Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/08/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: não há bem que sempre dure, mas há mal que nunca acaba (pelo menos desde o século XVI)

- Lembras-te que há anos me falas que a Espanha não sei quê, que os espanhóis não sei que mais?
- Não estou a perceber.
- Pois, que o PIB espanhol cresce 3 ou 4 por cento, que o orçamento tem um superavit, que os espanhós fizeram as reformas, etc.
- Ah, sim! Lembro-me. No es verdad?
- Talvez tenha sido verdade. Ou tem sido verdade. Prepara-te para a má notícia.
- E qual é a má notícia?
-Que «a Moody's e a Standard and Poor's, as maiores agências mundias de rating, coincidem quanto à advertência de que o milagre económico espanhol impulsionado pelo consumo interno poderá conhecer "um final abrupto"» diz aqui o Diário Económico. Como vês não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, diz o povo e com razão.
-Hombre, mas nós já tivemos o final abrupto com 7 anos de avanço e nunca chegámos a ter os 3 ou 4 por cento de crescimento, o superavit, e as reformas.
-Desisto. Não há nada a fazer contigo.
[Inspirado numas conversas que eu cá sei, com um amigo que eu sei que ele sabe que eu sei, como disse uma vez aquela marmota do CDS ao Paulinho das Feiras]

30/08/2007

BREIQUINGUE NIUZ: tem o ministro toda a razão

Respondendo às críticas da oposição desconstrutiva (1) que o censuraram pela falta de segurança a propósito duma qualquer rixa, o recém-ministro da Administração Interna, vindo duma passagem fugaz pelo Tribunal Constitucional, deu à oposição o merecido troco à saída da reunião semanal do Conselho de Ministros garantindo que «Portugal dispõe de 50 mil membros das forças de segurança. Dá um rácio dos melhores da Europa e do mundo».(Público)

Tem o ministro toda a razão e se o digo é para mostrar que não é verdade:

  1. que a oposição tenha sempre razão
  2. que o Impertinências só dá com o pau no governo.
E para demonstrar a razão do ministro cito (2), duma só vez, 3 fontes com grande credibilidade (3):
«Segundo os números do Pocket World in Figures citado por Pedro Arroja ... o estado português é o 4.º mais policiado do mundo. É um estado policial, por assim dizer.

Total police personnel per 100.000 pop.
1. Mauritius 756
2. Italy 560
3. Barbados 516
4. Portugal 491

Portugal tem mais polícias por 100.000 habitantes do que o Casaquistão, que é o 7.º com apenas 464.»
Há uma interessante questão que fica, por agora, pendente que é saber onde se encontram tantos polícias que não aparecem quando são precisos.

NOTAS:

(1) Fica de fora o hipotético futuro líder doutor Menezes, que deixou claro, a respeito do tema que agora me ocupa, não ser «dos que fazem discursos permanentes de "bota abaixo"»;

(2) Nesta altura aproveito para marcar as minhas diferenças em relação a doutor Menezes, recentemente acusado de plágio. Aproveito também para esclarecer que, se há coisa que o doutor Menezes não faz, é copiar quem quer que seja. Ele é único.

(3) Por ordem de credibilidade: o Impertinências, o doutor Arroja e o Economist.

29/08/2007

CASE STUDY: quanto mais, menos

Lost in data migration

No Japão, um país com a indústria electrónica mais avançada do planeta, o serviço de segurança social não consegue relacionar 50 milhões de registos de pensões com os contribuintes entre os quais se encontram 14 milhões que nunca foram registados no sistema informático (ver aqui, por exemplo).

28/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: como os deputados se vêem a si próprios

Algumas alterações ao Estatuto dos Funcionários Públicos, perdão dos Deputados, introduzidas por uma das últimas ejaculações legislativas da assembleia da República (Lei n.º 43/2007 de 24 de Agosto):

Artigo 8.º Perda do mandato
1 - ...
2 - Considera-se motivo justificado a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, força maior, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o Deputado pertence, bem como a participação em actividades parlamentares, nos termos do Regimento.
3 - ...
4 - Em casos excepcionais, as dificuldades de transporte podem ser consideradas como justificação de faltas.

