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13/03/2014

CASE STUDY: Obras do regime – A Judite já tem panteão

Como já aqui e ali escrevi inúmeras vezes, temos uma tradição que cultivamos com devoção e que vem pelo menos desde o convento de Mafra, a saber: não há fé que não precise de um edifício para albergar o culto e os seus praticantes.

Não haveria de ser diferente com o templo onde se investigam os crimes do regime, a nova sede da Polícia Judiciária - Judite para os connaisseurs. Foi inaugurada 3.ª feira na Avenida Gomes Freire, em Lisboa, dois meses antes de estar operacional (um pormenor delicioso que mostra que o alegado neoliberalismo deste governo é bastante parecido com o socialismo do anterior).

Ficou assim preenchido com betão um buraco na Avenida Gomes Freire que os judites chamavam «o buraco das finanças da Madeira», um exemplo de como na natureza do Estado português nada se perde e tudo se transforma, neste caso num buraco de 84 milhões de euros.

Segundo a descrição entusiástica do Expresso, a coisa tem 80 mil metros quadrados, «um bunker com uma sala de situação a ser usada em casos de emergência e em diligências de investigação (…) um parque de estacionamento com 30 postos de recarga para carros eléctricos e duas carreiras de tiro, uma delas com capacidade para simular perseguições automóveis». A isto devemos acrescentar um laboratório de Polícia Científica oito vezes maior (poderíamos alugá-lo para filmar cenas das série
da Fox CSI?) e mil gabinetes de trabalho.

Clique para ver o panteão em todo o seu esplendor
«É a única da Europa», garantiu o director nacional adjunto da Judite. Estará à altura do elevado nível de investigação que a PJ nos habituou, só faltará talvez uma sala para divulgação do segredo de justiça, que é uma coisa que faz imensa falta.

 Os palácios da investigação, como os palácios da justiça, os salários principescos dos juízes e outros despautérios fabricados pelos nossos governos, como os oito suplementos que pagam aos polícias, suportam uma teoria da conspiração com bastante aderência aos factos conhecidos – a tentativa da classe política doméstica assegurar a «cooperação» das corporações que a podem ameaçar as quais, por seu turno, usam as «fugas» ao segredo de justiça como uma arma para garantir a perpetuidade deste acordo de regime.

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