Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

03/04/2005

ARTIGO DEFUNTO: «a globalização está a dar cabo de nós» (ACTUALIZADO)

Na sua coluna «Cem por cento» no caderno Economia do semanário Expresso, o doutor Nicolau Santos descreve como descobriu a causa das nossas desgraças, sob um título que é um programa de vida: «A globalização está a dar cabo de nós». O que pode esperar-se que escreva um sujeito com aquele lacinho, aquele olhar de lado, turvo e fugidio?

Apesar de não explicar o porquê da causa da nossa desgraça fazer a alegria de irlandeses, ingleses, luxemburgueses, dinamarqueses, holandeses, finlandeses, até dos nossos vizinhos espanhóis, sem falar os chineses, indianos e toda imensa legião dos que anseiam ser vítimas da globalização, o doutor Nicolau não é um pessimista. Ele acha que a coisa não é inevitável.

A receita, sendo estupidamente simples, coloca-me algumas dúvidas.

Poção n.º 1 «Algumas empresas em sectores estratégicos têm que se manter em mãos nacionais»
Porquê algumas? E que mãos são essas que garantem que não as vendem aos espanhóis? Não seria mais seguro repor o artigo 80º da Constituição de 1976 e voltar à «apropriação colectiva dos meios de produção e solos» que tão bons resultados deu? (*)

Poção n.º 2 «Incentivar os investimentos estrangeiros em investigação e desenvolvimento»
Como irão os estrangeiros «deslocalizar» dos seus países de origem para Portugal a investigação e desenvolvimento, sem terem que ler os doutores Nicolaus domésticos a escrever nos seus semanários domésticos que a globalização está a dar cabo de nós (deles)?

Poção n.º 3 «Estimular o orgulho dos empresários nacionais em manterem as empresas nas suas mãos»
Como se estimula o orgulho dum empresário português a quem um empresário espanhol oferece 100 milhões de euros pela sua empresa?

Poção n.º 4 «Fazer compreender os sindicatos que o que agora está em jogo não são os aumentos para o mês que vem - mas saber se ainda teremos emprego daqui a 5 anos»
Como se faz compreender os sindicatos? (uma boa resposta aqui vale um almoço no Pabe)

Poção n.º 5 «O governo (deve simplificar) os processos»
Pois. Aqui não tenho dúvidas.

Poção n.º 6 «Choque tecnológico (que) cabe que nem uma luva no novo ... PEC»
Sem dúvida. O choque tecnológico, mais 50.000 funcionários públicos, a continuação das promoções automáticas, um comboio para chegar meia hora mais cedo às reuniões no Porto, etc. (um grande etc.)

(*)
ACTUALIZAÇÃO
Talvez não precisemos de ir tão longe. Se 500 acções que o governo têm na PT, uma empresa cotada na Euronext e em Nova Yorque, são suficientes para o ministro das Obras Públicas, um ex-comunista pouco arrependido, adiar por um mês a assembleia geral convocada, a pretexto de estudar melhor a agenda, para quê repor o artigo 80.º?

Sem comentários: