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28/05/2014

A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (17) – Uma atracção fatal pode acabar por ser literalmente fatal

[Mais atracções fatais]

Embora pudesse, não vou escrever que há anos previa o colapso do banco do regime ou, melhor, o colapso do BES como paradigma da banca de regime. Agora que já escrevi, acrescento que, em rigor, não era exactamente uma previsão. Era um desejo. O desejo de ver terminada a influência excessiva do grupo Espírito Santo e, não só por ser excessiva, mas também por isso, nefasta para a economia e para o país.

E essa influência excessiva está a terminar na lama do pântano em que o GES se vem afundando ano após ano. O que dizer de toda a trapalhada fiscal – para ser benigno e não lhe chamar evasão fiscal - em que Ricardo Salgado apareceu envolvido?

O que dizer de uma dívida de 5,3 mil milhões do grupo Espírito Santo colocada em clientes da ESFG? Sem contar com quase 600 milhões de dívida de várias participadas do GES colocadas em clientes do retalho e private do BES. E o que dizer de um aval de 4,2 mil milhões do Estado angolano ao BESA relativamente a operações com empresa angolanas? E o que dizer da ocultação de 1,2 mil milhões de dívida nas contas da ESI atirada para cima das costas do commissaire aux comptes? Já agora, repare-se no ridículo de baptizar o contabilista com esse nome pomposo e erróneo que os franceses reservam para o revisor oficial de contas.

E o que dizer da maior humilhação de todas que é o prospecto do segundo aumento de capital em pouco tempo do BES, só por si um libelo das práticas que o GES imprimiu ao seu banco que instrumentalizou para servir interesses de legitimidade duvidosa da família? É um libelo e a humilhante admissão – imposta pelo BdP e pela CMVM - dessas práticas pela própria Administração.

São 375 páginas, incluindo 37 páginas descrevendo 44 factores de riscos e mais 40 sobre a gestão do risco (que pelos vistos funcionou mal). Factores de risco que incluem a exposição a riscos reputacionais devida à deterioração financeira da ESI e das suas subsidiárias, a admissão de «irregularidade materialmente relevantes nas contas da ESI», e o risco de alterações na administração do BES (em boa verdade o risco seria manter o status quo).

Chegará ao fim a influência excessiva e nefasta dos Espíritos na economia e no país? No mínimo, espero que nada no futuro seja como no passado em que fortíssimos indícios de promiscuidade entre a família e os poderes fácticos (governos e partidos - predominantemente socialistas, lóbis, luminárias do tráfico de influência et al.) são a explicação mais óbvia dos fortíssimos indícios de envolvimento em manobras na PT, no caso dos submarinos, no financiamento partidário, no assalto ao BCP e em muitas outras operações obscuras de importância e gravidade variadas.

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