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07/07/2011

Mitos (46) – as teorias da conspiração sobre as agências de rating

Cada vez que uma agência baixa a notação de Portugal ou de uma empresa portuguesa, o alarido de protestos eleva-se e os disparates multiplicam-se.

Vou dar de barato que as agências de rating: 1) falham clamorosamente nas suas avaliações; 2) escamoteiam conflitos de interesse (por exemplo accionistas eventualmente interessados em especular com a dívida pública ou privada ou as acções que sofreram downgrade – Nuno Guerreiro, um tanto surpreendentemente, insinua-o aqui) e 3) estão ao serviço dos americanos.

Alguns factos em que estas teorias da conspiração tropeçam:
  1. Se as agências não têm credibilidade, porque razão não se protestaram as notações A da dívida pública portuguesa até 2007 sistematicamente atribuídas à dívida pública portuguesa?
  2. Já agora, se o governo acha sobreavaliado o risco da dívida pública portuguesa, porquê também não acredita que o maior grupo não financeiro e maior empregador português (Sonae) «não tem idoneidade para ser fiador de uma dívida de quatro milhões de euros»?
  3. Se as agências não investem e se as suas avaliações não são credíveis porquê os investidores aparentemente as tomam em consideração?
  4. Pela mesma razão, porquê continuar a pagar às agências para nos darem «murros no estômago», como disse hoje o primeiro-ministro?
  5. Se as agências de rating estão ao serviço de interesses americanos, agora que os EU estão endividados à China e a perder influência, porque não exige o resto do mundo em coro a sua extinção?
  6. Considerando tudo isto, porquê os países europeus “amigos”, as instituições comunitárias e os seus sistemas financeiros, todos eles vilipendiando as agências, não desconsideram a avaliação a dívida portuguesa pelas agências e, em vez disso, tomam em consideração o “verdadeiro” risco de default?
  7. Dito de outro modo, why they don’t put the money where their mouths are?
  8. Por último, como deveriam as agências considerar os efeitos sobre o risco de default da dívida portuguesa do aumento constante e encadeado:
  • das despesas públicas 
  • do défice do OE (incluindo as últimas notícias sobre mais uma derrapagem na execução orçamental no 1.º trimestre) 
  • da dívida pública e privada e, consequentemente,  
  • dos juros
tudo isto num cenário de crescimento próximo de zero durante uma década e de recessão nos últimos e nos próximos anos?

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