bokassas, nem fraquejar face à choraminguice dos sindicatos e ao folclórico estardalhaço da esquerdalhada.
Um afonso (líquido das cedências ao Bokassa atlântico) para Mme Ferreira Leite.

05/12/2003

NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Segredo de justiça e prisão preventiva.

Não me lembro de tratar o tema Casa Pia no Impertinências, a não ser como referência circunstancial. E porquê?, perguntará o leitor acidental. Mesmo não perguntando, eu respondo. Porque o caso Casa Pia é para mim um mistério, a começar por dois conceitos jurídicos muito falados: segredo de justiça e prisão preventiva que me escapam completamente.
Cansado de passar por ignorante, apesar das 3 ou 4 cadeiras de Direito a que tive de me sujeitar com uma dupla de profs., cada um com um petit nom que é um programa de vida (Didi e Pelé), pedi ajuda ao meu amigo jurista Doutor Manel.
Eis aqui o compte rendu da coisa, tal como o espírito primário do Impertinente o entendeu, que vai direitinho para o Glossário para que, agora e no futuro, possa partilhar convosco esta revelação.

Segredo de justiça (Juridiquês)
Mecanismo processual que obriga o putativo arguido a comprar jornais ou a ver televisão para tomar conhecimento da acusação.

Prisão preventiva (Juridiquês)
Medida prevista na lei e aplicável aos putativos arguidos, que consubstancia uma regalia dos investigadores, dos juizes e dos funcionários judiciais, permitindo-lhes prosseguir e documentar, cuidadosamente e sem pressas desnecessárias, uma investigação. Em certos casos pode atingir 4,5 anos.

Armado com estas novas competências, o Impertinente está agora capacitado de entrar na Casa Pia, no caso entenda-se.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o fauno, as calças arreadas e os inimigos com aspas.

Secção Insultos à inteligência
Segundo o DN, o secretário regional das Finanças do Reino do doutor Alberto João, contornou o problema do endividamento zero da Madeira, a que tinha sido condenado pela doutora Manuela. Condenação que ela impôs por não conseguir arranjar dinheiro para tirar do prego as pratas de família que o engenheiro Guterres durante o seu consolado lá foi pendurando, com a ajuda preciosa de vários ministros das Finanças, incluindo um mestre escola chamado doutor Oliveira Martins.
Como é que o jovem e talentoso secretário regional contornou o incontornável? Ou dito por outras palavras, fintou a chefe doutora Manuela?
Segundo o DN, devido à semântica, porque só estavam proibidos novos empréstimos, não estavam proibidos reforços dos velhos.
Segundo o Impertinente, o jovem secretário contornou porque não há incontornáveis para o fauno do Atlântico, que manda mais no governo do que qualquer ministro, incluindo a patroa doutora Manuela.
Um dia o Impertinente ainda vai preparar um case study sobre o fauno, mas por agora dá-lhe um afonso pelo atrevimento e reserva 2 urracas para a doutora Manuela e 3 pilatos para o doutor Durão Cherne Barroso. Qualquer protesto do PS leva, por antecipação, 3 pilatos para premiar o arrear de calças com que sempre premiou o fauno, ou Bokassa, como lhe chamou um dia o peixe de águas profundas doutor Jaime Gama.

Secção Perguntas impertinentes
Segundo o Público, citando um comunicado do Exército em Bagdade, as forças norte-americanas mataram dois "inimigos" e capturaram mais de 60. Note-se a subtil distinção que o jornalista faz: ele não escreve inimigos, ele refere “inimigos”, isto é inimigos, mas com aspas.
Seria caso para perguntar qual é a diferença entre um “inimigo” e um inimigo. Ou entre um jornalista e um “jornalista”?
Sem ouvir a resposta, o Impertinente resolve atribuir, não ao jornalista do Público, mas ao “jornalista” do mesmo jornal, não um “chateaubriand”, mas 3 chateaubriands.

