Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2011

Lost in translation (88) – os portugueses reelegeram Cavaco Silva e 2/3 dos eleitores socialistas recusaram o candidato do PS, queria ele dizer

«Nas presidenciais, os portugueses deixaram duas mensagens de fundo: um reforço da estabilidade política do país que permita defender Portugal na conjuntura difícil em que vivemos, e frustraram as perspectivas daqueles que viam nas presidenciais uma mudança do ciclo político» explicou um porta-voz do PS.

A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (7) – o conúbio em risco

O conúbio entre os poderes fácticos protagonizados pelo governo Sócrates e a banca do regime é tão sólido que o banqueiro Ricardo Salgado está a fazer de porta-voz do governo a esconjurar o FMI, percebendo que a intervenção deste significará o fim da clique socrática com quem tão bem tem convivido. Ele não só pretende assustar o povo ignaro, antevendo reduções de salário mínimo, como até quer arrastar os seus colegas banqueiros para o esconjuro, assustando-os com a fuga de capitais.

Claro que a intervenção inevitável do par FMI-FEEF (até Silva Lopes já a vê como «útil»), ao encostar o governo à parede, precipitará a sua queda e o fim, ou pelo menos uma interrupção duradoura, do conúbio tão frutuoso para ambas as partes. A título de exemplo, veja-se a simbiose perfeita na PT com o governo ajudando os Espíritos no controlo do grupo (e a candidatura da Comporta à Ryder Cup? temos que falar disso um dia destes) e estes ajudaram à mal sucedida tomada da TVI, como ajudaram a tapar o buraco do orçamento com a transferência do fundo de pensões da PT e como ajudam à engorda dos apparatchiks socialistas.

ESTADO DE SÍTIO: Little Italy

O caso do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, petit nom Burlesconi, é talvez a única consolação para nós portugueses por encontrarmos um outro primeiro-ministro na União Europeia envolvido em trapalhadas que fariam inveja ao nosso. Infelizmente para ele, a justiça italiana parece mais mani pulite e não é tão colaborante com o poder político quanto a nossa, mais do género mani sporco.

Apertado pela justiça, Berlusconi enfrenta acusações de abuso de poder (12 anos) e prática de sexo com menor (3 anos). Porém, de acordo com as alterações legislativas que o próprio fez aprovar há uns anos, o seu julgamento deverá ser previamente autorizado pelo parlamento. Fazendo o paralelo com as mani sporco, em Portugal teríamos o Supremo Tribunal a desempenhar esse papel.

Se no que respeita às mani, temos estas diferenças, no que respeita aos parlamentos, as coisas assemelham-se bastante mais. Talvez seguindo o exemplo português, Berlusconi fez aprovar em 2005 alterações à legislação eleitoral fazendo depender a reeleição dos deputados dos líderes partidários que lhes atribuem os lugares nas listas. Um autêntico seguro contra revoltas e contra julgamentos indesejados.

Nalguma coisa haveríamos de mostrar o caminho à Óropa.

30/01/2011

Palavras sábias de há 50 anos, do velho Ike

«Another factor in maintaining balance involves the element of time. As we peer into society's future, we - you and I, and our government - must avoid the impulse to live only for today, plundering for our own ease and convenience the precious resources of tomorrow. We cannot mortgage the material assets of our grandchildren without risking the loss also of their political and spiritual heritage. We want democracy to survive for all generations to come, not to become the insolvent phantom of tomorrow».

[Palavras de Dwight D. Eisenhower (Ike), no seu discurso de despedida como presidente dos EU em 17-01-1961, o discurso onde alertou os americanos para a influência crescente do «complexo militar-industrial»]

DIÁRIO DE BORDO: Hereafter

I tried being reasonable, I didn't like it.
Clint Eastwood

Dirty Harry com Marcus (George McLaren) durante as filmagens de Hereafter

29/01/2011

NÓS VISTOS POR ELES: Chamem o FMI, diz o único especulador amigo

George Soros, o especulador que ganhou mil milhões de libras em 1992 na «Quarta-Feira Negra», antecipando (e ajudando a tornar inevitável) a desvalorização da libra, é provavelmente o único especulador de quem a esquerda gosta. Vá-se lá saber porquê. Por ter colocado o Banco de Inglaterra de joelhos? Por financiar causas politicamente correctas, como a tentativa de derrotar Bush nas eleições ou a legalização da maconha na Califórnia? (também há outras causas que Soros apoia, mas agora não me apetece falar nisso)

Pois bem, Soros defende não deverem ser apenas os povos da Grécia, da Irlanda e de Portugal a pagar a factura, mas também os investidores e, por isso, as dívidas públicas desses países devem ser reestruturadas. Obviamente (tão obviamente que ele se dispensa de o dizer), reestruturação só viável no âmbito duma intervenção do FMI.

Estado empreendedor (43) – mais do mesmo

Com a prosápia habitual, José Sócrates anunciou no parlamento mais medidas no âmbito do QREN para melhorar a competitividade e modernizar a economia, incluindo o aumento de 50% para 75% do apoio ao investimento. Para o financiamento destas medidas o governo obteve do BEI uma linha de crédito de 1,5 mil milhões.

Se estas medidas, apoios, incentivos, etc. tiverem o mesmo efeito que as dos últimos 10 anos (se quisesse ser mauzinho, escreveria desde que escorre dinheiro de Bruxelas) estamos conversados. No final, ficará a dívida, uma das poucas coisas que temos em abundância.

BREIQUINGUE NIUZ: Their sons of a bitch are falling apart


«Somoza may be a son-of-a-bitch, but he’s our son of a bitch», diz-se que disse Franklin Roosevelt. Se não disse poderia muito bem ter dito.

28/01/2011

Estado empreendedor (42) – o preço do troço é caro mas o preço das almas nem por isso

O troço Poceirão-Caia (para que serve?) do TGV ainda antes de assentar a primeira travessa já aumentou o valor actual líquido de 1.473 milhões para 1.667 milhões ou seja já ultrapassou a BAFO - best and final offer (1.560 milhões) do consórcio vencedor que determinou a adjudicação. Tudo isto à pala da transferência do risco arqueológico do Estado para o consórcio. Sabendo-se que os cerca de 160 km do trajecto estão literalmente atulhados de ruínas, está tudo explicado.

Entretanto, o CDS fez umas contas (espera-se que tenham aprendido a tabuada) e conclui que 17 gestores de empresas públicas e 2 presidentes de entidades reguladoras recebem em média 247 mil euros por ano, o governador do BdeP recebe quase o dobro do Bernie Bernanke do FED e o presidente da ANACOM ganha mais do que Frau Merkel. É demasiado? Não estou certo disso. Afinal qualquer mísero gestor público tem que vender a alma ao diabo e todos sabemos que as almas não são baratas.

O preço das almas é caro mas o preço das consciências deve ser barato, como se poderá inferir pelos 4 mil contratos acima de 150 mil euros adjudicados por ajuste directo desde Julho de 2009 contados pelo ionline (espera-se que tenham aprendido a tabuada).

E se, para variar, os banqueiros do regime revissem a sua própria estratégia?

Ricardo Salgado defende a revisão da estratégia do Fundo Monetário Internacional e do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) «para um outro plano, que permita um relançamento da actividade económica dos países periféricos … (porque) nos países onde houve intervenção do FMI e do pacote europeu as taxas de juro continuam muito elevadas e não vejo como as empresas de países periféricos - já por si também mais frágeis - possam progredir com condições financeiras dessa natureza».

Terá, porventura, razão. Mas como não está ao seu alcance mudar a estratégia do FMI, talvez devesse concentrar-se em mudar a estratégia do BES e, como banqueiro do regime, influenciar a mudança de estratégia dos governos com quem estado em concubinato no sentido de aliviarem a promiscuidade com os negócios, reduzirem a sua intervenção na economia e na sociedade civil, promoverem a livre iniciativa e a concorrência. Por exemplo.

Ou, em alternativa, influenciar o governo a desistir de mais uma parcela de soberania e transferir a governação económica para Bruxelas (ou para Berlim), como sugere Wolfgang Schaeuble.

SERVIÇO PÚBLICO: Onde a bruma conceptual e o oportunismo doutrinário dão pasto à demagogia em todos os azimutes

«Não vamos continuar a financiar privilégios nem lucros de algumas instituições que constroem piscinas, que oferecem golfe, que têm equitação, porque isso é um nível que o ensino público não pode assegurar e não continuará a financiar.» [ministra da Educação]

«Esta medida do Governo é um atentado à liberdade de ensino. Os pais têm direito a escolher a escola que querem para os seus filhos. Preocupa-me que o Governo pense que quem frequenta o ensino particular e cooperativo são filhos de pais que têm uma boa vida económica. Está totalmente enganado, muitos alunos vivem com muitas dificuldades económicas e, muitas vezes, são as escolas particulares que lhes dão o apoio necessário, mais humanizado que noutras escolas estatais que eu conheço.» [pai com 3 filhos no ensino privado]

E se, em vez de discutirmos escolas públicas pagas com impostos contra escolas privadas pagas com impostos e (algum) dinheiro dos pais, discutíssemos o fundo da questão? Por exemplo, o cheque-educação e a liberdade de escolha da escola? Por exemplo, a descentralização do ensino?

