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28/12/2015

CASE STUDY: O nevoeiro contabilístico e conceptual à volta do Banif (1)

Já dedicámos vários posts ao caso Banif: dúvida original, a dúvida reformulada e o presente de Natal socialista. Vou agora dedicar alguns outros ao nevoeiro que por ignorância e/ou por malícia o jornalismo de causas e os opinion dealers da nossa praça vêm introduzindo no tema.

8-planos de reestruturação-8

Esta confusão sem tem interesse nenhum é introduzida apenas para acentuar a incompetência do governo PSD-CDS e do regulador - Carlos Costa disputa com Cavaco Silva os ódios de estimação da esquerdalhada. Na verdade, trata-se de um único plano de reestruturação que foi rejeitado, bem como todas as alterações propostas, porque a Direcção-Geral da Concorrência da CE (DGC-CE) sempre entendeu (e bem) que o Banif não tinha ponta por onde se lhe pegasse e deveria ser liquidado suportando os accionistas, os obrigacionistas e os depositantes as respectivas perdas, por esta ordem, e sendo aplicável o fundo de garantia dos depósitos até 100 mil euros.

O Banif era uma espécie de BES em ponto pequeno

Era em ponto pequeno, só não era da mesma espécie. Primeiro, porque não havia indícios de fraude como no BES. Segundo porque, com a entrada de 600 milhões de capital e 125 milhões de obrigações convertíveis feitas pelo Estado, o Banif passou a cumprir os rácios como os outros bancos que receberam a mesma ajuda: Caixa, BCP e BPI.

A incompetência do governo PSD-CDS

Esta explicação para o arrastar da solução está associada à anterior. Independentemente de o governo ter tratado incompetentemente ou não este tema, tudo indica que o foi adiando até Maio de 2014 para evitar sujar a saída da troika que pretendia limpa. Depois disso, teve apenas 3 meses para respirar antes de lhe cair ao colo o escândalo do GES e a resolução do BES em Agosto. A partir daí fez o possível por esquecer o Banif e quando acordou em 2015 estava a meses das eleições e defrontava um trilema: 1) tentava vender o Novo Banco e esquecia o Banif; 2) tentava vender o Banif e esquecia o Novo Banco ou 3) liquidava o Banif como pretendia a DGC-CE, fechando umas dezenas de agência e despedindo uns milhares de funcionários.

Fez o que um governo português faria: adiou a escolha de uma solução até que a deixou por conta do governo seguinte.

O governo PSD-CDS não usou 6 dos 12 mil milhões que a CE tornou disponíveis para a ajuda à banca

Isto é um sofisma. Na altura própria o governo usou 600 + 125 milhões desse dinheiro no Banif e isso foi então suficiente.

Então, perguntar-se-á, não foi agora preciso injectar mais 2.255 milhões (1.766 do Estado e 489 do Fundo de Resolução dos Bancos) e ainda constituir 750 milhões de garantias? Foi devido às condições da resolução ditadas pela DGC-CE que obrigaram a registar imediatamente 2/3 de imparidades nos activos do Banif e não a quaisquer perdas efectivas.

As perdas no Banif são tão grandes como no BES

Até podem vir a ser – veja-se o caso do BPN que, segundo Teixeira dos Santos, era para não custar nada e o nada já vai em 7 mil milhões. Contudo, neste momento, os capitais injectados no Banif foram-nos para compensar no balanço as provisões criadas para fazer face às imparidades de 2/3 dos activos.

E os 900 milhões de depósitos levantados na semana seguinte à falsa notícia da TVI no dia 14? Os comentadores, incluindo vários «especialistas», que referiram estes levantamentos como causa de perdas deveria ser obrigados e frequentar um curso rudimentar de contabilidade para perceberem que, sendo certo que a liquidez se reduz, isso não implica perdas porque os capitais próprios não são reduzidos pelo facto de se reduzirem simultaneamente activos (Caixa e disponibilidades) e passivos (Recursos de Clientes).

(Continua)

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