Secção Entradas de leão e saídas de sendeiro
Na quarta-feira, o Conselho de Ministros concluiu que a anunciada introdução de portagens pagas é inviável nas Scut da Beira Interior e do Algarve. Dizem as más-línguas que o governo arreou as calças ao lóbi dos caciques locais.
É mais um exemplo do destino dos governantes portugueses desde o Marquês de Pombal. Não têm ombros para carregar as pesadas heranças que recebem dos seus antecessores: o doutor Salazar a pesada herança da rebaldaria jacobina da I República, o Conselho da Revolução a pesada herança do Botas, e assim por diante até aos nossos dias.
Três urracas para o Conselho de Ministros colocar em cima da pesada herança do consolado do doutor Guterres.

04/12/2003

CASE STUDY: Euro-English – a Europa na ponta da língua.

Todos nós, cidadãos duma Europa do Atlântico quase até aos Urais (quando lá chegarmos, o bigode do General de Gaulle, lá no mausoléu onde repousa, irá empertigar-se), sofremos a humilhação de sacrificar a língua das nossas mães ao esperanto anglo-americano, conspurcado pelo patois de todas as ralés do mundo.

O sacrifício de falar esse esperanto cresce quando, sob a camuflagem “prática” duma língua franca talvez boa para os negócios, se contrabandeia uma insidiosa arma de destruição maciça das nossas culturas nacionais, construídas em cima de 20 séculos de história à custa de muita porrada e dezenas de milhões de mortos. Uma WMD (cá está insidiosa a influência do império), qual rolo compressor da hiperpotência, que esmaga as artes e letras nacionais.

Em boa hora a Comissão Europeia tomou iniciativas de contenção da língua do império americano. O resultado dessas iniciativas foi o acordo, finalmente alcançado, para uma harmonização linguística. Esse acordo é também um exemplo de cooperação comunitária - a Grã-Bretanha aceita que a língua de Shakespeare, usurpada e deturpada pelo império, seja embebida com elementos do alemão, a Alemanha cede partes da língua de Goethe para a construção da língua harmonizada, enquanto que a França sacrifica a língua de Molière (que mete a sua língua no saco, por assim dizer) em benefício da construção da língua que irá estar em todas as bocas europeias. Nem falo dos outros países que, para este como para os outros efeitos, pouco contam, mas que esperam ser compensados pelo sacrifício da língua no altar da harmonização, com justas contrapartidas financeiras.

O Impertinente teve o privilégio de ter acesso confidencial ao comunicado da CE que hoje, dia 4 de Dezembro, às 16 horas será divulgado. É com enorme emoção que, correndo o risco de um processo judicial, venho divulgar o seu texto, com algumas horas de antecipação.

The European Commission has just announced an agreement whereby English will be the official language of the European nation rather than German which was the other possibility. As part of the negotiations, Her Majesty's Government conceded that English spelling had some room for improvement and has accepted a 5-year phase-in plan that would become known as "Euro-English".

In the first year, "s" will replace the soft "c". Sertainly, this will make the sivil servants jump with joy. The hard "c" will be dropped in favour of the "k". This should klear up konfusion, and keyboards kan have one less letter.

There will be growing publik enthusiasm in the sekond year when the troublesome "ph" will be replaced with the "f". This will make words like fotograf 20% shorter.

In the 3rd year, publik akseptanse of the new spelling kan be expected to reach the stage where more komplikated changes are possible. Governments will enkourage the removal of double letters which have always ben a deterent to akurate speling. Also, al wil agre that the horibl mes of the silent "e" in the languag is disgrasful and it should go away.

By the 4th yer peopl wil be reseptiv to steps such as replasing "th" with "z" and "w" with "v".

During ze fifz yer, ze unesesary "o" kan be dropd from vords kontaining "ou" and after ziz fifz yer, ve vil hav a reil sensibl riten styl.

Zer vil be no mor trubl or difikultis and evrivun vil find it ezi tu understand ech oza. Ze drem of a united urop vil finali kum tru.


