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10/02/2013

Lost in translation (167) - Ele avisou, ninguém traduziu e eles não perceberam

Na passada 4.ª Feira, Vítor Gaspar, falando no parlamento sobre as alterações à Lei de Enquadramento Orçamental para acomodar as novas regras de disciplina orçamental em relação ao défice e à dívida, disse aos distraídos deputados, dormitando de olhos abertos à sua frente, que o cumprimento dessas regras «implicará uma redução gradual do peso da dívida pública no PIB durante mais de uma geração».

Escrevi distraídos dormitando porque não acredito que, se tivessem acordados, se soubessem que a duração de uma geração segundo Heraclito é de 30 anos e na versão da Bíblia é de 40 anos, se soubessem que o serviço de uma dívida pública e de uma dívida externa total, já hoje mais 120% e mais 250% do PIB, respectivamente, e a crescer durante anos, absorverá muito mais do que a poupança média que fomos capazes de fazer desde há uma geração heraclítica, não acredito, repito, que, se soubessem tudo isso, não tivessem deixado cair na bancada as cabeçorras sob o peso da perspectiva de durante a duração de uma geração não poderem fazer mais promessas de amanhãs que cantam sem os seus eleitores se rirem, uns, ou chorarem, outros.

Quereis uma demonstração dessa profunda distracção? Respondendo à necessidade acentuada por Vítor Gaspar de «um consenso político convicto e durável» para cumprir essas regras de disciplina orçamental, o líder parlamentar Carlos Zorrinho, respondeu de seguida «votaremos a favor desta lei», com a mesma expediência, descontração e ligeireza com que teria dito «votaremos a favor do TGV».

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