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O pós-Simplex camarário

Num projecto de remodelação que tenho, pedi para que me autorizassem a mudar as janelas de madeira para janelas de PVC ou alumínio (cujo preço não chega a 60% do preço das de madeira com a vantagem adicional dos custos de manutenção do PVC/alumínio serem quase nulos ao contrário da madeira). Trata-se de substituir janelas velhas e decrépitas (que nunca na vida a câmara iria alterar) por janelas novas iguais às existentes mas com material diferente. A área está classificada por isso faz sentido controlar estas coisas. Mas mesmo assim deveria haver alguns limites de bom senso. Eis os que os anormais da câmara pediram para fornecer (para um pedido de informação prévia, ou seja: ainda não é um pedido para aprovação oficial):  
  1. Certidão emitida pela ordem dos Arquitectos (não dizem certidão de quê, apesar de adivinharmos que se trata da certidão que demonstre que a arquitecta tem a sua quota em dia -  não poderia haver no século XXI um sistema de controle automático?)
  2. Termo de responsabilidade técnica do autor do projecto (para umas janelas?)
  3. Memória descritiva e justificativa da intervenção proposta incluindo, nomeadamente,
  4. Descrição das características do local de intervenção (então eles não sabem quais são as características do local de intervenção? São burros ou quê?)
  5. Caracterização da intervenção proposta (mudança de janelas de madeira para janelas iguais de PVC ou alumínio, que é preciso caracterizar mais?)
  6. Breve descrição da edificação (hem?)
  7. Definição e diagnóstico das características estruturais do imóvel (diagnóstico? Está a precisar de janelas novas. Ou mesmo: Sou louco e pretendo mudar as janelas existentes em perfeito estado por outras janelas iguais. E daí?)
  8. Avaliação das principais patologias (só vejo patologias de degradação avançada na cabeça desta gente)
  9. Justificação dos usos propostos (são janelas Por Deus! Não vão servir para comer sopa nem para fazer passar droga entre Marrocos e Portugal) e sua compatibilização com a estrutura espacial (estou a pensar pedir auxílio benévolo à NASA com essa do espacial)
  10. Caracterização da intervenção proposta (metodologia, técnicas, materiais, cores) (se possível em decassílabos, digo eu)
  11. Documentação fotográfica actual, a cores, da intervenção do local (não percebi se tem que estar sol no dia da fotografia ou se aceitam uma foto num dia de chuva. E se houver uma nuvenzita?)
  12. Documentação fotográfica da envolvente com visualização, se possível, do imóvel
  13. Planta de localização actualizada (que eu saiba um imóvel não muda facilmente de sítio) à escala 1:1000 ou 1:2000 (diminui - ver a seguir)
  14. Planta de implantação com indicação da área de construção e de logradouro à escala 1:500 ou 1:200 (aumenta - vê-se que este imbecis não estudaram latim)
  15. Perfis de inserção volumétrica no caso de obras novas (será que há obras velhas, para além das de Santa Engrácia?) ou de alterações de volumetria (SÃO JANELAS! J-A-N-E-L-A-S!)
  16. Levantamento do existente: plantas, cortes longitudinais e transversais, alçados incluindo os imóveis confinantes numa extensão mínima de 7,5m (ainda vou arranjar problemas com os vizinhos pois esses não devem ter dado alegre cavaco a ninguém há décadas e mudaram as janelas a seu belo prazer)
  17. Sobreposição do existente com a proposta (os mapas de cores clássicos a amarelos e encarnados - deve ser muito útil ver numa planta uma janela ser substituída por outra janela IGUAL mas de material diferente)
  18. Elementos da proposta: plantas, cortes longitudinais e transversais, alçados incluindo os imóveis confinantes numa extensão mínima de 7,5m
  19. Maquetas reais ou virtuais
  20. Fotomontagem ou outros meios de visualização da integração da proposta.
[Enviado por AB]

27/01/2011

Pode o benefício da dúvida evoluir para o prejuízo da certeza?

Pode. Sobretudo para quem garante ser necessário nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele. A adicionar às histórias mal contadas das acções SLN-BPN e das ligações obscuras com aquela gente, tivemos a história da permuta que continua a ser escarafunchada pelos jornais e parece cada vez ter mais trapalhadas. Desde permutar imóveis de valores que o próprio fisco valorizou numa proporção de 1 para 2,5, até construir com licença caducada e habitar sem licença de habitação.

Isto é grave? Depende. Pelos padrões dominantes entre os portugueses, de maneira nenhuma – é o trivial. Pelos padrões da superioridade moral de Cavaco Silva, é muito censurável.

Será isto fruto duma campanha negra? Talvez. Também José Sócrates assim classificava a denúncia das suas trapalhadas. E se for? Isso faz alguma diferença quanto aos factos?

CASE STUDY: Um minotauro espera a PT no labirinto da Oi

[Diagrama do Jornal de Notícias]

26/01/2011

ESTADO DE SÍTIO: Entropia socrática

Depois 5 anos de reformas administrativas de grande sucesso, o governo não consegue saber ao certo quantos são os eleitores e descobriu que não é possível votar com o cartão de cidadão.

Lost in translation (87) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XIX)

Às 20:20 do dia 25 o Diário Económico informa:
«O Ministério da Saúde revelou hoje no Parlamento que o défice do Serviço Nacional da Saúde (SNS) desceu 37% em 2010 para 212 milhões

3h45m depois às 00:05 do dia 26 o mesmo Diário Económico informa:
«O Serviço Nacional de Saúde (SNS) fechou as contas de 2010 com um buraco orçamental de 411,5 milhões de euros face ao que era esperado no arranque do ano. As contas foram reveladas ontem pela ministra da Saúde, Ana Jorge, na Assembleia da República.»

Quando se sabe que ficaram mais de 2 mil milhões de despesas de saúde não pagas por contabilizar, acaba por ser irrelevante o buraco revelado ser 212 ou 411 milhões.

ESTADO DE SÍTIO: Death march (2)

[Continuação de (1)]

A semana passada a Economist dedicou algumas páginas (*) às nossas misérias. Vale a pena salientar algumas conclusões.

Sobre as causas do endividamento, benevolamente, a Economist desculpa-nos em parte com a «má sorte» de termos sido apanhados distraídos pela redução das tarifas aduaneiras, acordada no Uruguay Round e aplicada gradualmente a partir de 1995 até 2004, e pela entrada da China na OMC em 2001. A nossa distracção custou-nos a definitiva perda de competitividade dos nossos produtos de baixa tecnologia, principalmente têxteis e calçado, sem design e sem marcas próprias. Por falar nisto, recorde-se que durante que este período tivemos governos socialistas em 13 dos 15 anos, entretidos com as gravuras do Coa, a Expo 98, o Euro 2004 e as auto-estradas. Pelo lado da procura, o surto de crédito barato fez disparar o consumo (e a dívida dos bancos ao estrangeiro) e o incremento das importações de bens de consumo. Os efeitos conjugados da estagnação das exportações, do incremento das importações, que gerou défices persistentes no comércio externo, e das perdas de produtividade (ver este post) que travaram o crescimento, estão bem patentes no gráfico seguinte.


Ao efeito dos défices do comércio externo no endividamento somou-se o efeito dos défices orçamentais crescentes, mesmo com evidentes engenharias contabilísticas. São os défices gémeos endémicos representados no gráfico seguinte (roubado a Miguel Frasquilho - Mudar de vida … e muito rapidamente, Sol, 28-05-2010)

O resultado no que respeita ao endividamento externo ultrapassou tudo quanto a antiga musa canta. Só nos últimos 3 anos, o endividamento externo líquido passou de 157 mil milhões para mais de 191 mil milhões (ver este post).

Vejam-se agora as projecções da Economist para a situação financeira dos PIGS em 2015, baseada nas seguintes premissas: quebra do PIB nominal devido aos programas de austeridade e recuperação apenas em 2015 para o nível de 2010; taxa média de juro de 5,25% para novas emissões e 5 anos para anular o défice primário (sem juros).


