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09/08/2006

BREIQUINGUE NIUZ: desaparecidos em combate

Faz amanhã 4 semanas que o ministro das Finanças fez no parlamento o anúncio mais espantoso deste século: 120.000 (cento e vinte mil) funcionários públicos tinham desaparecido em 7 anos.

Na penúltima contagem em 1999, durante o consolado do saudoso picareta falante, tinham sido encontrados cerca de 700 mil funcionários. Nos anos seguintes, somando as entradas e subtraindo as demissões e reformas foi-se chegando a um número de 750.000, que parece ter sido durante algum tempo a única coisa que tinha o consenso do governo e da oposição. Foi assim. O doutor Teixeira dos Santos estragou a plataforma numérica do bloco central (o BE e o PCP não se interessam por coisas da aritmética e o CDS andava ocupado com os ex-combatentes que não desapareceram em combate) anunciando que «existem 580.291 funcionários públicos em Portugal».

Não são cerca de 600 mil, nem mesmo cerca de 580 mil, ou ainda cerca de 580.300. Nada disso. São exactamente 580.291, quinhentos e oitenta mil duzentos e noventa e um. Noventa e um, note-se.

Perguntareis: mas porquê só agora ó impertinente falas deste anúncio, velho de 4 semanas? E eu respondo: estive à espera do rebentar do escândalo, da moção de censura, do levantamento dos sindicatos, duma insurreição, do protesto da ordem dos técnicos de estatística. Em vão. Com a maior tranquilidade, a nossa democracia mostrou a sua maturidade. A coisa morreu na hora e no local.

À primeira vista pareceu-me incompreensível. Depois, dia após dia, nestas 4 semanas, amadureci o assunto e cheguei a uma aliviante conclusão. Considerando os tropeços com a aritmética que os patrícios têm evidenciado nos últimos 30 anos, exemplificados com as obras públicas que deveriam durar dois anos e duram cinco, ou que deveriam custar 100 e acabam custando 600, o desaparecimento de 120.000 utentes da vaca marsupial pública acabou por me parecer um episódio menor. Afinal são só 16%.

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