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08/10/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o simplex local - mais milagres da regionalização (2)

Um fiel detractor do Impertinências dá dois exemplos pessoais do género de milagres que se poderia esperar em abundância com a devolução de mais funções do estado napoleónico-estalinista para os caciques locais.

O primeiro é uma visita da patroa dele ao viveiro da CM de Lisboa em Belém, para comprar umas verduras para o quintal da família. Depois de falar com meia dúzia de funcionárias que faziam crochet (1) e desconheciam por completo quais as espécies que por lá jaziam, foi encaminhada para a directora do jazigo das verduras, a qual com grande soma de pachorra e tempo disponível a acompanhou numa longa e pormenorizada visita ao jazigo. Tudo para concluir que, querendo comprar as verduras, teria que fazer-se um requerimento explicando as espécies e quantidades desejadas. Depois, se devidamente deferido o bendito requerimento pela hierarquia do viveiro, então o utente seria encaminhado para os serviços competentes no outro lado da cidade, no Campo Grande para pagar as verduras na respectiva tesouraria. Cumprida esta diligência o utente regressaria a Belém para recolher as ambicionadas verduras.

O segundo exemplo é um famigerado Plano de Segurança e Saúde que a CM de Oeiras lhe exigiu (2) para fazer umas carecidas obras lá na casita que comprou. A coisa, preparada por arquitecto, ficou com mais duma centena de páginas que são agora pasto das baratas numa qualquer sala do palácio do marquês de Pombal - este, podendo, ressuscitaria para expulsar à bordoada as centenas de criaturas, comandadas pelo inefável doutor Isaltino, que lhe povoam a habitação.

Entre os inúmeros anexos que o dito Plano inclui, encontra-se a notável peça seguinte relativa aos

TRABALHOS EM COLECTORES DE ÁGUAS RESIDUAIS:

RISCOS:
- Intoxicações pela via respiratória pela presença de gás sulfídrico.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO/PROTECÇÃO:
- Antes de qualquer trabalho que interfira com emissários, é obrigatória a medição e o registo dos índices de gás sulfídrico;
- Em obra, consoante os valores das medições, equacionar-se-ão as medidas de protecção colectiva e individual em conformidade;
- Em todo o caso, é obrigatório o uso em permanência de máscaras eficazes e certificadas contra este gás; (3)
- É também obrigatório o uso e manutenção de botijas de oxigénio perto dos trabalhos. Pode ser necessário o uso de botijas de oxigénio em simultâneo com as máscaras;
- A Entidade Executante deverá ter um registo do número de horas diárias que os trabalhadores gastam em trabalhos que interfiram com o emissário. É de prever pausas de 10 a 15 minutos por cada hora de trabalho contínuo.
(4)


NOTAS:
(1) É uma boutade. Tagarelavam simplesmente. Antes fizessem naperons.
(2) A ele e a todas as pobres criaturas que se lembram de pedir um licenciamento duma obra e esperam um ano ou mais para fazer uns trabalhos que poderiam começar no dia seguinte, pagando um emolumento aos fiscais e (com azar) uma coima à excelentíssima câmara.
(3) Segundo o fiel detractor, nenhum dos infelizes que por lá trabalharam na obra foi portador dum simples capacete, quanto mais duma máscara para evitar o cheiro a flatulências.
(4) Estas pausas foram as únicas medidas de prevenção/protecção que os infelizes operários cumpriram religiosamente, mesmo sem interferência com o emissário.
(5) Faço saber que não sou contra a descentralização. Antes pelo. Só que. Um dia explico.

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