Artigo 15.º Outros direitos

1 - ....
2 - Ao Deputado que frequentar curso de qualquer grau de ensino, oficialmente reconhecido, é aplicável, quanto a aulas, exames e outras prestações de provas académicas e científicas, o regime mais favorável de entre os que estejam previstos para outras situações.

27/08/2007

ESTÓRIAS E MORAIS: o papagaio fidelista

Estória

En Cuba, un niño regresa de la escuela a su casa, cansado y hambriento y le pregunta a su mamá:
-"Mamá, que hay de comer?"
-"Nada, mi hijo."
El niño mira hacia el loro que tienen y pregunta:
-"Mamá, por qué no loro con arroz?"
-"No hay arroz."
-"Y loro al horno?"
-"No hay gas."
-"Y loro en la parrilla eléctrica?"
-"No hay electricidad."
-"Y loro frito?"
-"No hay aceite."
El loro contentísimo gritaba:
-"¡¡¡VIVA FIDEL!!! ¡¡¡VIVA FIDEL!!!"


Moral

Cada um tem os admiradores que merece.

[Estória enviada por JARF]

25/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (17)

Sua Majestade EL HADJ MAMADOU KABIR USMAN, Emir of Katsina, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

24/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: não há cura para esta maleita

Secção Still crazy after all these years

«O dirigente do PCP Vasco Cardoso acusou hoje o Governo de ser "o campeão" não só do desemprego mas também da precariedade, alegando que em Portugal um em cada quatro trabalhadores não tem um vínculo laboral. "Em vez da prometida criação de 150 mil postos de trabalho assumida pelo PS durante as últimas eleições legislativas, o que se verifica é que o número de desempregados cresceu desde a tomada de posse do Governo, de 399.300 para os actuais 440 mil", criticou.» (Público)

É inesgotável a minha admiração pela capacidade dos comunistas não aprenderem nem esquecerem nada. Será que estas criaturas não entendem que uma das causas do que eles chamam de «precariedade» é o excesso de garantias de emprego para toda a vida? É a função zingarilho em plena acção: quanto mais garantias mais desemprego. Não percebem que os pais dos recibos verdes são os «vínculos laborais» mais duradouros do que os casamentos pela santa madre igreja?

Não entendendo estas trivialidades, não espanta que as criaturas imaginem que o governo cria «postos de trabalho». Quanto muito, mais emprego a adicionar aos 750 mil utentes da vaca marsupial pública.

É por isso que também não espanta que levem com mais 4 bourbons e 4 chateaubriands. E agradeçam ao branco Cunha Martins 2006 (que ainda me está a amaciar o fígado) não levarem uns quantos ignóbeis.

23/08/2007

DIÁRIO DE BORDO: apesar do final de bom nível, com frutos secos e uma pequena sensação tostada

Pode faltar-me a inspiração, o talento e o tempo, por esta ordem, mas não me faltam temas para tratar aqui no Impertinências. Tenho uma lista de espera maior do que a das operações às varizes nos hospitais civis. A única forma de reduzir a lista é esperar que o tema perca a oportunidade - o equivalente à morte dos utentes varicosos.

Hoje é um daqueles dias. Olho para a lista transbordante de temas desafiantes e nada. Nem um clique. Em desespero, recorro à receita do casal Quevedo, magnanimamente dada a conhecer aos leigos na Atlântico, onde escreveram sobre as eleições para a cama (?) de Lisboa.

Fui a correr ao Carrefour, vasculhei as prateleiras, desencantei o branco Cunha Martins 2006, impacientei-me enquanto a botelha arrefecia no congelador, na companhia duma água das pedras, sentei-me, relaxei, saboreei.

«Com 13% Vol tem uma bonita cor amarelo-citrino de leve concentração. No nariz, apelativo e nada tímido mostra aromas de maçã Golden, relva e um toque tropical de manga a dar uma boa entrada. Nota-se ainda com o passar do tempo no copo um ligeiro aroma de manteiga que traz alguma complexidade.

