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29/10/2015

ARTIGO DEFUNTO: Se a estupidez fosse fatal, muitos jornalistas e outros profissionais da indignação estariam mortos

Na 3.ª feira o Correio de Manhã, que está proibido de publicar factos relacionados com o querido líder, mas não está proibido de publicar peças estúpidas, publicou uma com o título «Pensão de invalidez só com morte certa» com chamada na primeira página.


A coisa era tão absurda que resolvi, por uma vez sem exemplo, comprar o jornal e ler nas páginas interiores que «os doentes têm de estar completamente dependentes ou com uma esperança de vida reduzida a 3 anos para ter acesso a uma pensão de invalidez» e muitos outros disparates absurdos. Fui ao site do Diário da República procurar o diploma em causa (Decreto-Lei n.º 246/2015 de 20 de Outubro) só para confirmar que os jornalistas do CM estavam obnubilados pela pressão do presidente dos lampiões sobre o treinador Vitória.

Não vou explicar a coisa em pormenor porque a Segurança Social já o fez num comunicado aqui citado pela TVI. Na verdade, o regime ficou mais favorável porque deixou de se aplicar apenas a uma lista fechada de doenças e o subsídio de invalidez passa a ser atribuível antes mesmo de a invalidez se tornar efectiva, desde «que clinicamente se preveja evoluir para uma situação de dependência ou morte num período de três anos». Foi aqui que o CM asneirou ao não se dar ao trabalho de ler a Lei n.º 90/2009 alterada pelo citado Decreto-Lei n.º 246/2015. Como seria de esperar, não encontrei no dia seguinte (4.ª feira) qualquer rectificação e, seguramente, nenhuma chamada de primeira página.

Registe-se que a TVI no final da peça não resiste a tentar superar o CM, informando que «a reportagem da TVI registou o descontentamento das associações do sector» - descontentamento? seria com a sua própria imbecilidade?

Como a estupidez é altamente contagiosa, sobretudo quando acompanhada de indignação, o Observador foi contaminado, com alguma surpresa para mim, e citou sem qualquer análise o CM. Segundo o CM, a Ordem dos Médicos, pela voz do seu bastonário, deu mais uma bastonada na inteligência e, «sem conhecer ao pormenor» as alterações (nem ao pormaior, acrescento eu) fez dele «todas as críticas das associações», as quais, como se calcula, propuseram-se desde logo fazer protestos na rua em Dezembro.

Assim se confirma mais uma vez que, podendo haver dúvidas sobre a infinitude do universo, não haverá nenhuma sobre a da estupidez humana.

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