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26/06/2008

CASE STUDY: quanto mais, menos

Frequentemente, o tema dos salários milionários de alguns gestores é tratado ou numa perspectiva moralista (e não é que a moral não tenha nada a ver com o tema, que tem) ou, mais raramente, pelo liberalismo académico, numa suposta perspectiva de mercado (e não é que o mercado não tenha nada a ver com isto, que tem, mas pouco). De acordo com a perspectiva moralista, os salários milionários são injustamente excessivos. Segundo a perspectiva liberal, são o que têm que ser, ponto final. Num caso como noutro, é uma vista do céu - do céu igualitário ou do céu dos mercados perfeitos. Um dia destes, Nuno Garoupa abordou o tema um pouco mais próximo do purgatório do Portugal do presente (A ineficiência dos salários milionários, Jornal de Negócios).

«Suponhamos pois que os salários milionários pagam em Portugal uma espectacular e significativa criação de valor para os accionistas ou para o Estado por parte desses gestores. O paradoxo está em que quando mais significativa é a criação de valor mais submergida está a economia portuguesa. Quando quase não havia salários milionários a economia portuguesa vivia momentos de expansão, agora que se generalizou a prática dos salários milionários a economia portuguesa estagnou para pelo menos duas décadas.

Existe uma explicação simples para este paradoxo. Em termos agregados, certamente a significativa criação de valor que justifica os salários milionários fez-se por predação, e não por ganhos de produtividade. Claro que existem muitos salários milionários que realmente pagam inovação, competência, risco com ganhos de produtividade importante (muito provavelmente esses gestores estão mesmo assim remunerados abaixo do valor da sua produtividade marginal). Mas a realidade da economia portuguesa não pode deixar dúvida, a grande maioria destes salários e pensões milionárias remunera a procura de rendas e quasi-rendas. As rendas e quasi-rendas geradas podem até justificar esses mesmos salários do ponto de vista dos accionistas, mas certamente não da sociedade. São uma externalidade negativa que impede o crescimento económico.
»
Um exemplo que poderia integrar a categoria dos EXTREMÓFILOS, inventada por Pacheco Pereira para a Alêtheia, é o da recém-demitida administração do Millenium bcp que facturou durante mais de 20 anos os salários mais milionários do país, enquanto destruia mais de metade do valor para os accionistas (os 4-5 euros porque os accionistas compraram as acções em sucessivos aumentos de capital entre 2000 e 2002 reduziram-se a menos de 2 euros).

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