Após uma cura de emagrecimento, a dívida pública ainda atingirá 100% do PIB, com uma fortíssima dependência do financiamento externo (66%), maior do que qualquer dos outros PIGS. Face a estas projecções que fazer? É inevitável o pedido de intervenção do FEEF e do FMI conclui a Economist e, acrescento eu, a reestruturação da dívida. Quanto mais tarde pior, mais enfraquecida a força negocial e mais deteriorada a situação financeira e maiores os juros e mais duras as medidas de austeridade. Estamos à espera de quê? Estamos à espera que José Sócrates gaste os últimos cartuxos de pólvora seca com o beneplácito de Cavaco Silva e o En attendant Godot de Passos Coelho?

(*) Especialmente dois artigos: Bite the bullet e Still scary

25/01/2011

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CH'ENTRATE: Direitos adquiridos

Continuando a transferência para os filhos e netos da pesada herança da folia dos últimos 35 anos, os novos situacionistas preparam-se para aplicar um corte nos tão celebrados direitos adquiridos, uma das vacas sagradas das conquistas de Abril, sob a forma de redução das indemnizações por despedimento ser aplicável apenas aos novos contratos de trabalho. Conhecendo-se a imobilidade laboral neste país, é fácil de perceber quem vai pagar a factura.

Declaração de interesse: tenho filhos e netos e há muitos anos não tenho um contrato de trabalho.

Dúvidas (7)

«A decision has been taken by the President together with the Secretary General, in accordance with the statutes of the Socialist International, to cease the membership of the Constitutional Democratic Assembly (RCD) of Tunisia.
This decision, in extraordinary circumstances, reflects the values and principles which define our movement and the position of the International on developments in that country

17-01-2011

Porquê a Internacional Socialista demorou mais de 20 anos a perceber que os seus «valores e princípios» não eram compatíveis com partido de Zine El Abidine Ben Ali e só o expulsou depois do próprio ter sido expulso da Tunísia?

Um nó na garganta

«Assim, o Estado perdeu a sua liberdade, a sua isenção e a sua capacidade técnica e científica. É o administrador dos interesses de algumas corporações e de alguns grupos económicos. Por esse serviço, o Estado cobra, para os partidos, uma gabela ou um tributo. A corrupção, em Portugal, não é apenas o pagamento ilegal feito para obter vantagens públicas. É um sistema, frequentemente legal, de cruzamento de interesses e favores, de benefícios e vantagens, ao qual ninguém, nos superiores órgãos de poder político, parece querer realmente colocar um travão. Fora dos órgãos de poder político, só a justiça poderia ser, em teoria, um freio e um antídoto a este sistema. Acontece que a justiça se transformou também em parte integrante deste sistema. A sua ineficácia ainda é o menor dos males. Bem pior, na verdade, são os protagonistas e os principais activistas do sistema judiciário (conselhos superiores e sindicatos) que pretendem agora, explicitamente, uma maior fatia dos proventos económicos e do poder político.»

[António Barreto, O nó cego, no Público]

ESTADO DE SÍTIO: Death march


Por falar em dívida, nas auto-congratulações a propósito do alegado sucesso do leilão de 4.ª Feira passada, o governo esqueceu-se de informar que 2/3 da emissão de BT foi comprada pelo próprio Estado na sua encarnação de Caixa Geral de Depósitos. Como se adivinhará, a compra pela Caixa foi às taxas mais baixas o que permitiu fixar uma taxa de corte relativamente baixa (4,058%) e conseguir aviar todo o montante indicativo de 750 milhões (ver aqui os dados do leilão). Resta acrescentar que a Caixa vai de seguida endividar-se ao BCE a taxas de saldo, oferecendo como colateral os BT que acabou de comprar a uma taxa de 4%.

Também por falar nisso, o governo embandeirou em arco por ter feito este ano várias vendas privadas totalizando 110 milhões. Convém não esquecer a este respeito os riscos desta prática, como recorda a Bloomberg: «regular use of placements “could backfire and give a wrong message to the market that the government has difficulty raising money through a regular channel, such as auction or syndication. That’s a risk Portugal may have to be mindful of”».

24/01/2011

De vendedor de automóveis a vendedor do país

Henrique Neto classificou há tempos José Sócrates como um «vendedor de automóveis». Está enganado, ou pelo menos atrasado. Nos dias que correm, José Sócrates tenta vender o país: a dívida, a TAP, a REN, a Caixa Seguros. Já tentou aos chineses e a semana passada foi a vez dos árabes de Abu Dhabi. É mais uma das suas realizações, a adicionar ao crescimento das despesas públicas, dos impostos e da dívida, sem esquecer as causas fracturantes: o aborto no SNS, o casamento homossexual, o divórcio expedito e a mudança de sexo no BI.

O homem é o Oliveira da Figueira do século 21.

Dúvidas (6)

Com mais de 544 mil inscritos em relação a 2006, Cavaco Silva e Alegre tiveram menos 543 mil e 306 mil votos, respectivamente. As abstenções aumentaram mais de 1,6 milhões e os brancos e nulos aumentaram de 103 mil para 278 mil. Estes resultados são um sucesso para quem?

A vitória clara de Cavaco Silva é uma absolvição das trapalhadas das acções da SLN, da Aldeia da Coelha e das ligações ao grupo SLN, como deixou implícito no seu discurso ressabiado? E, sendo assim, a vitória clara de José Sócrates nas eleições legislativas é um atestado de inocência nas múltiplas trapalhadas em que esteve envolvido e dá-lhe um diploma de licenciatura limpo?

Já agora, a vitória de Cavaco Silva também absolve o experiente economista, que ele diz ser, de só ter percebido o estado do Estado e da economia depois da crise do subprime? E também o absolve de continuar a avalizar os delírios de José Sócrates sobre a desnecessidade de um bailout e da reestruturação da dívida?

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Quase sempre no seu melhor

«At his best, Mr. Federer is nearly unbeatable—this we knew. But perhaps his greatest achievement is that he's almost always at his best.»

Tom Perrotta

23/01/2011

DIÁRIO DE BORDO: Declaração de voto

Para estas eleições presidenciais adoptei os seguintes dois princípios:


1.ª volta – princípio Tiririca (inventado pelo senhor deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva) – voto nulo;





2.ª volta (se houver) – princípio do sapo (inventado pelo camarada Álvaro Cunhal) – lá terá que ser.

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Newspeak

«Esquerda quer “género” em vez de “sexo” e “etnia” em vez de “raça” na Constituição»

«Don't you see that the whole aim of Newspeak is to narrow the range of thought?»
George Orwell, Nineteen Eighty Four

ESTÓRIAS E MORAIS: Se não os podes derrotar, afoga-os em papel

Estória
Depois da derrota estrondosa dos democratas nas eleições intercalares de Novembro passado, o presidente Obama achou prudente declarar a sua fé nos mercados («the greatest force for prosperity the world has ever known») e a sua intenção de conter a diarreia regulamentar («remove outdated regulations that stifle job creation») que no ano passado produziu 80.000 páginas de novas regras. Depois de 2 anos da sua governação, é prudente duvidar da sua sinceridade.

Moral
«Government's view of the economy could be summed up in a few short phrases: If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it». [Ronald Reagan]

22/01/2011

Bons exemplos (17)

Alfredo Sáenz, actualmente membro do conselho de administração do Santander, foi condenado pelo Supremo Tribunal espanhol a oito meses de prisão, multa e inibição de trabalhar em qualquer posição na banca. A pena foi aplicada por litigância de má fé de Sáenz contra 4 empresários com um empréstimo do Banesto, para quem trabalhava na época, conduzindo à prisão indevida de 3 deles.

Dúvidas (5)

A lei da liberdade religiosa (Lei n.º 16/2001 de 22 de Junho) criou uma Comissão da Liberdade Religiosa com as seguintes funções:

1) estudo, informação, parecer e proposta em todas as matérias relacionadas com a aplicação da Lei de Liberdade Religiosa, com o desenvolvimento, melhoria e eventual revisão da mesma lei e, em geral, com o direito das religiões em Portugal e

2) investigação científica das igrejas, comunidades e movimentos religiosos em Portugal.

Quem deverá presidir a esta Comissão?

  1. O Cardeal-patriarca
  2. Um filósofo agnóstico
  3. O Bispo do Funchal da Igreja Adventista do Sétimo Dia
  4. O Rabino de Moscavide
  5. O Grande Mufti de Linda-A-Velha
  6. Um pastor da IURD
  7. Um monge budista
  8. Um mestre Hare Krishna
  9. Um sociólogo das religiões
Na opinião do governo (Resolução do Conselho de Ministros n.º 6/2011 de 18 de Janeiro), deve ser um ateu anti-clerical e pró-maçónico - na circunstância o Dr. Mário Alberto Nobre Lopes Soares.