Na boca, embora de estrutura ligeira, não é um vinho apenas citrino e refrescante, pois nota-se alguma profundidade aromática, onde a madeira está muito discreta, mas fez o seu papel. Tropical, maçã e ananás, ligeiramente doce embora com a acidez presente. O final é de bom nível, com frutos secos e uma pequena sensação tostada.

Um vinho claramente bem feito, excelente para o preço e que para quem tiver paciência que perca algum tempo com ele, apreciando-o, pois não é mais um branco de verão.
»

[no Vinho da Casa, de Paulo Miguel Silva, um jovem de 23 que só consegue escrever coisas como estas, que um cidadão comum só pode aspirar aos 40 anos, à custa de muito estudo dos cunhas martins e doutras honradas famílias].

Perdi tempo com ele, apreciei-o, vi-lhe o amarelo-citrino, cheire-lhe os aromas nada tímidos de maçã e de relva, dei-lhe uma boa entrada. Só o final me desiludiu. Nicles. A inspiração foice. Foice? Será foisse? Xente, estes 13 degraus acabarão cumigo. Ceria da ágoa das phedras?

22/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista (3)

Destaque para a competente desmontagem que o Abrupto leva a cabo aqui e aqui da limpeza ética que os verdeufémios e os gaias estão a realizar nos seus sites para se inocentarem da delinquência de Silves.

Azar o deles. Estaline pode ter mandado queimar os livros de história, mas estas criaturas não conseguirão apagar o seu passado da Web.

CASE STUDY: série reis de África (16)

Sua Majestade SALOMON IGBINOGHODUA, Oba Erediauwa of Bénin, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

20/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista (2)

As brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista subsidiadas pelo estado napoleónico-estalinista governado pelo engenheiro Sócrates.
«A página do Governo (citada em baixo) onde se apelava à participação na Ecotopia foi retirada de linha. (Muita coisa aconteceu neste domingo moroso...) Isto não isenta a responsabilidade do Governo na sua existência, e no compromisso que ela traduz. Falta também saber se o Governo subsidiou directa ou indirectamente a Ecotopia e porque razão os meus impostos servem para pagar estas palhaçadas. Sim porque a leitura dos documentos da Ecotopia não enganam ninguém na mistura de causas radicais, new age anti-cíentifico, misturado com um clima de utopia de acampamento com "democracia directa".» (Abrupto)

19/08/2007

ARTIGO DEFUNTO: os pobres que paguem a crise

O Sol deste fim de semana mostra-nos um case study do jornalismo económico praticado pelo jornalismo de causas. A notícia é um scoop e o título é um verdadeiro achado.

Outros títulos alternativos: «Os pobres portugueses ajudam os pobres americanos»; «A filantropia dos bancos americanos que emprestam dinheiro aos inadimplentes americanos prejudica os inadimplentes portugueses»; «Bancos portugueses encontram o álibi quase perfeito para aumentarem os spreads».

18/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista

«Cerca de cem activistas (*) contra os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) destruíram esta sexta-feira cerca de um hectare de milho transgénico cultivado numa herdade em Silves, enquanto o proprietário, em lágrimas, os tentava desmobilizar.»

(*) Eufemismo que o jornalismo de causas utiliza para designar delinquentes.

Ver aqui o vídeo da brincadeira dos filhos da burguesia berloquista depois duma noita nas discotecas algarvias.

17/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (15)

Sua Majestade BOUBA ABDOULAYE, Sultan of Rey-Bouba, Cameroun
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

16/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: um país, dois sistemas (2)

Secção Padre Anchieta

O PIB cresceu 0,7% no 1.º trimestre e o governo facturou por conta dos amanhãs que iriam cantar. Os amanhãs não cantaram, o PIB cresceu 0,4% no 2.º trimestre e o governo, num momento de inspiração, disse pela boca do ministro das finanças que é «um padrão de comportamento intra-anual».

Se o governo quer ser creditado pelos 0,7%, tem que ser debitado pelos 0,4%. Se o senhor Jerónimo de Sousa quer debitar o governo pelos 0,4%, como anunciou ontem aos 200 maduros que se reuniram para o ouvir na Mata de Monte Gordo (uma espécie de Pontal comunista), devia ter-lhe creditado os 0,7% do 1.º trimestre.

