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23/02/2014

SERVIÇO PÚBLICO: Se um historiador percebe...

«O crédito "neoliberal" possibilitado pelo euro passou a ser a primeira ferramenta dos governos socialistas, do keynesianismo alcatroado e do Estado social. Guterres e Sócrates não reduziram a função pública e também recusaram qualquer reforma no sistema de pensões, porque tinham à mão o tal crédito "neoliberal". É por isso que é tão absurda a falácia dos últimos anos. Não, não há um abismo entre Estado social e mercados, porque o Estado social é o maior cliente das praças financeiras; sem os mercados, os salários da função pública seriam infinitamente mais pequenos porque dependeriam apenas da nossa receita fiscal. Neste momento, os cortes austeros são necessários porque são a única forma de travarmos esta dependência extrema dos merca- dos e a perpetuação-do endividamento. É assim tão difícil compreender isto? A austeridade não é a defesa dos merca- dos, é o oposto, é a negação do Estado viciado no crédito. Por outras palavras, Sócrates e Guterres, e não Gaspar, é que são os verdadeiros "neoliberais" desta história. Aqueles que gritam "queremos as nossas vidas de volta" é que são os principais aliados do "capitalismo de casino".

Mas, como relembra Vítor Gaspar, a governação não foi a única culpada. As famílias começaram a consumir importações com dinheiro que não tinham, isto é, pediram crédito aos bancos portugueses, que, por sua vez, pediram crédito aos bancos estrangeiros porque a taxa de poupança de Portugal desceu para os 10% negativos ao ano. Resultado? Numa década, a dívida externa passou de 64% para 230% do PIB. A ausência do mercado de arrendamento e a inevitável compra de casa através do banco só reforçou esta tendência suicida. E as empresas? Viciaram-se no consumo interno e no keynesianismo alcatroado, deixando de lado as exportações. Em consequência, acumulámos um défice externo brutal. Tendo em conta este cenário, Vítor Gaspar relembra que Portugal só tinha dois caminhos em 2011: ou fazíamos um ajustamento em câmara lenta com a troika ou tínhamos uma bancarrota abrupta; ou empobrecíamos uns pontos percentuais dentro do euro ou conhecíamos o terror argentino no regresso ao escudo.»

Henrique Raposo, «Gaspar tem razão», no Expresso

Se um historiador percebe, porque não perceberão os economistas mediáticos?

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