O Impertinente julga ser seu dever acrescentar um apelo em euro-english:

IF ZIS MAD YU SMIL, PLEAS PAS IT ON TO OZA PEPL.

03/12/2003

BLOGARIDADES: Blogues mutantes - uma amélia vira cornélia, uma inteligente vira bimba e nasce uma parola no firmamento da bloguilha.

A doutora Amélia, essa pesporrência humilhante de abrunhos, casou-se, disse ela, com um artola qualquer, proprietário de um blog sério, e liquidou o seu Procuro marido.
Arrumada a doutora Amélia, surge a doutora Cornélia que se apresenta como um altar eco da Amélia, e que procura, com muito farfalho, um bigode farfalhudo, que ainda não encontrou. Nem encontrará, pelo menos enquanto não passar de um blogue com uma só posta – um monoposta.
A doutora Charlotte, lá continua com o seu bomba inteligente, essa mistura entre o mental e o mundano, nas sábias palavras do doutor Mexia, e com as suas parábolas do mau escritor e do bom pedreiro e os seus dilemas da nenhuma diferença entre homens e mulheres.
Enquanto isso, no mesmo dia em que a Cornélia nasce na bloguilha, nasce também uma sua alma gémea: a doutora Cachalotte, com o seu bimba ininteligível. Ao contrário da bomba, a quem falece o humor, escorrem da bimba cataratas de non sense.
A coisa promete. Ou o coiso promete. E, assim, com uma cajadada se matam duas coelhas – a coelha Cachalotte, que tanto diz gostar do coiso como reconheceu aqui, e a coelha Charlotte que, supõe-se, não vê nenhuma diferença entre a coisa e o coiso.
Mas a coisa, ou o coiso, não fica por aqui. O pior ainda estava para vir. Estava mas já não está: chegou no dia 18 de Novembro. Chegou com a parola consulta.... Com a parola mudamos de galáxia e entramos no domínio da quase loucura. A começar com a banda sonora Rádio Colômbia e a fechar (no dia 25) com um rapaz ... (que) tem suspensórios...e faz xixi na sanita, à primeirinha! Sentado, claro!!!!!
Sente-se no ar da bloguilha uma saudável loucura.

02/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: Os sete pecados das sociedades modernas?

Não sei porquê (a minha costela mística?), lembrei-me hoje do Dalai Lama que interrogando-se sobre quais os sete pecados das sociedades modernas, respondeu riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, saber sem carácter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade, e política sem princípios.

BLOGARIDADES: O que é preciso para sair da depressão? Gajos tesos que não gostem de perder nem a feijões.

O A Causa Foi Modificada (mais uma vez) produziu o texto Eu é que percebo disto!, que o Impertinente recomenda vivamente. O documento aborda o magno problema da crise dos lagartos, que não sendo novidade – dura há décadas, praticamente desde o abandono dos cinco violinos, não deixa de ser um paradoxo para quem tem a melhor gestão dos futebóis, diz A Causa e concorda o Impertinente.
Não querendo minimizar os futebóis que, como se sabe, são ainda a única esperança dos nossos produtos marcarem pontos nos mercados internacionais, e são dos poucos interesses persistentes que animam a alma cadaverosa da nação, mas, pedindo desculpa pelo incómodo, transporto a questão dos lagartos na Alvaláxia para a arena nacional na Portugaláxia.
Na Portugaláxia, como na Alvaláxia, o que nos embaraça é excesso de Fernandos Santos, satisfeitos e acomodados, borrados de medo de assumir desafios e riscos, e a falta de Josés Mourinhos, gajos tesos que não gostem de perder nem a feijões.

01/12/2003

DIÁRIO DE BORDO: a Restauração da Independência?

