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16/01/2011

DIÁRIO DE BORDO: A integridade dos candidatos não interessa?

Para quem, como Cavaco Silva, garante que para ser mais honesto do que ele próprio é preciso nascer duas vezes, os contornos da compra e venda por contrato particular de acções da SLN, com uma mais-valia irrealizável em condições normais do mercado, são dificilmente compatíveis com essa auto-imagem. Se o caso SLN-BPN não fosse suficiente para levantar dúvidas sobre a integridade do ainda presidente, o caso da moradia da Aldeia do Coelho investigado pela Visão, que Cavaco Silva recusou comentar, vem reforçar a dúvida.

Também no caso da Aldeia do Coelho, não é óbvia a existência de ilegalidade. É “apenas” uma situação confirmando ligações perigosas à gente da SLN-BPN e indiciando possíveis favores dessa gente, com offshores à mistura, escritura que não se encontra na conservatória e cheiro de trapalhadas que podem ser e são habituais no Portugal de sucesso, mas devemos reconhecer incompatíveis com a imagem impoluta e de santidade que o candidato nos pretende sugerir.

Em relação ao caso SLN-BPN, já ouvi a conversa da SLN e do BPN serem duas empresas distintas (este argumento não é um atentado à inteligência de quem o ouve, é a confirmação da falta de inteligência de quem o apresenta). Também já ouvi a conversa do “pois se até o BdeP não sabia de nada” por parte de quem considerou, e bem, Vítor Constâncio como um ministro anexo. Todas estas conversas passam ao lado dos factos conhecidos e das informações disponíveis, como a denúncia da situação duvidosa do BPN em Março de 2001 por Camilo Lourenço na Exame. Tudo isto poderia escapar a um ignoto eleitor. Mas pode aceitar-se ter escapado à presciência de um professor de economia, ex-ministro das finanças e ex-primeiro ministro que em 1986 alertou para se estar a «vender gato por lebre» na bolsa de Lisboa com isso despoletando um crash local?

E continuo a ouvir também a conversa das campanhas negras, como nos casos de Sócrates, e a conversa da legalidade, como se a única coisa importante nos candidatos fosse não ter registo criminal. E o carácter e a integridade, senhores? Não interessa? Errado! É talvez a coisa que mais interessa, quando as doutrinas políticas dos candidatos, e em particular a sua visão do papel do Estado, são dificilmente distinguíveis, com excepção do candidato comunista que prescreve a república dos sovietes.

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