21/01/2011

Um caloteiro sem vergonha

Dever demasiado dinheiro é só por si um problema, como estão a descobrir os portugueses, após muitos anos de folia. Dever muito dinheiro e pagar tarde e a más horas é um problema cuja gravidade só é ultrapassada por dever muito e não pagar, o que acontecerá mais tarde ou mais cedo quando se deve demasiado.

O cúmulo da pouca-vergonha atinge-se quando se deve uns dois milhões aos fornecedores, se anda a pagar a 6 meses de vista e, por cima disto, se pretende renegociar contratos com pagamentos em atraso há mais de 60 dias para obter uma «adequada compensação» pela «antecipação» (?). Está na altura do ministério da Finanças mandar meter uma cabeça de cavalo na cama dos fornecedores com um bilhete a «pedir» um desconto por, apesar de tudo, querer pagar.

Lost in translation (86) - Les beaux esprits se rencontrent, diriam eles se soubessem francês

«Manuel Vicente reencontra Armando Vara, com quem vai partilhar a Cimentos Palanca.»

ARTIGO DEFUNTO: A China tem mais pessoas do que chineses

Ou quase. O OJE multiplicou os chineses por dois: 2,56 mil milhões / 1,33 mil milhões = 1,95.

20/01/2011

CASE STUDY: Incubando ovos chocos

Em 2005 o BES, o banco do regime, atribui-lhe o prémio Inovação, entregue pelo seu ex-empregado e na época ministro da Economia Manuel Pinho. Dois anos depois, duas sociedades de capital de risco participam na Pronto & Fresco, a empresa criada para comercializar «um conceito inovador de venda de peixe fresco», cujo presidente previa vendas de 10 milhões em 2009. Depois de 3 anos não chegou a facturar 10% do previsto e apresentou prejuízos todos os anos e dívidas de 2,3 milhões. Está falida.

Sabe-se que mesmo nas economias onde existe venture capital a sério a taxa de mortalidade das start ups é elevada. Mas este caso nada tem a ver porque não esteve envolvido um venture capitalist, um investidor profissional arriscando o seu dinheiro num negócio em que vê potencial para um elevado retorno. Em vez disso, este caso é um paradigma dos negócios «inovadores» nascidos do conúbio público-privado do regime. Não é, pois, uma questão de elevada mortalidade é uma questão de nado-morto.

Um telefonema que nunca existiu?

Se tivessem que acreditar num deles, acreditariam numa notícia assinada pelo editor de temas europeus do Guardian, citando fontes próximas de Frau Merkel e até citando a porta-voz Mafalda Costa Pereira desmentindo a notícia, ou numa «fonte oficial do gabinete do primeiro-ministro», deste primeiro-ministro?

Emissões da dívida pública – um alvo em movimento

Distraído, o Impertinente não referiu, entre os factos que estarão a fazer revolver o Botas na sua última morada conhecida, que o pior o melhor dos piores o menos mau dos piores ministros das Finanças se enganou, uma vez mais, em 4 mil milhões de euros na manipulação previsão das emissões de dívida até ao final de 2010, feita em Outubro quando apresentou o OE 2011. Se este é o ministro que mais confiança mereceu em tempos ao presidente-candidato Cavaco Silva, imagine-se o que serão os ministros que menos confiança merecem a Sua Excelência.

19/01/2011

BREIQUINGUE NIUZ: Esta noite, ouviram-se ruídos estranhos no sepulcro do professor doutor Oliveira Salazar no Vimieiro

[Há quem atribui a origem dos ruídos ao revolver do falecido na tumba.]

Segundo o Guardian, José Sócrates telefonou a Frau Merkel, «desesperado e ansioso por agradar», garantindo cumprir tudo o que ela quisesse. A Frau aconselhou-se com Strauss-Kahn, o presidente do FMI, que a avisou para não se fiar na conversa porque José Sócrates não adoptaria nenhum conselho. Assim se confirma ser José Sócrates melhor conhecido (de ginjeira, diria Strauss-Kahn, se conhecesse a expressão) lá fora do que cá dentro.

Enquanto isso, confirma-se que o parlamento tem mais que fazer do que pedir contas ao governo pela colocação privada da dívida pública não se sabe a que juros, maturidades ou compradores. Talvez o parlamento entenda estar impedido pela separação de poderes de intrometer-se nos negócios privados do governo.

O mesmo entendimento poderá explicar não ter o parlamento questionado o governo para onde foi o dinheiro do aumento de 19 mil milhões da dívida pública durante 2010, equivalente a 11% do PIB, já que o défice apenas se reduziu de 9,3% do PIB em 2009 para 7,3%. Ou seja, o parlamento acha não lhe dizer respeito perceber porque foi necessário pedir em 2010 mais 11% do PIB para conseguir uma redução do défice de 2%. [Ver aqui a coisa melhor explicada por Tavares Moreira]

Neste contexto, também se percebe ser normal que os PPR do Estado, lançados para concorrer com os bancos e as seguradoras, tenham tido uma rentabilidade nula em 2010, visto 30% da carteira ser pêlo do próprio cão e com as cotações da dívida pública a caírem 8% não era de esperar outra coisa.

A campanha para encontrar o novo inquilino do palácio de Belém, continua em bom ritmo. Um deles, que conviveu alegremente em Argel com uma ditadura feroz, está preocupado com a «mudança de regime, mudança de democracia» se não for ele o novo inquilino. O outro está a ser muito atacado só por ser amigo dos seus amigos, a quem compra acções e com quem permuta casas para ficar perto deles.

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CH'ENTRATE: Não há empréstimos de borla (II)

Irwin Stelzer do Wall Street Journal trata aqui de alguns dos «juros» agravados, referidos neste post impertinente, oferecidos pelo socratismo às gerações vindouras.

«Finally, we have China. It has bought Spanish and Portuguese bonds to the estimated tune of $7.5 billion and $5 billion, respectively, leading euro-zone spokesmen to believe, or say they believe, that the sovereign debt of stricken euro-zone countries is marketable at interest rates that are sustainable. It isn't. By investing a relatively small sum in high-yielding debt that is guaranteed by the European Central Bank, China has accomplished at least three objectives. It has helped halt the decline in the euro, which was threatening the competitiveness of its products in the EU, its largest export market. It has sent a signal to the U.S. that it has somewhere other than treasuries in which it is willing to invest. And it persuaded EU countries to call for an end to the embargo on arms sales to China. China, with a per capita GDP less than one-third that of Portugal, is lending Portugal some of the money it has accumulated by manipulating its currency, subsidizing its exports and using cash to win favors for its military rather than to improve the lives of its people

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Não está na hora do expediente

- Ó Silva, chama o Mendes e Pereira, requisita uma viatura e vai interceptar o desembarque de droga na praia do Meco.
- Na praia do Meco? Ó chefe, na praia do Meco só há nudistas.
- Silva, deixa-te de diletantismos. Vai lá chamar os outros gajos e ala moço pró Meco.
- Ó chefe, sabe que horas são?
- São 15 para as 5. E daí?
- Daí que o expediente fecha dentro de 15 minutos. Já não dá para ir ao Meco.
- ?
- Pois. Não há dinheiro, não há palhaços. Não há palhaços não há circo, que é como quem diz não há horas extraordinárias não há intercepções fora do expediente.

[Diálogo imaginado a partir daqui]

18/01/2011

Lost in translation (85) – é muito difícil para um nova-iorquino compreender a alma portuguesa

As manas do cronista social, numa compreensível manifestação da profundidade do sentimento luso, lançaram as cinzas do de cujus no respiradouro do metro em Times Square. É claro que esse sentimento é intraduzível para aquelas mentes insensíveis que vêm neste gesto um prosaico «despejo ilegal de restos humanos».

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O fraco rei faz fraca a forte gente

«A elite política nacional habituou-se a viver no ar condicionado. Já não reconhece o cheiro da poluição nas ruas.
Vive num ambiente limpo, onde só cresce o vírus da inveja. Vive para as suas cumplicidades e equilibra-se num complexo jogo de favores mútuos. Confrontada com a realidade, não a reconhece. A elite política nacional é hoje inócua. Não tem ideias, porque não vê, não lê e não ouve

[O ar condicionado, Fernando Sobral, no Negócios online]

Mitos (35) - a pesada herança da longa noite fascista (IV)

[Mais heranças: I, II e III]

O Índice de Desenvolvimento Humano é calculado pela ONU há mais de 3 décadas. Em 1975, no final da longa noite fascista e no alvorecer da democracia, Portugal era o 23.º país com melhor índice. Trinta anos de Estado Social depois, em 2005, era o 29.º. Trinta e cinco anos de Estado Social depois, em 2010, era o 40.º

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Foram os anos mais felizes da vida dele

- Você ainda vai chegar aos 100, dizia um, com uns talvez 80.
- Que nada. Ando muito murcho, respondeu o outro, com outros talvez mais de 80.
- Está um bocadinho mais em baixo, mas isso só foi depois da morte da sua mulher.
- Pois foi. 64 anos de casamento. É uma vida.
- Tantos?
- Foram os 64 anos mais felizes da minha vida.

