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08/02/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (18)

Outras avarias da geringonça.

Esta foi uma semana dominada pelos sound bites orçamentais de que já tratámos bastamente no (Im)pertinências e, entre eles, algumas mentiras de Costa (ver por exemplo esta sobre as famílias beneficiadas pela redução da sobretaxa).

Destaque para a fumaça produzida pela geringonça para obscurecer o facto de ter considerado no rascunho de orçamento para Bruxelas que a reposição dos cortes dos funcionários públicos era uma medida one-off (ver aqui a hermenêutica das questões políticas e técnicas).

Destaque também para o «alvo em movimento» das projecções do crescimento do PIB a descerem e as do défice a comprimirem-se em resultado das pressões de Bruxelas.

Confirma-se que Centeno não passa de um verbo-de-encher, todos os dias ultrapassado por Costa, e não terá qualquer ascendente para limitar a voracidade dos ministros pendurados na toalha da mesa do orçamento. Percebe-se cada vez melhor que Costa o tenha colocado em quarto lugar na hierarquia do governo.

Também houve desenvolvimentos na área dos transportes públicos que permitem começar a calcular o custo directo da mochila que o Costa pôs às nossas costas para pagar o preço ajustado do apoio dos comunistas à geringonça. Durante a semana ficámos a saber que o grupo mexicano Avanza que ganhou a concessão da Carris e do Metro de Lisboa tem intenção de apresentar num tribunal arbitral internacional de Washington o caso e pedir uma indemnização de centenas de milhões de euros pela reversão da concessão que viola um tratado internacional de protecção de investimento mútuo entre Portugal e o México. À indemnização que vier ser paga acrescem 215 milhões de euros que seriam poupados durante os 8 anos da concessão. E acrescem ainda os danos ao que resta da reputação de Portugal como destino do investimento estrangeiro.

Quanto à TAP, foi mais uma entrada de leão com saída de cordeiro do governo preocupado sobretudo com não perder a face e manter a aparência da coisa. Aparência, porque a essência até os comunistas a perceberam ao escreverem na sua nota de imprensa que se tratou da «salvação da privatização, num negócio de contornos pouco claros, onde o atual Governo do PS assume a manutenção de 50% do capital nas mãos do Estado mas abdica da gestão». Acabou, felizmente, sem a maioria do capital e a deixar a gestão nas mãos do consórcio (ver aqui os detalhes).

Confirmando que não risca nada, Centeno anunciou que a reposição das 35 horas dos funcionários públicos não seria decidida antes de garantir que não havia impactos orçamentais e Costa, sobre pressão do PCP e BE, encarregou-se de o desmentir anunciando logo a seguir que seria a partir de 1 de Julho.

Na linha das «reposições», depois de ter reposto 4 feriados, a geringonça repôs também a tolerância de ponto no Carnaval para os seus funcionários. A este respeito, diga-se que se, em vista da ineficácia ou mesmo inutilidade de parte do aparelho de estado socialista, as «reposições» das 35 horas e dos feriados para os utentes da vaca marsupial pública (uma expressão cunhada pelo Impertinente caída injustamente no esquecimento) não terão consequências económicas significativas, o mesmo não se pode dizer do sector privado onde quatro feriados representam 1,5% das horas disponíveis para trabalhar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Felicito-vos pelo excelente post.
Bem explicado e anotado (linkado). Habituem-nos mal...

Abraço