Comemora-se hoje a Restauração da Independência.
Há 363 anos, depois de muitas hesitações e ambiguidades do Duque de Bragança, os conspiradores lá se resolveram atacar o palácio real e prender a megera duquesa de Mântua e o Duque de Bragança acordou Dom João IV.
Sem a preciosa ajuda da Catalunha, que se revoltara em Junho, Filipe IV teria arrumado o assunto e reposto a situação sem grandes dificuldades e, quem sabe?, seríamos hoje uma província autónoma de Espanha.
Seríamos?

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O remédio do doutor Soares – mais do mesmo.

O doutor Mário Soares não pára. No sábado esteve em Espinho no PS local a pugnar, neste mundo em globalização selvagem, pelas políticas sociais ousadas ... para tirar o País da crise e desolação em que está a viver, recusando “menos estado”.
É um case study de esquerdismo senil, cuja particularidade, segundo a minha amiga doutora Ana, psicóloga pela Sorbonne, e sociológa e antropóloga nas horas vagas, reside no episódio, em boa hora acontecido e agora recalcado, do é preciso pôr o socialismo na gaveta da sua época de primeiro ministro. Foi o engavetamento que tornou possível ao doutor Ernani Lopes fazer o que lhe mandou a doutora Teresa Terminessian do FMI, limpando o terreno onde se cultivou, bastante a trouxe-mouxe, reconheça-se, uma década de prosperidade.
Três merecidos bourbons para o doutor Soares.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O inefável filósofo desconstrói o défice.

Secção George Orwell
É sobretudo altura de compreender que a sua fixação em 3% do PIB foi uma decisão totalmente arbitrária, que tanto podia ter sido esse valor como 2% ou 4%, 0% ou 6%, escreveu, referindo-se ao défice orçamental, o inefável prof. doutor Manuel Maria Carrilho na sua coluna Contingências no semanário do saco de plástico.
Alguém do PS com um módico de competência para falar destas coisas pode explicar ao filósofo que não se trata de desconstrutivismo, mas de coisas prosaicas de que depende a independência económica dum país? Será que a leveza insustentável da mente do homem lhe permitirá compreender que o défice nunca poderá ser sustentadamente superior ao crescimento nominal do PIB ou o estado ficaria, mais tarde ou mais cedo, insolvente.
Ao menos mandem o homem ler o que disse o seu ex-colega de partido Medina Carreira ao mesmo semanário do saco de plástico.
E, se não for pedir muito, tentem perceber que não se pode acusar, ao mesmo tempo, o governo de criar recessão com a obsessão do défice e por outro lado só tomar medidas cosméticas com receitas extraordinárias, ao mesmo tempo que se lhe aponta responsabilidades no aumento do desemprego, quando se deveria saber que as únicas medidas que atacariam o défice estrutural aumentariam o desemprego na função pública.

Três bourbons para o inefável filósofo, igual a si próprio, acrescidos de cinco chateaubriands, pelas olímpicas confusões.
Nota para o leitor acidental distraído: o nome desta Secção é uma homenagem a quem terá dito que há ideias e opiniões tão obviamente idiotas que é preciso ser-se um intelectual para se acreditar nelas.

ESTÓRIA E MORAL: O homem das contas descontrói a desconstrução do filósofo.

Estória
Para compensar a sandice do filósofo, o doutor Medina Carreira, ex-ministro das Finanças, ditou para o saco de plástico que a esquerda está desactualizada e não tem política económica, como a obsessão pela subida da despesa pública demonstra ... Só fala em mais dinheiro. Morrem pessoas no verão com calor, dinheiro! Morrem pessoas no inverno com frio, dinheiro! Os estudantes não querem pagar, dinheiro! Uma economia atrasada e débil como a nossa não sustenta tanta despesa pública.
No próprio saco de plástico se encontra a demonstração da tese num simples gráfico onde se lê que nos últimos 20 anos a despesa pública com os salários da função pública, as pensões e os subsídios cresceu TRÊS VEZES mais do que a economia.

Moral
A grandeza da esquerda é querer salvar os medíocres. A sua fraqueza está em que os há de mais. (San Antonio)