[Ouvido por aí, algures]

17/01/2011

Depois do Estado Sucial, o Estado Pulicial?

Um exemplo de como uma Constituição com 296 artigos e 32.259 palavras espalhadas por 91 páginas A4 não é suficiente para garantir a intransmissibilidade de dados pessoais e perfis de ADN de cidadãos portugueses a potências estrangeiras, é o acordo assinado pelos governos português e americano «para reforçar a cooperação no domínio da prevenção e do combate ao crime», que pode ser lido integralmente aqui.

Entre outras coisas perigosas, o acordo inclui a comunicação não apenas de criminosos mas de potenciais criminosos definidos com pessoas que «irão cometer … infracções terroristas, … ou … uma infracção penal …», sem a intervenção de um juiz, ao arbítrio dos serviços de informação, como o SIED, até recentemente chefiado pelo maçon da loja Mozart da Grande Loja Regular de Portugal, eventualmente em trânsito para a Ongoing, o BES ou o BCP, sabe-se lá.

[Para mais informação ver os posts do Esquerda Republicana, a começar por este com links para outros]

ARTIGO DEFUNTO: O porquinho pediu dinheiro emprestado (outra vez)

Afora a clique socrática e os seus fiéis, pouco gente vislumbrou sucesso nos leilões de 4.ª feira, apesar da evidente manipulação para conter a subida do yield das OT Jun 2020. Também o Economist sublinha a insustentabilidade destes custos da dívida e aponta como solução inevitável o acordo com o BCE e o Fundo Europeu.

Declaração de interesse: sou assinante do Economist há uns 20 anos e considero o título escolhido pelo Economist «This little piggy went to market» uma desnecessária paródia de mau gosto e falta de respeito àqueles portugueses que não são responsáveis por esta classe política manhosa e medíocre que não se dá ao respeito e por isso não pode esperar ser respeitada.

16/01/2011

DIÁRIO DE BORDO: A integridade dos candidatos não interessa?

Para quem, como Cavaco Silva, garante que para ser mais honesto do que ele próprio é preciso nascer duas vezes, os contornos da compra e venda por contrato particular de acções da SLN, com uma mais-valia irrealizável em condições normais do mercado, são dificilmente compatíveis com essa auto-imagem. Se o caso SLN-BPN não fosse suficiente para levantar dúvidas sobre a integridade do ainda presidente, o caso da moradia da Aldeia do Coelho investigado pela Visão, que Cavaco Silva recusou comentar, vem reforçar a dúvida.

Também no caso da Aldeia do Coelho, não é óbvia a existência de ilegalidade. É “apenas” uma situação confirmando ligações perigosas à gente da SLN-BPN e indiciando possíveis favores dessa gente, com offshores à mistura, escritura que não se encontra na conservatória e cheiro de trapalhadas que podem ser e são habituais no Portugal de sucesso, mas devemos reconhecer incompatíveis com a imagem impoluta e de santidade que o candidato nos pretende sugerir.

Em relação ao caso SLN-BPN, já ouvi a conversa da SLN e do BPN serem duas empresas distintas (este argumento não é um atentado à inteligência de quem o ouve, é a confirmação da falta de inteligência de quem o apresenta). Também já ouvi a conversa do “pois se até o BdeP não sabia de nada” por parte de quem considerou, e bem, Vítor Constâncio como um ministro anexo. Todas estas conversas passam ao lado dos factos conhecidos e das informações disponíveis, como a denúncia da situação duvidosa do BPN em Março de 2001 por Camilo Lourenço na Exame. Tudo isto poderia escapar a um ignoto eleitor. Mas pode aceitar-se ter escapado à presciência de um professor de economia, ex-ministro das finanças e ex-primeiro ministro que em 1986 alertou para se estar a «vender gato por lebre» na bolsa de Lisboa com isso despoletando um crash local?

E continuo a ouvir também a conversa das campanhas negras, como nos casos de Sócrates, e a conversa da legalidade, como se a única coisa importante nos candidatos fosse não ter registo criminal. E o carácter e a integridade, senhores? Não interessa? Errado! É talvez a coisa que mais interessa, quando as doutrinas políticas dos candidatos, e em particular a sua visão do papel do Estado, são dificilmente distinguíveis, com excepção do candidato comunista que prescreve a república dos sovietes.

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CH'ENTRATE: Não há empréstimos de borla

Nas facturas da geração de 60 (ver a série dos posts «O fim do estado social) a pagar pelos filhos e netos, José Sócrates é responsável pelo agravamento de quase todas e por algumas novas. A alienação de soberania para Bruxelas (nenhuma novidade, está apenas a continuar o caminho dos seus antecessores) é um dos agravamentos. A transferência de soberania para Pequim, a pretexto de evitar a intervenção do FMI, é uma nova factura surgida nas últimas semanas. Como se deveria perceber facilmente, a China irá cobrar com «juros» agravados a «ajuda» na compra da dívida pública. Como? Para começar, pela compra de participações nas tais empresas que o governo tem considerado estratégicas e por parcerias com empresas de fachada para a entrada nos mercados europeus e africanos de expressão portuguesa. E a continuar com o suporte à sua política externa e o silêncio aos seus atentados internos aos direitos e liberdades. E o que faria (fará) o FMI? Obrigar-nos a fazer o que ja deveríamos ter feito e não somos capazes de fazer sem um álibi externo. Comparado com a hipoteca chinesa, isso são amendoins. Não há empréstimos de borla.

15/01/2011

Bons exemplos (16)

Gabriel Bernardino, um quadro do ISP, a autoridade portuguesa de supervisão de seguros, foi eleito o primeiro presidente da recém-criada Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA), com sede em Frankfurt. A EIOPA supervisionará a implantação pelos seguradores europeus da Solvência II, uma espécie de Basileia III para a actividade de seguros.

Dúvidas (4)



E se, com a inflação a subir acima da referência dos 2%, o BCE decidir aumentar as taxas?

Será mais uma pazada na sepultura dos endividados que já se endividam para pagar o serviço da dívida?

Poderemos, como habitualmente, negar tudo e manter a aparência de soberania?

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: As agendas escolares da Comissão da Eurabia

- Quais são as religiões predominantes nos países da União Europeia?
- A católica, as protestantes, por aí. A ortodoxa, vá lá.
- As cristãs, portanto?
- Sim. Claro.
- E qual é festa religiosa mais importante das religiões cristãs?
- Ora, o Natal, já se vê.
- E se a Comissão Europeia fizer uma agenda escolar para distribuir pelos alunos qual é a festa religiosa que não pode deixar de incluir?
- Pergunta estúpida! O Natal pois claro! Certo?
- Errado. O Ramadão.

14/01/2011

Alegre garante não cumprir a Constituição

«Caso seja eleito Presidente da República e caso a direita vá para o poder, a revisão da Constituição "não passará" e acrescenta "comigo não irão por aí"», garantiu o candidato Alegre num almoço em Portalegre.

Artigo 286.º da Constituição da República Portuguesa
1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos Deputados em efectividade de funções.
2. As alterações da Constituição que forem aprovadas serão reunidas numa única lei de revisão.
3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão.

Dúvidas (3)

Há menos de um ano, José Sócrates tentava vender o seu produto na Tunísia ao presidente Zine El Abidine Ben Ali. Vai ter que refazer o discurso ao seu sucessor porque o homem acabou de fugir.

Por falar nisso, alguém me pode explicar este fascínio de Sócrates por (pretender) fazer negócios com países autocráticos? Foi a Rússia, a Venezuela, a Líbia, o Irão, Angola, Marrocos, Tunísia, China. A lista nunca está completa.

DIÁRIO DE BORDO: A demonstração prática da natureza desviante da pederastia

Tratando-se de um crime entre heterossexuais, a coisa arruma-se em 3 linhas na gaveta da violência doméstica. Se o autor for o macho. Se for a fêmea, será um pouco mais complicado: é preciso «explicar» escarafunchando antecedentes, especulando hipotético passado de violência do macho, etc.

Tratando-se de um crime no contexto duma relação de pederastia, escrevem-se milhares de linhas nos jornais, nos blogues, nos tuiteres, dedicam-se programas de TV, passam-se vídeos, fazem-se retrospectivas, entrevistam-se familiares e parentela, amigos, conhecidos, ex-amantes, gente em todos os azimutes, consultam-se psicólogos, psiquiatras, especialistas de todas as naturezas, fazem-se manifestações de repúdio, de solidariedade, de desagravo.

