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04/09/2006

NÓS VISTOS POR ELES: lost in translation

Após um longo interregno, retoma-se esta secção do Impertinências, com as impressões de duas vítimas fugidas dos escombros do império soviético para os escombros do 5.º império, que quase assolaparam os seus rebentos.
Alla desistiu de ter o filho, de 12 anos, a estudar em Portugal. Ao fim de seis anos de escolaridade, fartou-se de o ouvir dizer que «ia descansar para a escola», que aqui se aprendia brincando e da «grande indisciplina» que marcava o dia-a-dia do ano lectivo nacional. O miúdo até ia bem - era um dos melhores da turma - mas voltou para a Ucrânia. Lá, garante a mãe, é «tudo muito diferente. A professora não é uma amiga, é quem ensina. Os alunos estão lá para trabalhar e aprender. Não há brincadeira».

Explicar que só no final do 4.° ano é exigido que os alunos portugueses saibam ler, escrever e contar, torna-se difícil de traduzir. Porque o fosso que divide a educação nacional e a das memórias dos imigrantes do Leste é, de facto, de tamanho «extra large». «Prefiro nem falar disso», diz Julia Gundarina, uma professora russa que apesar de estar cá há cinco anos e de «gostar tanto» que nem pensa em voltar para casa, assume que «a educação é pior de tudo». Estranham, sobretudo, a maneira como se ensina, a falta de ordem, a «balda» generalizada.
(Expresso 02-09, «O ensino aqui é o pior de tudo»)

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