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29/02/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (21)

Outras avarias da geringonça.

Lembram-se da anunciada «sintonia» entre Bruxelas e S. Bento? Pelos vistos, não ficou registada e em vez de «sintonia» a acta refere a rejeição por alguns comissários do borrão de orçamento, as dúvidas sobre a exequibilidade dos compromissos e a decepção por estarem a ser re-postas ou re-vertidas pelo re-governo da geringonça muitas das reformas estruturais do governo anterior.

Entretanto o governo não perde tempo e já mandou cancelar uma dúzia de concursos da CRESAP que estava a recrutar candidatos com base em perfis técnicos definidos pelas tutelas, coisa que não interessa nada à geringonça mais preocupada com os cartões de filiados. De resto, está na tradição de Costa que enquanto presidente da câmara de Lisboa nomeou 148-dirigentes-148 sem concurso.

A semana que passou foi também fértil em mal entendidos. O primeiro foi o da nacionalização do Novo Banco, uma espécie de balão que começou a ser soprado por Vítor Bento (que continua a viver numa galáxia distante do Portugal colectivista pendurado no Estado), talvez tendo em mente o caso do Lloyds Bank que também foi nacionalizado e sob a direcção do nosso patrício Horta Osório já começou a pagar dividendos o ano passado e o governo britânico prepara-se para vender as acções que detêm. Acontece, porém, que se Londres está a 3 horas de voo de Lisboa está a séculos naquilo que importa para este caso.

À boleia do delírio de Vítor Bento, João Galamba, o catedrático da Mouse School of Economics que assessora a geringonça, começou a sonhar acordado ao som dos cantares do PCP e do BE. Não fora o BCE tirar a válvula de fundo a este Titanic e estaríamos a caminho de um novo caso BPN tamanho XL.

Por falar de bancos, ficámos a saber que o governo pediu 1,8 mil milhões ao Santander para injectar 2 mil milhões no Banif antes de o vender ao mesmo Santander, tudo indica seguindo as instruções de Bruxelas. Para quem anunciava batimentos de pé a Bruxelas, não está nada mal.

E, para terminar esta edição da crónica, dois faits divers. O primeiro é meramente anedótico: umas dúzias de taxistas estacionados no aeroporto resolveram fazer uma «greve» porque um polícia multou um deles por tentar impedir um motorista da Uber de tomar um passageiro, A coisa durou 5 horas sob os olhares espantados dos turistas que devem ter pensado estar em Bujumbura no Burundi e só terminou depois de garantido que o governo receberia os taxistas. A coisa está a baixar de nível. Primeiro foi um presidente da câmara e depois uns taxistas. Um dia destes há um maluco que ameaça atirar-se de uma ponte se não for recebido pelo chefe da geringonça.

O segundo dos faits divers, não sendo anedótico, mostra bem a capacidade analítica do governo, das oposições, dos opinion dealers e da nata do pensamento nacional. O governo pretende alargar a ADSE aos cônjuges dos funcionários públicos, aos filhos até aos 30 anos, aos empregados de empresas públicas, etc., entrando assim no mercado de seguros de saúde pela porta do cavalo. Prontamente, surgiram posições, opiniões, exigências e petições, para alargar o etc. mediante o pagamento de 3,5% sobre os salários.

Pergunto-me: será que perceberam que se um cônjuge, um filho até aos 30 anos, um empregado de empresa pública ou um etc. tiver um salário de setecentos euros  pagará menos de 350 euros por ano por um seguro de saúde sem franquias, sem limite, sem exclusões, que não existe e se existisse custaria muitas vezes mais, e, portanto, irá a correr aderir à ADSE? E que, em contrapartida, se o cônjuge, o filho, o etc. tiver um salário de 5 mil euros pagará 2.450 euros (mais do que pagaria por um bom seguro de saúde) e, portanto, não irá a correr aderir à ADSE e fará um seguro de saúde ou continuará a usar o SNS. E que, portanto, a ADSE ficará com um elevado risco de forçar os aderentes a pagar os efeitos do que se chama adverse selection e um dia destes estará a aumentar os 3,5% de desconto em benefício de quem? Ora, em benefício principalmente «dos privados» que ganharão uns inesperados clientes. É mais uma vez a law of unintended consequences a estragar os melhores planos socialistas,

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