Quod erat demonstrandum.

Bons exemplos (15)

«Tom Delay, antigo congressista e líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, foi condenado a três anos de prisão pelos crimes de branqueamento de capitais e conspiração … (por estar) envolvido num esquema de financiamento do Partido Republicano, que assentava numa recolha ilegal de donativos de empresas daquele estado para as campanhas dos candidatos conservadores às eleições de 2002.» (Público)

Se a justiça portuguesa tivesse estas práticas teríamos as prisões cheias.

13/01/2011

CASE STUDY: O alegado sucesso dos leilões «is little short of ruinous»

José Sócrates garante à 3.ª feira não ser necessária ajuda do FMI e, dopado com o alegado sucesso dos leilões de ontem, reincide 4.ª feira com grande fanfarra. Registemos esta garantia para posterior verificação e vejamos mais de perto em que consistiu o «sucesso». A coisa começa logo por ser ridícula porque os montantes em causa nos dois leilões são uma gota de água no enorme oceano das necessidades de financiamento deste ano – talvez menos de 3%.

Não vou invocar aqui a autoridade do guru Paul Krugman, porque não lhe reconheço autoridade nestas matérias em que ele não consegue libertar-se da sua ciência económica de causas. Ao contrário, esperava-se a autoridade de Krugman fosse tida em conta pelo governo, cujos spin doctors invocam habitualmente o nome da luminária para caucionar as suas políticas. E a avaliação de Krugman a respeito do sucesso do leilão foi: «an interest rate that high is little short of ruinous». Talvez o governo para mobilizar a boa vontade da luminária deva oferecer-lhe um lugar de consultor no BdeP ou na Caixa.

O certo é que o governo colocou as OT Out 2014 a uma taxa média ponderada 33% superior à de 27-10-2010. Até aqui só se vê insucesso. Por isso, só podemos procurar o sucesso no leilão das OT Jun 2020, cujos resultados (disponíveis no sítio do IGCP) mostram como foi feito o milagre.


O montante colocado (599 milhões) foi inferior ao limite mínimo do intervalo do montante indicativo (750-1.250 milhões) e a tão propalada taxa média ponderada (6,716%) inferior em 1,3% (grande sucesso!) à taxa para o mesmo período do último leilão (6,896% em 10-11-2010) foi conseguida com uma taxa de corte (6,759%) cirurgicamente calculada para travar o aumento da taxa média e poder assim trombetear o grande sucesso. Tivesse o montante colocado (599 milhões) fica próximo do limite superior (1.250 milhões) e a taxa média pularia de certeza para mais de 7%, como se pode inferir do montante ridículo (10 milhões) da procura à taxa mínima e da taxa de corte ser apenas 2,6% (43 pontos base) superior à taxa mínima.

Separados à nascença


[Gráfico daqui]

Países que (quase) acabaram com os ricos saíram-se muito pior do que aqueles que (quase) acabaram com os pobres. E ainda há quem diga que a economia não é uma ciência experimental.

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CH'ENTRATE: O fim do estado social (3)

[Continuação de (1) e (2)]

Em contas de merceeiro, as responsabilidades totais do sistema de segurança social podem atingir 4 ou 5 vezes o volume actual do PIB. A este volume foram agora adicionados, para mitigar a derrapagem da execução orçamental em 2010, quase 3 mil milhões de euros com a transferência do fundo de pensões da PT, ou seja cerca de 30% do montante do Fundo de Estabilização Financeira. Esqueçamos, por agora, toda a traficância feita com despesas não contabilizadas que atingem quase 3 mil milhões.

Além daquelas responsabilidades do «estado social», é necessário considerar uma pesadíssima dívida ao exterior. E o que interessa a este respeito não é a dívida líquida (cerca de 180 mil milhões) mas a dívida total bruta de 500 mil milhões de euros ou 3 vezes o PIB, a qual continuará inexoravelmente a aumentar nos próximos anos. O custo do serviço dessa dívida, nas actuais circunstâncias com o aumento dos spreads sobre a dívida soberana e, reflexamente, sobre a dívida privada ao exterior, só pode aumentar. Por cada um por cento de aumento dos juros a carga sobre o PIB triplicará - se a taxa média de juros aumentar 3% o peso sobre o PIB será de 9% ou seja o triplo do défice do OE que a longo prazo o governo português se compromete a não ultrapassar. [Daniel Bessa estima em 10% o impacto total]

Com uma tal pesada herança deixada pelo fascismo pelas gerações nascidas grosso modo até ao fim dos anos sessenta, a carga sobre os ombros das gerações posteriores será provavelmente insuportável às mentes hedonistas instiladas nas suas meninges com a ajuda dos seus pais e avós. Terá um dia a anunciada ditadura geriátrica o seu 25 de Abril?

12/01/2011

Bons exemplos (14)

Vítor Caldeira foi reeleito para um segundo mandato de três anos na presidência do Tribunal de Contas Europeu.

Lost in translation (84) – onde em «claramente abaixo» abaixo deve ser traduzido à letra

«O défice orçamental de Portugal vai ficar “claramente abaixo” dos 7,3% do PIB, anunciou hoje o primeiro-ministro José Sócrates, numa declaração conjunta com o ministro das Finanças, efectuada em São Bento». [Jornal de Negócios]

Como aqui demonstrámos, o défice real sem a cosmética socrática ultrapassaria 12%. Sendo o défice por natureza um valor negativo, um valor ainda mais negativo estará «abaixo». E sendo 66% «abaixo» será adequado classificar esse défice como «claramente abaixo». Assim se comprova o domínio das subtilezas da álgebra pelo senhor primeiro-ministro, apesar de se ter licenciado ao domingo.

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Pedintes à presidência

Manuel Alegre propõe com orgulho patriótico «interromper a campanha para fazer diligências junto de chefes de Estado da União Europeia» a pedir uns juros mais em conta. Cavaco Silva, enciumado, a quem esta ideia genial «não merece comentários», responde com outra ideia igualmente patriótica «vender activos ao estrangeiro». Ideia menos poética mas mais realista e já em curso há anos.

É um verdadeiro concurso de ideias de candidatos pedintes à presidência de um país pedinte. Já estou a ouvir os aplausos de apoiantes pedintes vibrantes de excitação.

11/01/2011

Lost in translation (83) – no final, mais uns milhares de milhão, queria ele dizer

Na sexta-feira, o ministro implicitava que «são apenas 2 mil milhões». Ontem, o amigo Bandeira, presidente do BPN, mais próximo do problema e com menos desculpas, disse aos deputados: "haverá, no final, um custo a suportar pelo Estado e pelos contribuintes que ainda hoje não é possível quantificar … para já, reportar-se aos capitais próprios negativos do banco que são dois mil milhões de euros».

José Mourinho, o candidato impertinente

Um exemplo para um país de bananas, governado por sacacas.

Obrigado, José.

Impertinente............................Pertinente

Pro memoria (17) - o spread da conversa fiada

Portugal «não vai pedir nenhuma ajuda (ao FMI) porque não é necessário», garantiu hoje José Sócrates. Tomemos nota destes delírios para conferir mais tarde e calcular a factura que José Sócrates terá imposto aos portugueses em acréscimos de juros à conta do spread da conversa fiada.

DIÁRIO DE BORDO: Dinheiro emprestado, anda mal parado

Aqueles que hoje pedem dólares e euros emprestados ao Estado Chinês, deveriam saber que em 1974, enquanto por aqui vivíamos em pleno PREC, devidamente excitados pelo agitprop maoísta, ocupando empresas e «saneando fascistas», uma delegação chinesa chefiada por Deng Xiaoping, acabado de sair de um período de desgraça, esteve em riscos de não conseguir sair da China por não haver divisas suficientes em todo o primitivo sistema bancário chinês para pagar os bilhetes de avião para participar na AG da ONU em Nova Iorque.

36 anos depois os chineses reconverteram-se ao confucionismo (frugalidade, trabalho árduo, poupança e acumulação para as gerações futuras) e aforram biliões (*) em divisas, e nós abandonámos o «confucionismo» dos nossos avós e convertemo-nos em adolescentes estouvados que torram o dinheiro dos pais.

(*) Exactamente 2,2 biliões de euros. São biliões, não são milhares de milhões.
[Episódio contado em Red Capitalism: The Fragile Financial Foundation of China’s Extraordinary Rise, C. Walter e F. Howie]

10/01/2011

BREIQUINGUE NIUZ: Here we go, again


Os mercados são surdos à sereia de José Sócrates.

