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25/12/2005

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: uma prenda de Natal pós-moderna

Suspeito que a cronista Ana Anes que assina uma crónica no caderno Vida de O Independente não é a mocinha com um look equívoco, cuja foto encima a coluna, mas um marmanjo mulherengo, machista e, em consequência, misógino, dedicado a denegrir o mulherio.

Leio assiduamente a crónica, com o nome programático «Sete anos de mau sexo», com a atenção e cuidado que uma dissecção requer. Semana após semana, perpassa pela crónica um bem estudado e fingido ódio ao macho, que à primeira vista poderia parecer eflúvio de mulher mal amada, para dizer a coisa com a contenção que a quadra natalícia espera de mim, mas que uma análise desconstorcionista revela provir de uma criatura do género masculino com um projecto. E que projecto! O que a criatura quer induzir nas nossas meninges é a ideia que a mulher moderna emancipada aborda a relação com o outro género, e em particular com o sexo propriamente dito, de acordo com os paradigmas e os comportamentos dum estereotipo masculino, que hoje já só se encontra num resíduo do género, ou seja do que resta depois de expurgada as tendências BGT, metrossexuais e outras tribos, e dos últimos vestígios de homo vulgaris predominante no século passado.

Na sua última crónica, o marmanjo que se faz passar por Ana Anes visa na aparência diminuir a competência masculina para executar a cunilíngua - a autoridade de Paretto é invocada para demonstrar que «80 por cento dos homens fazem m... como os São Bernardo lambem as vítimas perdidas na neve». Mas só na aparência, porque a aplicação da análise descontorcionista revela, uma vez mais, que o seu propósito é mostrar que as mulheres emancipadas queimaram o talento junto com os sutiãs na década de 60, e só lhes restou nas décadas seguintes mimarem os homens, fumando, chutando, emborrachando-se, falando patoá de tasca, engatando e comportando-se na cama segundo o que julgam ser o cânone do macho, hoje caído em desuso.

Mas a estratégia de ocultação do marmanjo cai desamparada quando insinua que Ana Anes, no role model de mulher emancipada, preferiria uma cunilíngua como «prenda jeitosa de Natal» a «jóias» ou a «um casaquito do Cavalli», ou um banal «fim de semana numa pousada». Esta, só mesmo um marmanjo a fazer de gaja se lembraria de inventar.

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