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14/10/2007

CASE STUDY: a ecoanomia presa na armadilha do endividamento e o axioma do lugar do outro

O discurso cronicamente optimista do governo sofre uma (breve) pausa com as más notícias do desemprego que teima em não diminuir e as previsões de crescimento do FMI. Concentra-se momentaneamente nos auto-elogios ao milagre do redução do défice, conseguido à custa essencialmente do aumento das receitas fiscais (veja-se a demonstração feita neste post). O discurso certamente voltará, inevitavelmente reforçado e cada vez mais desligado da realidade, em sintonia com a doutrina oficial da «confiança», cuja putativa falta, decorrente das políticas dos governos Durão Barroso e Santana Lopes, segundo a explicação oficial, explicaria a anomia.

Não ocorrerá ao governo que se a causa fosse a falta de «confiança», a confiança já deveria ter regressado depois de 2 anos de poses de estado e de maciças manipulações mediáticas? Não ocorrerá ao governo que, como o próprio reconhece, sendo o problema principal a retracção do investimento, a solução terá que passar pelo seu aumento? Não ocorrerá ao governo que se o investimento for público (TGV, novo aeroporto, etc.), terá que ser financiado directa ou indirectamente com mais impostos e não terá senão um efeito marginal e evanescente na capacidade produtiva? Não ocorrerá ao governo que o aumento do investimento privado interno carece da (inexistente) poupança das famílias (endividadas) ou das decisões de investimento das empresas (endividadas)? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para o mercado interno não têm muitas razões para investir dada a retracção do consumo? Não ocorrerá ao governo que a retracção do consumo é o resultado inevitável do elevado nível de endividamento e do aumento das taxas de juro e do aumento do desemprego? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para exportação não são suficientemente competitivas, nem na qualidade e inovação, nem nos preços? Não ocorrerá ao governo que, por estas últimas razões, o país não é suficientemente atractivo para investimento directo estrangeiro, a menos que maciçamente subsidiado (por mais impostos)?

Não ocorrerá ao governo que no caminho para a convergência económica, para usar o europês, o seu papel não é fazer o lugar das empresas e das famílias, não é fazer o lugar do outro, é fazer o papel que ninguém poderá fazer por ele? Ou seja numa palavra
encolher:
reformar a administração pública, reduzir o aparelho de estado e a sua omnipresença sufocante, aliviar a burocracia, tornar a justiça eficiente, financiar a saúde e a instrução públicas, administrar o 1.º pilar dum sistema de pensões e pouco mais.

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