Lost in translation (82) – os bancos não precisam de capitais próprios, disse ele

«Os 5 mil milhões de euros são o total da liquidez injectada. Os capitais negativos, que são a verdadeira situação líquida do banco, são de apenas 2 mil milhões», garantia o ministro das Finanças Teixeira dos Santos a respeito da situação do BPN, querendo demonstrar que o governo só teria que torrar os 2 mil milhões num banco que, segundo ele, há pouco mais de um ano, até «não custou nada» ao Estado e mostrava «melhorias significativas nas suas actividades».

Sendo difícil de acreditar que os problemas de aritmética do ministro se circunscrevam ao défice, devemos estar preparados para o pior. Preocupação reforçada pelo facto de não ter explicado como poderia o BPN prosseguir as suas operações se o governo apenas aportasse os tais 2 mil milhões deixando os capitais próprios em zero ou como alguém o compraria nessa situação, ou, em alternativa, quanto teria o governo que pagar a um potencial adquirente que a seguir seria obrigado a garantir o Tier 1 dum banco com activos líquidos de 6,8 mil milhões de euros em 31-12-2009.

Coisas que ficaram por dizer (3)

O economista Daniel Amaral continua a não explicar a sua distracção durante a maior parte dos mais de 15 anos durante os quais percorremos alegremente o caminho que nos conduziu à terrível situação económica e financeira  que hoje descreve sem saída.

09/01/2011

DIÁRIO DE BORDO: Deixar de mastigar o bolo-rei (2)

[Continuação de (1)]

Quanto mais se sabe do caso SLN-BPN mais a reputação de Cavaco Silva se afunda. Sábado ficou a saber-se pelo Expresso que na mesma altura que Cavaco Silva e sua filha compravam acções por 1 €, elas eram vendidas a outros accionistas a preços entre 1,8 e 2,2 €. Ficou também a saber-se que as acções vendidas por Cavaco Silva e sua filha foram compradas em 2003 pela SLN por autorização pessoal de Oliveira e Costa. O mesmo Oliveira e Costa que em 2005 faria parte da comissão de honra da candidatura de Cavaco Silva.

Nada disto é ilegal e ainda menos crime. É apenas indício de Cavaco Silva poder ter tido um tratamento de favor que claramente fazia parte estratégia de Oliveira e Costa e seus sócios para anestesiarem os poderes fácticos, incluindo quer gente do PSD, quer do partido maçónico-socialista. Indício reforçado pela reticência de informação e a falta de transparência mostrada por Cavaco Silva. Reticência e silêncio justificados por uma espécie de auto-concedida superioridade moral, que ficaria melhor na esquerdalhada de todas as tendências e que parece fundar-se no facto de querer excluir-se duma classe política de que faz parte há pelo menos 25 anos.

E no fundo seria tão fácil despoletar esta bomba. Bastaria cortar com aquela gentalha gravitando no universo SLN-BPN, a começar por Dias Loureiro e a acabar em Oliveira e Costa, garantir que não sabia o que por lá se passava (nisto estava na boa companhia do ministro anexo Vitor Constâncio) e reconhecer que tinha sido um erro deixar-se envolver. Seria, mas definitivamente já não é. Agora só poderá ser salvo pela inépcia e telhados de vidro (Alegre e o anúncio do BPP, por exemplo) da oposição e, sobretudo, por um esperado efeito líquido positivo entre a putativa indiferença moral do eleitorado e sua endémica desconfiança do dinheiro não proveniente de direitos adquiridos, como aqui escreveu o Pertinente.

SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (7)

[Actualização de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]

«As receitas fiscais ficaram acima do esperado, … a despesa do Estado fica abaixo do esperado – uma boa notícia, e o saldo orçamental vai ser aquele que está nos objectivos do governo 7,3%» garantiu José Sócrates, esquecendo alguns pormenores:
  • A despesa contabilizada não inclui um montante não determinado de facturas das farmácias e de outros prestadores de serviços de saúde não pagas – muito provavelmente ultrapassando 2 mil milhões de euros;
  • A despesa contabilizada não inclui 400 milhões de facturas das construtoras;
  • A despesa contabilizada não inclui 2,5 mil milhões de imparidades do banco nacionalizado BPN que vão ser diluídas durante 10 anos;
  • A receita contabilizada inclui pelo menos 400 milhões vendas de imóveis do Estado ao Estado;
  • A receita contabilizada inclui 2,8 mil milhões da transferência do fundo de pensões da PT.
Fazendo a soma algébrica destes pormenores chegamos a 8,1 mil milhões a adicionar ao défice socrático e o défice efectivo sobe de 7,3% para 12,1% o que ultrapassa em quase 3% do défice apresentado em 2010, que começou em 2,2% e acabou em 9,3%.

O governo considera os cidadãos e as empresas potencialmente mais insolventes do que o Estado

No último dia do ano, o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público publicou um aviso que fixa em 6,351% a taxa de juros de mora para dívidas ao Estado e entidades públicas. Esta taxa resulta do disposto na Lei do Orçamento fixando-a na soma da média mensal das taxas Euribor 12m no último ano com um «spread» de 5%. O último leilão em 1-12-2010 para BT a 12 meses teve uma taxa média ponderada de 5,281.

Conclusão: o governo avalia o risco médio de incumprimento dos seus cidadãos maior do que o do Estado. Considerando ser a dívida média das famílias menos de 1,5 vezes o seu rendimento disponível (compara com a dívida do Estado mais o dobro das suas receitas fiscais) e serem as famílias geridas por pessoas medianamente incompetentes financeiramente (compara com a incompetência financeira terminal mostrada pelo governo Sócrates), eu não apostaria nisso.

08/01/2011

Mitos (34) – a justiça não funciona em Portugal

«O DVD do caso Freeport que mostra o empresário Charles Smith a dizer que José Sócrates é corrupto foi utilizado pelo inspector do Ministério Público que investigou a acção dos procuradores do processo, Paes Faria e Vítor Magalhães - concluindo com a proposta de processos disciplinares para ambos e para a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, Cândida Almeida. Ou seja, o filme, considerado como prova proibida num processo-crime, serviu para, em sede disciplinar, incriminar os procuradores.» (DN)

A justiça não funciona em Portugal? Funciona, só que de maneira diferente.

NÓS VISTOS POR ELES: Um bife mal passado fala de nós com humor e inteligência

«Adoro o modo como o Eça escreve sobre comida, é profundamente sensual. Em "O Crime do Padre Amaro", quando ele descreve o som que vem do andar de cima, da saia a roçar o chão...

E a comida, as refeições, é de uma sensualidade... O jantar dos Cohen, o do Jacinto em "A Cidade e as Serras", com o peixe que fica preso no elevador... Muito bem observado. E o jantar dos Cohen é Portugal no seu pior e melhor. E o modo como insultam o país é tão português. Ega fica tão bêbado que grita que o país precisa de uma nova invasão espanhola. E, claro, lá vem a reacção tão portuguesa, o orgulho ofendido, o extremo oposto, o nacionalismo. E no fim a habitual reconciliação na rua. Ninguém sai de uma casa portuguesa dizendo obrigado e boa noite, fechando a porta.

As pessoas abrem a porta e ficam à conversa na porta, na saída. A conversa começa na porta aberta, no corredor. Eu noto que os portugueses continuam a conversa depois do jantar, na porta, na rua. Repare numa reunião de trabalho em Portugal, é sempre um desastre. Ninguém diz nada, o objectivo é perceber o que o outro sabe. Ninguém diz nada, é para inglês ver. Depois da reunião, as pessoas abrem a porta e saem e aí começa a reunião. Na saída, na rua, no passeio... Aí é que as pessoas começam a falar

[Alexander Ellis, Embaixador do Reino Unido, proprietário do blogue Um Bife mal passado, em entrevista a Clara Ferreira Alves na revista Única do Expresso]

07/01/2011

Pro memoria (16) - não esquecer pagar

Lembrete para os meus filhos e netos: não esquecer pagar a factura da co-geração; são apenas 3,5 mil milhões em suaves prestações a partir de 2012 até 2027.

CASE STUDY: Mais um exemplo do efeito Lockheed TriStar

Deve ter ser o efeito Lockheed TriStar, com o equivalente em português vernáculo no aforismo «perdido por cem, perdido por mil», o fundamento teórico do aviso: «Silva Lopes avisa que o prejuízo de parar grandes obras pode ser demasiado elevado».