O governo e o senhor Jerónimo de Sousa padecem de doenças da mesma família. O governo só trata da economia mediática (aquilo de que falam os «200 palhaços que vão à televisão falar de economia»). O secretário-geral comunista só trata de planos quinquenais.

O governo já teve ontem a sua conta com dois chateaubriands para o doutor Teixeira dos Santos e três pilatos para o engenheiro Sócrates. É justo que hoje se atribua ao senhor Jerónimo de Sousa três chateaubriands e cinco bourbons.

15/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: um país, dois sistemas

Secção Insultos à inteligência

O PIB cresceu 0,7% no 1.º trimestre, o doutor Teixeira dos Santos disse: estamos no bom caminho, aproxima-se o fim das vacas magras, ou uma qualquer outra coisa parecida. O engenheiro Sócrates disse mesmo mais, já vejo a luz ao fundo do túnel.

O PIB cresce 0,4% no 2.º trimestre, o doutor Teixeira dos Santos diz que "estas oscilações são habituais e não preocupantes", que Portugal se está "a aproximar da média europeia" (Portugal deve ter desacelerado por solidariedade, digamos), "este é um padrão de comportamento intra-anual que não é de estranhar" (e o 1.º trimestre não foi de estranhar?). O engenheiro Sócrates desta vez não disse mesmo mais, por estar ausente em parte incerta.

Dois chateaubriands para o doutor Teixeira dos Santos e três pilatos para o engenheiro Sócrates e votos de continuação de boas férias.

14/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (14)

Sua Majestade OBA JOSEPH ADEKOLA OGUNOYE, Olowo of Owo, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

13/08/2007

BLOGARIDADES: correcção da correcção ou o criminoso volta sempre ao local do creme

Há um par de dias publiquei o Diário de Bordo «eu diria mesmo mais», a propósito das campanhas gay de angariação de novos aderentes a que se referia o post de João Miranda Adolescentes nas marchas gay.

Para ilustrar o deboche, juntei uma foto do post E agora um pouco de demagogia e desonestidade intelectual que também tenho direito, que não confirmei (por náusea) fazer parte do lote das 120 do Canal Parade Amsterdão 7 de Agosto.

Reparei hoje que o escrúpulo do insurgente Carlos G. Pinto o levou a fazer uma «correcção», preocupado com o facto da foto que publicou (e eu com ele) poder não fazer parte do deboche deste ano. É bem possível, mas permita-se-me a correcção da correcção - é igual ao litro porque no lote das 120 deste ano estão lá outras igualmente significativas, como estas (a 3.ª também foi publicado pel'O Insurgente):

[clicar para ver o deboche em grande]

11/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: separados à nascença

Não sei se o que me chamou a atenção foi a foto (na página 14 do Confidencial) dos dois lustrosos figurões, quais gémeos separados à nascença, encenando um almoço no «Terreiro do Paço». Também poderia ter sido a citação destacada do gémeo doutor Bernardo Trindade, secretário de estado do Turismo, congratulando-se pelo «belíssimo ambiente entre governo e iniciativa privada», iniciativa ali à mesa protagonizada pelo outro gémeo, doutor Miguel Rugeroni, administrador da Espírito Santo Turismo.

Os dois gémeos partilham não apenas o look lustroso, as fatiotas cinzentas do mesmo alfaiate, os grizalhos, a bem-falância, mas também o mesmo patrão - o grupo Espírito Santo, apesar do primeiro estar temporariamente afastado do banco do mesmo grupo de que é director.

Partilhando ambos o optimismo em relação ao resultado do conúbio entre governo e iniciativa privada, o doutor Rugeroni, não muito confiante na noiva, faz um apelo ao noivo à altura do melhor da política salazarista do condicionamento industrial. Preocupado com os efeitos perversos do excesso (acha ele) de oferta já existente e com a anunciada pletora de novos projectos turísticos, o homem dos Espíritos sugere «alvarás», naturalmente administrados com parcimónia pelo noivo. Para que não haja confusões e para marcar a sua diferença, o homem dos Espíritos esclarece que «não seria um sistema de quotizações».

