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06/07/2013

Mitos (117) – Teixeira dos Santos foi uma vítima «da conjuntura e do estrangeiro»

[Uma espécie de sequela do mito do PEC 4]

«A altura que o ministro Vítor Gaspar escolheu para abandonar o Governo coincidiu, acidentalmente, com o momento em que outro ex-ministro da pasta, Teixeira dos Santos, resolveu reaparecer aos portugueses. Na sua entrevista à TVI, o responsável que colocou as Finanças portuguesas a um centímetro da bancarrota e deixou o pais nas mãos da troika veio tentar convencer-nos de que foi um mero espectador da hecatombe que se desenrolava à sua volta.


Com a sua sorumbática resignação, Teixeira dos Santos diz-nos agora que tudo lhe passou ao lado. Ou por cima da cabeça. A dívida das administrações públicas disparou de 98 mil milhões de euros em 2005, quando assumiu o cargo, para 185 mil milhões (108,3% do PIB!) em 2011, quando saiu? O Estado hipotecou o futuro das próximas décadas com ruinosos encargos de 15 mil milhões em PPP rodoviárias e ferroviárias? Enterraram-se milhões atrás de milhões em megalomanias de troços de TGV e autoestradas sem tráfego que as justifique? Os juros anuais da dívida nacional saltaram de 3,8 mil milhões em 2005 para 6,9 mil milhões em 2011? Desperdiçaram-se fortunas em luxos da Parque Escolar e no regabofe das Novas Oportunidades? Teixeira dos Santos alega que a culpa foi toda da conjuntura e do estrangeiro, que ele não podia fazer mais nem melhor. Até os famigerados contratos swap, que proliferaram como cogumelos no seu mandato, com riscos de milhares de milhões, não eram bem do seu conhecimento - perguntassem por eles ao seu secretário de Estado.

Não admira que, face a este festival de desresponsabilização e de alijar de culpas, os padrinhos da dívida e da bancarrota exultassem com o branqueamento de imagem. «Uma entrevista da maior importância», salientou José Sócrates. «Uma entrevista histórica», escreveu Pedro Silva Pereira. Não era preciso serem tão óbvios.

Vítor Gaspar pode ser criticado por desistir a meio do mandato. Mas teve a coragem de tomar medidas difíceis e impopulares que a situação do país exigia. E a frontalidade de apontar os que entendeu serem responsáveis por obstruírem a sua política e forçarem a sua demissão, do TC a Paulo Portas. Já Teixeira dos Santos permitiu tudo, caucionou tudo, submeteu-se a tudo. Sem um gesto e sem titubear. Até ao desastre final. É essa a diferença.»

José António Lima, no SOL

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