Efeito Lockheed TriStar
Nos finais dos anos 60 a Lockheed desenhou um novo avião para concorrer com o Boeing 747, que usaria motores revolucionários especialmente desenhados pela Rolls Royce. Primeiro desastre: a Rolls Royce entrou em falência para produzir os motores a um custo 4 vezes superior ao orçamentado. Para piorar as coisas, o choque petrolífero de 1973 aumentou o preço do jet fuel a um nível que tornou economicamente inviável para as companhias de aviação a operação do Tristar com esses motores excessivamente gulosos, desenhados para os tempos do petróleo a pataco. Segundo desastre: a Lockheed, com o argumento de já ter investido muitos milhões de dólares, decidiu continuar a investir e a produzir o L-1011 TriStar para não perder o investimento já realizado. Em resultado, ao fim de 14 anos de produção, vendeu, a preços de saldo, metade do volume de break-even e perdeu várias vezes o valor que teria perdido se interrompesse a produção em 1974, quando já era claro que o avião era inviável.

Bons exemplos (13)

Jerónimo Martins, a melhor performance bolsista de 2010, gente séria e competente, fortíssima presença no estrangeiro, um grupo adequadamente capitalizado e last but not least distância e independência do poder político e em particular do complexo político-empresarial socialista.
[Ver aqui mais porquês]

DIÁRIO DE BORDO: Deixar de mastigar o bolo-rei

Por lapso referi-me aqui a Cavaco Silva como accionista do BPN e reparei depois esforçarem-se os seus apoiantes por concluir que, não tendo sido accionista do BPN, não tem de tirar as suas castanhas do lume e esclarecer porque foi comprar acções duma SLN pejada de gente da sua presuntiva confiança, acções que passados 3 anos vendeu (a quem?) fazendo uma mais-valia de 140%. Ter não teria, se fosse apenas o Senhor Silva e não presidente da República e candidato a novo mandato e nesta qualidade não tivesse invocado o demónio e mandado umas achas para esta fogueira.

Cavaco não foi de facto accionista do BPN. Foi accionista da SLN, holding cuja participação de longe mais significativa era a do BPN. Entre os membros dos dois governos dos quais Cavaco foi primeiro-ministro e gente que lhe foi ou ainda é próxima, estiveram ligados ao BPN ou à SLN ou a ambos, encontramos sem esforço uma boa dúzia, entre os quais: Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Rui Machete, Miguel Cadilhe, Faria de Oliveira, Abdul Vakil, Joaquim Coimbra, Alberto Figueiredo, Fernando Fantasia.

Perante estes dados objectivos, está na hora de Cavaco Silva deixar de mastigar o bolo-rei e explicar-se. Se não o fizer duma forma minimamente aceitável pode preparar-se para disputar uma 2.ª volta e sujeitar-se a enxovalhos ainda maiores.

06/01/2011

O prejuízo da dúvida

A alteração do método de recolha de dados do desemprego de presencial para telefónico até pode ser tecnicamente justificada, apesar de tornar incomparáveis os dados futuros com os dados históricos e apesar de Portugal ser dos países europeus em que metade das famílias não tem telefone fixo. Contudo, com o historial de manipulação do governo Sócrates, eu não apostaria nisso.

Pode-se considerar este argumento dubitativo ele próprio duvidoso? Pode, sim senhor. A troca do benefício pelo prejuízo da dúvida é o preço da destruição sistemática de credibilidade iniciada por José Sócrates há quase 5 anos e iterativamente confirmada.

BREIQUINGUE NIUZ: Grandes realizações do governo Sócrates

«Economia portuguesa será a terceira pior do mundo em 2011»

Cavaco contra Cavaco

Na falta de opositores credíveis Cavaco oferece-lhes as munições do BPN e expõe-se ao seu tiro como sitting duck. Os seus apoiantes estão confiantes que o eleitorado se está nas tintas para o candidato ter aforrado uma mais-valia de 140% em 3 anos nas acções da SLN, a holding do BPN. Numa conjuntura em que o eleitorado está a mudar as férias de Cancún para a Quarteira e num país em que 90% acredita que todo o dinheiro que não provém de direitos adquiridos é suspeito, eu não apostaria nisso.

E, por falar nisso, escarafunchar as ligações Cavaco Silva-SLN/BPN, existindo uma meia dúzia de pessoas envolvidas na campanha que andaram por lá, será mais «baixa política» do que escarafunchar os inúmeros casos em que José Sócrates e os seus homens de mão apareceram envolvidos?

GIORNALE DI BORDO: Tutto deve cambiare, perché tutto resti uguale

A Murteira Nabo, em representação dos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, sucede Leão Martinho, em representação dos banqueiros do regime.

Hoje é dia dos Reis Magros



05/01/2011

Quem senão ele?

O presidente do grupo de trabalho para criar o Conselho Para a Monitorização das Contas Públicas e da Política Orçamental é António Pinto Barbosa, uma luminária fundador do PSD e antigo presidente do Conselho Fiscal do Banco Privado Português que durante todo o seu mandato deu parecer favorável às contas do banco de João Rendeiro, o nosso madoffzinho.

Os pobres gostam de luxo. Quem não gosta de luxo são os intelectuais

No ano passado, em plena crise, a venda de automóveis de luxo aumentou no conjunto 26%. As marcas alemães tiveram um aumento acima da média: Porsche 88%, BMW 29%, Mercedes 31%. Frau Merkel debate-se com o dilema português: consolidação orçamental versus aumento das importações de carros alemães (pretos) para apparatchiks e empresários do regime.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Uma lógica resistente até aos pontapés na gramática

«A minha teoria é que ninguém sabe se o Guardiola é muito bom treinador ou não: Guardiola não é mau trainador, mas agora se é tão bom como a equipa que tem é uma coisa que eu pago a quem me conseguir provar que sim.

O sumo que se pretende espremer disto tudo é que o José Mourinho é o unico treinador que, neste momento, tem provas dadas a criar grandes máquinas de ganhar e de produzir bom futebol (sim, o Inter produzia um grande futebol, seus badamecos) em qualquer condição que se lhe apresente.
»

[Uma dissertação do maradona. Pode ser lida integralmente aqui, se conseguir antecipar-se ao apagamento inevitável]

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «Falharam a vida, meninos» (e meninas)

«A geração de 60 será em Portugal uma das primeiras em décadas e décadas a ser sucedida por outras que viverão pior. O ano que agora acaba é aquele em que se tornou óbvio que falharam a vida, meninos. O que nos espera de agora em diante é constatar que para lá desse falhanço também lixaram a vida daqueles que vieram depois.»
[Um violento libelo de Helena Matos, no Público, transcrito no Blasfémias, contra os meninos (e meninas) da geração de 60]

E porque não se revoltam os que vieram depois e têm a vida lixada? Falando pela boca de Manuel Villaverde Cabral:

«Um dos fenómenos que explica a ausência de revolta e do respectivo grito é que os papás estão a aguentar. Se há agora uma geração precarizada ela está a pagar, de certa maneira, o preço do apaparicamento que a geração dos papás – inclusive a minha – teve. Houve realmente oportunidades que nunca ninguém tinha tido em Portugal e provavelmente não vai voltar a ter tão cedo.»

04/01/2011

SERVIÇO PÚBLICO: Torrefacção BPN (Bis)

[Continuação daqui]

Ninguém parece saber o tamanho do buraco negro do BPN. Sabia-se da injecção de 4,5 mil milhões e dos mais 500 milhões a caminho e adivinha-se ser isto apenas uma parte. Ficou a saber-se dos 2 mil milhões de activos que não valem a ponta de um corno para transferir para três veículos que irão diluir as imparidades (em financês a diferença entre o valor nominal e a ponta de um corno) durante 10 anos. Dito de outro modo, aos sujeitos passivos irão ser extorquidos durante esse período 200 milhões por ano a somar à extorsão já consumada à conta do BPN.

Entretanto, numa outra galáxia, há um candidato-presidente que foi chefe de presidentes, administradores e accionistas do BPN e ele próprio accionista, que, com a falta de savoir-faire e de timing habituais, se pôs a jeito para ser o bombo da festa do governo que anda há 3 anos a entornar dinheiro em cima do problema que criou. Quem sabe ainda precisa da 2.ª volta para tentar vencer apertadamente o poeta Alegre.

Lost in translation (81) – está a cair de maduro, deveria ela ter dito

«Portugal está maduro para implementar a regionalização» disse Teresa Almeida, presidente da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, «que defende o TGV e o aeroporto», talvez sonhando com a sua promoção a «presidenta» (Dilma Rousseff dixit) do governo regional de Lisboa e Vale do Tejo, comandando uma nova camada de apparatchiks actualmente estacionados nas lojas maçónicas e no supermercado socialista, aguardando colocação.

[Se trasladássemos a megalomania regional para a escala dos EU, por exemplo, equivaleríamos o primeiro-ministro José Sócrates a Michael Bloomberg, presidente da câmara de NY, com grande vergonha para o segundo, se ficasse a saber da equivalência, e o pequeno inconveniente para o primeiro de receber o salário de 1 dólar por ano que o segundo faz questão de receber, por ter tido uma vida anterior que o primeiro não teve e nunca poderia ter.]