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22/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: A culpa não pode morrer solteira e faz parte da herança

«Muitos países..., ainda hoje, desfrutam do trabalho produzido pela escravatura. Portugal incluído (e) até hoje ... ainda não foram apresentadas desculpas oficiais pelas atrocidades cometidas», disse Joaquim Chissano, ex-presidente da República de Moçambique. durante a cerimónia de doutoramento Honoris Causa em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade do Minho.

Tem razão o doutor Honoris Causa Chissano, no que toca às atrocidades. Na verdade, a história da humanidade é um longo rosário de atrocidades, a maior parte delas nem sequer associada à escravatura. Apesar de tudo, os escravocratas cuidavam, pouco é certo e só até certo ponto, mas cuidavam da vida dos escravos, que eram mais úteis vivos do que inválidos ou mortos. Na generalidade das outras atrocidades cuidava-se mais da morte e das formas de matar.

Quanto ao costume de pedir desculpas, não tenho nada contra, mas, se queremos ser equitativos, todos os povos vão ter que dedicar as próximas décadas a absolverem-se uns aos outros, pelas atrocidades mutuamente infligidas. Só à nossa conta temos que aceitar desculpas de uma turba que inclui desde os godos até aos franceses, sem esquecer os árabes, os romanos, etc.

Um outro ponto de vista ad hominem, ou, se preferirem, um assassinamento de carácter (eu hoje acordei assim), absolutamente condenável pelo código do politicamente correcto, é o cometido pelos leitores que comentaram a notícia do Público, escrevendo coisas que Maomé nunca escreveria sobre os chouriços:

«os escravos que a gente mandava para o Brasil eram sobretudo de Angola e São Tomé (olha o trabalhão que seria naquela altura trazê-los de nau de Moçambique, que fica do outro lado do continente africano!). Aliás, eram sobretudo comprados a outros patrícios seus, que vendiam os prisioneiros de tribos inimigas para a escravatura. Por que não pedem desculpas a eles mesmos primeiro? Portugal não é culpado do subdesenvolvimento das ex-colónias, as guerras civis, corrupção e desvios de dinheiros pertencentes ao povo para bancos na Suíça que se deram depois da independência é que são.»

«Quem devia pedir desculpa era ele e a família pelo desvio de milhões (que devem estar em grandes contas no estrangeiro) pertencentes ao povo de Moçambique e pelo mal que fez ao mesmo povo e não só ao longo destes anos. Um país belíssimo e o mais miserável do Mundo! Isto é que merece pedido de desculpas por parte dele! Isto é o que se chama cuspir contra o vento!»

Não é bonito estes leitores ressabiados atirarem-se ao homem, mesmo estando ele a pedi-las. Será que lhe deverão apresentar desculpas oficiais?

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