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17/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Telefonou-me o Gordon Shumway

A chamada de Melmac foi a pagar no destino (quero dizer por mim). Alf, sem dar notícias desde a altura em que me falou a propósito dos mamilos do Zé, ligou-me a comunicar os resultados das suas análises à nossa complicada conjuntura política. Deu-me conta do que seriam os melhores resultados eleitorais para o país que ele conhece bem desde que passou umas férias escondido com os Tanners na Quinta da Balaia, onde comeu todos os gatos das redondezas. Diz ele que, considerando a pouca disposição das portuguesas e dos portugueses (ele usa esta expressão desde que a ouviu num discurso do doutor Sampaio) para aceitarem os apertos de cinto e o desconforto que as circunstâncias exigem, os melhores cenários serão, por ordem decrescente de preferência e por razões que ele teria explicado se eu não me preocupasse com as contas do telefone, os seguintes:

1) Coligação pós-eleitoral do PS sem maioria absoluta com o PCP, a UDP e a LCI, via os seus veículos CDU e o BE, respectivamente;

2) Coligação pós-eleitoral igual à anterior sem o PCP;

3) PS sem maioria absoluta, com acordos pontuais com o BE e/ou o PCP, ou com deputados do queijo;

4) PS com maioria absoluta;

5) Coligação do PSD (liderado pelo doutor Calimero) e PP.

Segundo Alf de Melmac, a cada um desses cenários corresponde um diferente período de carência para introduzir as temidas reformas necessárias.

1) A meio da legislatura a coligação desfaz-se, o governo demite-se e o PR em exercício nomeia um novo governo PS que não passa na AR; o PR dissolve a AR; o estado caótico das finanças públicas e da economia, deixa os eleitores dispostos a qualquer solução que lhes dê garantias de poder comprar o écran de plasma (ou equivalente, segundo a classe social) ao fim de 3 anos de fome (ou de férias só na Quarteira ou só na Quinta do Lago, conforme a classe social);

2) A coligação aguenta-se até ao final da legislatura com «medidas sociais»; o resultado final é ainda pior do que o do cenário 1) e tão obviamente caótico que os eleitores percebem que só ao fim de 7 anos de vacas magras conseguirão o almejado écran de plasma (ou equivalente) que, aliás, nessa altura, já terá sido substituído por um beamer de hologramas; a acreditar em Alf , este seria para si o pior cenário porque até ele passaria fome se viesse cá de férias - os gatos desapareciam comidos pelos pobres, enquanto os ricos ainda conseguiriam chegar às lebres caçadas em reservas de luxo;

3) O PS aguenta-se até ao final da legislatura discorrendo sobre as soluções miríficas que adoptaria se tivesse uma maioria; no final da legislatura a situação só não está tão má quanto a dos cenários 1) e 2) porque o governo não fez nada;

4) O PS aguenta-se até ao final da legislatura dando umas no cravo e outra na foice; as reformas não foram feitas, as finanças estão exangues e a economia continua anémica, mas o governo diz ao povo que só não foi ainda possível comprar o écran de plasma pelos sacrifícios que as reformas (que não foram feitas) exigiram e que a terra prometida está à vista no segundo mandato que segue; volta tudo ao princípio; este cenário é ligeiramente menos mau do que cenário 5) , o qual já não será possível por lhe faltar um elemento essencial - o doutor Calimero, que entretanto é descartado da candidatura a PR pelo doutor Cavaco;

5) O governo PSD-PP dissolve-se por si próprio; o doutor Calimero compensa-se com uma nova namorada e passa a dedicar três noites por semana às discotecas; o novo PR dissolve a AR e convoca eleições. Este cenário, segundo Alf, seria o pior para os portugueses (e o segundo pior para si próprio) porque seria preciso rebobinar o filme todo e voltar ao princípio só com os 4 cenários anteriores.

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