DIÁRIO DE BORDO: eu diria mesmo mais

«No entanto, nem todas as pessoas com comportamentos homossexuais são homossexuais biológicos. As comunidades homossexuais dependem da transmissão cultural para se formar e para se expandir. Para se formarem novas comunidades porque o baixo número de homossexuais na população torna difícil a formação de comunidades de pessoas com os mesmos interesses sexuais. Para se expandir porque quer os homossexuais biológicos quer os culturais precisam, para aderirem às comunidades homossexuais, de ultrapassar as barreiras culturais que as sociedades tradacionais colocam à homossexualidade.

Sendo assim, a selecção cultural tenderá a premiar a cultura gay que se auto-promove, quer através de manifestações públicas, quer através da arte e da literatura. Não é por isso estranho que a cultura gay tenha gerado manifestações públicas exuberantes como as paradas gay. E também não é estranho que se procure enquadrar adolescentes nessas paradas (ver aqui, e aqui). Os adolescentes são ao mesmo tempo um alvo fácil e apetecível. Fácil porque se encontram em formação. Apetecível porque garante a transmissão da cultura gay muito para além da próxima geração. Se as igrejas e os clubes de futebol procuram recrutar os seus futuros elementos nas camadas mais jovens, porque é que a comunidade gay não haveria de o fazer? Devemos esperar que a preocupação em transmitir ideias e comportamentos aos menores seja uma característica de qualquer cultura bem sucedida
[do post blasfemo Adolescentes nas marchas gay]
[foto da Canal Parade Amsterdão 7 de Agosto, também publicada pel'O Insurgente]

Eu diria mesmo mais, se a comunidade gay procura recrutar os seus futuros elementos nas camadas mais jovens, porque é que a comunidade homofóbica não haveria de o fazer?

08/08/2007

DIÁRIO DE BORDO/ARTIGO DEFUNTO: a náusea

Assistir a um qualquer dos telejornais é uma experiência nauseante para uma alma que ainda não esteja totalmente impregnada do paradigma jornalístico doméstico.

Telejornais que duram sempre mais de 30 minutos, por vezes até uma hora, atascando-se na lama das banalidades. Estagiário(a)s esganiçado(a)s aproveitam os minutos mediáticos a que têm direito, expelem ansioso(a)s dilúvios de palavras sobre trivialidades e fazem as perguntas fatais aos desgraçadinhos a quem enfiam o micro pelos queixos (tem alguma ajuda estatal? já recebeu o subsídio? a câmara/o governador civil/as autoridades já cá estiveram?). Câmaras manipuladas por potenciais realizadores, suspensos do primeiro subsídio, filmam as mãozinhas do entrevistado e os rostos alarves dos curiosos que espreitam por cima dos ombros uns dos outros.

07/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (13)

Sua Majestade JOSEPH LANGANFIN, Benin
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

06/08/2007

CASE STUDY: como que a assembleia geral dos lampiões

Até há 6 meses ninguém arriscaria prever que o discreto Millenium bcp, onde cada reunião do conselho de administração ou do conselho geral mais parecia um family gathering, realizaria assembleias gerais que mais pareceriam as do Sport Lisboa & Benfica.

60-sessenta-60 jornalistas e repórteres cobrem o mediático evento, que a estas horas acaba de ser interrompido sem que nada de substancial tenha sido resolvido (mais uma semelhança com as assembleias dos lampiões).

Quem diria que, desfeito o verniz da excelência, o Millenium bcp se revela tão genuinamente português? Luta surda pelo poder que os protagonistas negam, protestando juras de concordância, fidelidade e lealdade, pegas de cernelha, tudo de mistura com palhaçadas, desejos de mediatismo, bicos de pés, graxismo.

