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07/07/2014

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Martin Amis recorda Koba, o terrível (4)

Segunda. Há algo de inimitavelmente Estaline na observação que «tinha o hábito de repetir» depois da guerra, segundo Svetlana (filha de Estaline). Tinha hábito de repetir: «Etch, unidos aos Alemães teríamos sido invencíveis». Não é tanto o cinismo chocante (e o deboche ideológico) do sentimento; o que impressiona é a imensa Realpolitik contida nessas humildes, provincianas três letras da expletiva da gente das montanhas, Etch...

Terceira. Esta refere-se ao terrível caso de Pavel Morozov. Pavel («Pavlik») era um camponês de catorze anos que, no princípio dos anos trinta, denunciou o seu pai (por tendências kulaques). O pai foi fuzilado. E Pavlik foi morto pouco depois por um grupo de aldeãos que se disse incluir o seu avô e o seu primo. Estaline interrompeu por momentos os preparativos para enaltecer Pavlik como herói e mártir do socialismo (estátuas, canções, contos, entra para o «Livro do Heroísmo» do Pioneiro, o Palácio da Cultura de Moscovo recebe novo nome em sua honra), para comentar, em privado: «Que safado, denunciar o próprio pai».

Quarta. A 29 de Junho de 1941, com uma semana de invasão nazi, Estaline compareceu a uma reunião com os militares e foi informado da verdadeira dimensão do descalabro - e da verdadeira dimensão do seu próprio erro de cálculo, paralisia, miopia voluntária e falta de ânimo. «Lenine deixou-nos uma grande herança e nós, seus herdeiros», disse Estaline «alto», procurando a modulação apropriada àquele nó da história universal, «fodemos tudo».

«Koba the Dread: Laughter and the Twenty Million»

(Continua)

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