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04/12/2005

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: parir e pastorear bebés é para fêmeas beta

Na sua Crónica Feminina na Única desta semana, a escritora Inês Pedrosa ironiza sobre o «mau hábito que as mulheres adquiriram de privilegiar o seu projecto pessoal de vida em vez de parirem e pastorearem, a tempo inteiro, rebanhos de bebés gordinhos», hábito que tem, como reconhece, uns pequenos inconvenientes, como a insustentabilidade da Segurança Social, entre outros bem mais graves.

A ironia de Inês Pedrosa e a ideia que lhe subjaz é um exemplo dum dos feitos mais extraordinários na guerra dos géneros que devemos levar a crédito do machismo mais ou menos encapotado. É sem dúvida extraordinário que um magote de atrasados mentais tenha conseguido enfiar nas meninges ultra-inteligentes das elites feministas que parir e pastorear bebés gordinhos é uma actividade talvez adequada para «domésticas» mas imprópria para fêmeas alfa.

Ainda mais surpreendente é a solução que Inês Pedrosa vê para este pequeno incómodo de encontrar quem lhe pague a reforma. Reconhecendo que, além desse inconveniente, as sociedades europeias decadentes também têm um problema de integração dos imigrantes, ainda mais aflitivo a curto prazo, como o churrasco das bagnoles veio lembrar, Inês Pedrosa encontra neste problema a oportunidade para resolver o outro. Por baixo do patoá politicamente correcto, encontramos a solução: o «sangue novo que vem de outros continentes», ou, dito de outro modo, parir e pastorear rebanhos de bebés (gordinhos ou, sobretudo, magrinhos) pode não ser uma boa ideia para as nossas mulheres que têm um «projecto pessoal» mas é uma actividade perfeitamente recomendável para as outras.

Se a primeira ideia é digna do melhor machismo, a segunda está à altura do pior racismo.

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