05/08/2007

ESTÓRIAS E MORAL: o sobrinho taxista vai abrir outra conta na Suíça

Estória n.º 1

Há um ano um munícipe de Oeiras apresenta na câmara um projecto de remodelação da sua moradia. Durante 4 meses o processo cria bolor em cima da secretária de um arquitecto. Após muitas insistências, o projecto de arquitectura foi finalmente (informalmente) aprovado no 6.º mês. Pelo meio algumas cenas kafkianas, como a insistência para harmonizar o projecto com os projectos originais das moradias próximas, todas elas já entretanto modificadas sem projecto aprovado («só nos interessa o que está no processo»). Os projectos de especialidade entregues imediatamente a seguir precisam de mais 2 meses para ser aprovados. Dez meses após a entrega do projecto, é emitida a licença de construção. Foi bastante rápido, disseram ao pobre munícipe criaturas conhecedoras dos meandros camarários.

[A quem possa interessar: o Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro estipula um prazo máximo de 30 dias para deliberação da câmara neste tipo de obras. Perguntem a um juiz porque razão é mais fácil encontrar um autarca honesto do que um munícipe que tente obter uma decisão de aprovação tácita num tribunal.]


Estória n.º 2

Há 10 anos o IPE apresenta uma proposta à câmara de Oeiras para edificação na zona da Fundição de Oeiras. A proposta é chumbada com o argumento dum índice de construção excessivo (1,7) que a câmara queria reduzido para 1,5. Três anos depois a Fundição de Oeiras é comprada ao IPE por 30 milhões de euros por um «promotor» que a vende ao Invesfundo em 2006, por 44,4 milhões. Um ano depois, em 11 de Julho passado, a câmara aprova um outro projecto com um índice de ocupação de 1,85, que inclui 13 edifícios e 2 torres de 21 andares. Segundo o Sol, os terrenos da Fundição de Oeiras passarão agora a valer 113 milhões de euros.

A aprovação do projecto corre à velocidade da luz. A projecto apresentado em 29 de Junho obtém todos os pareceres uma semana depois (o da divisão de Trânsito e Transportes foi feito em 24 horas). O doutor Isaltino despacha o processo no sábado 7 de Julho e a câmara aprova-o na sua reunião seguinte de 11 de Julho.

Moral

It is inaccurate to say that I hate everything. I am strongly in favor of common sense, common honesty, and common decency. This makes me forever ineligible for public office. (H. L. Mencken)

04/08/2007

TRIVIALIDADES: geometria fractal - Cats in a bag

BREIQUINGUE NIUZ: um contabilista em Belém?

É difícil a uma criatura não contaminada pelo controleirismo serôdio do ministro doutor Santos Silva deixar de concordar com o veto do presidente da República ao vergonhoso estatuto do jornalista.

Para rejeitar o diktat corporativista da limitação aos licenciados do acesso à profissão de jornalista o professor Cavaco Silva tinha à mão argumentos de peso (uma inaceitável intromissão do estado napoleónico-estalinista no exercício da profissão) e até alguns politicamente correctos (a discriminação dos jovens vítimas do insucesso escolar). Como compreender que não tenha encontrado um fundamento melhor do que «o acréscimo de despesas de pessoal» (Expresso) que daí resultaria?

[É uma pergunta retórica. A impermeabilidade do professor Cavaco à política pura e dura e a sua insegurança face às ideias, que o leva constantemente a camuflar as escolhas políticas sob vestes pseudo-técnicas, não faria prever outra coisa.]

02/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: «preços sociais»

Pior do que a desconfiança dos mercados endémica no estatismo do PS, na circunstância protagonizada pelo doutor António Costa, membro do governo em comissão de serviço na câmara de Lisboa, só o furor intervencionista do Zé e dos seus amigos berloquistas.

Pior do que qualquer deles em separado é o segundo encavalitado na primeira. O preço do voto do Zé nas sessões da vereação vai incluir uma medida que o falecido regime salazarista não desdenharia ter tomado: a obrigação a impor aos promotores imobiliários da venda de 20% das casas a «preços sociais». Para além do facto do diferencial do preço social para o preço de mercado ter que se fatalmente pago por quem não tem acesso à mordomia, acresce que tal imposição se presta a todo o tipo de expedientes que acabarão por lhe retirar todo o alcance «social».