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24/12/2004

DIÁRIO DE BORDO: A cada um o seu natal

quem defenda, e eu concordo, que a nação nasceu do país que os «laivos matricidas» mailos maus fígados do Fundador o levaram a fundar, em má hora e, por certo, com maus conselheiros. Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita e se a estes maus princípios acrescentarmos os moçárabes fica tudo explicado, desde o matricídio de D. Afonso Henriques até às fugas do pântano do engenheiro Guterres, aos défices vagabundos, às sestas dos governantes e tudo o mais que se passou nestes quase nove séculos de muitas bizarrias e poucas vergonhas.

E assim, durante essa eternidade, se cozinhou uma cultura que, entre vários outros aleijões, está marcada por aquilo a que o muito citado antropólogo Hofstede chamou «power distance». Quer ele dizer na dele que para os portugueses o respeitinho é muito bonito, os sinais exteriores de status são muito importantes, as mudanças só se fazem à porrada, etc. (um enorme etc.).O nosso score nesta matéria só é superado na Europa pela França - quem mais poderia ser?

A coisa é também notória na necessidade que os portugueses, principalmente das classes possidentes, têm de emitir sinais da sua importância social. A coisa chega até aos pequenos rituais de socialização: um beijinho, dois bejinhos, três beijinhos. A coisa chega até ao Natal.

Feliz Natal para os tesos
Bom Natal para a classe média
Santo Natal para a classe possidente

Esclarecimento, que me sinto obrigado a fazer:
Vá-se lá saber porquê, estive para escrever, «classe possidónia». Teria feito asneira, segundo o meu dicionário de plástico. «Possidónio» terá sido usado por Camilo para designar um «político ingénuo e sertanejo, que vê a salvação da pátria no corte profundo e incondicional de todas as despesas públicas». «Possidónio» seria pois, se existisse, um bicho mais raro do que o lince da Serra da Malcata.

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