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16/11/2005

ESTÓRIAS E MORAL: fábula da rã e do tacho

Estórias

O BdeP revê a previsão de crescimento em 2005 para 0,3% e o ministro das Finanças desvaloriza a previsão, comentando em Londres que não a quer «sobrevalorizar». (DE)

A taxa de desemprego atingiu a 7,7% no 3.º trimestre, o valor mais elevado desde 1998 (INE, citado pelo DE).

O ministro das Obras Públicas informa-nos que «foi decidido dar prioridades às linhas que são auto-sustentadas na sua exploração», deixando-nos na ignorância acerca de como fará o milagre. Milagre que toda a Europa que tem TGV aguarda ansiosamente para por fim ao défice que aflige praticamente todas as linhas. (DE)

Enquanto isso, o ministro da Saúde reconhece que existem funcionários redundantes (1.000 em 6.000 só no Hospital de Santa Maria), mas garante-lhes que «não têm razão para estar preocupados». Quem não é funcionário do ministério deverá ficar preocupado com a falta de preocupação do ministro. (DE)

Estas quatro notícias podem ler-se todas elas na edição online do Diário Económico de hoje. Ontem tivemos outras e amanhã teremos ainda outras vagamente preocupantes. Nada de novo, business as usual. Nada que impressione os portugueses embalados pelo suave ronronar dos ministros do governo do engenheiro Sócrates - aqui a tradição continua a ser o que era, porque pouco os distingue dos ministros anteriores dos consolados dos doutores Durão Barroso e Santana Lopes, salvo uma maior preocupação pela pose de Estado.


Moral (sob a forma duma conhecida fábula que ilustra o problema da mudança na gestão)

Era uma vez uma rã que saltitava alegremente na beira dum lago, despreocupada e alheia aos perigos do mundo. Perigos que na circunstância consistiam num tacho acabadinho de pôr ao lume pelos operários que trabalhavam na obra ali mesmo ao lado. No tacho esperavam cozer umas batatas para acompanhar as febras de porco que aguardavam, impacientes, pela companhia. Tacho dentro do qual a nossa rã finalizou o seu último e acrobático salto.

Em pleno inverno, um frio de rachar, aquela água morna era o paraíso para uma pobre rã de sangue frio. E assim foi ficando, cada vez mais confortável. Até ao ponto em que o calor a fez suar (nesta estória as rãs suam). Mas era tudo tão devagarinho que a nossa amiga se foi deixando estar. Quando se deu conta das borbulhas escaldantes que subiam do fundo do tacho, só teve tempo de dizer com os seus botões «estou feita» e encomendar a alma ao criador.

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