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21/02/2016

Pro memoria (297) - Danos colaterais da falência do GES (4)

Continuação de (1), (2) e (3)

«Maio de 2014: torna-se público, por pressão da CMVM, que as contas do G ES (as tais que estavam na ficha técnica do papel comercial) estavam falseadas. Mais tarde, o Expresso revela cartas trocadas com a administração do BES que comprovam que o Banco de Portugal sabia que as contas eram suspeitas desde pelo menos novembro de 2013, o que seria confirmado pela KPMG em janeiro de 2014.

Como é que o Banco de Portugal deixou que se vendesse a investidores papel comercial do GES entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014 se sabia que as contas do GES eram falsas? (…)

Simulemos o exercício alternativo: se não tivesse deixado o GES vender papel comercial, haveria lesados na mesma mas seriam outros, os investidores do fundo ES Liquidez. Só que o Grupo Espírito Santo teria colapsado imediatamente em setembro de 2013, não apenas em maio de 2014. (…)

Não encontro até hoje explicação para este adiamento deliberado promovido ou permitido pelo Banco de Portugal que não seja ter querido que a quebra do BES fosse depois da "saída limpa" da troika, em abril de 2014.»

Esta foi a explicação de Pedro Santos Guerreiro no Expresso para alguns factos conhecidos. PSG também especula sobre a possibilidade de ter sido evitada a falência do BES se (um enorme se) a garantia do Estado angolano de Angola não tivesse sido anulada, como foi. Acompanho-o na explicação de que, muito provavelmente, o propósito da «saída limpa» comandou o governo de Passos Coelho e, por consequência, a condução do caso por Carlos Costa. Não o acompanho na especulação.

Se admitirmos que o propósito da «saída limpa» condicionou o caso BES, também teremos de admitir como igualmente provável que o mesmo propósito comandou o caso Banif que se arrastou por ainda mais tempo.

Se admitirmos que o calendário destes dois casos foi condicionado pela «saída limpa» e que Carlos Costa foi um protagonista indispensável no desfecho dos dois, então teremos de admitir como provável que sua recondução em Julho de 2015 foi uma consequência da necessidade de garantir que não haveria surpresas antes das eleições em Outubro. Se foi assim, percebe-se a motivação: se ficássemos na situação de resgate, o governo de Passos Coelho não poderia «aliviar a austeridade» para tentar ganhar as eleições. O que se passou a partir da «saída limpa» em Maio de 2014 parece confirmar esta explicação.

Se tiver sido assim, o que podemos concluir? Que Charles Erwin Wilson não tinha razão e o que é bom para o governo não é necessariamente bom para o País e vice-versa.

Pelas mesmas razões, não devemos concluir que a campanha de António Costa acolitado pelo BE para empalar Carlos Costa tem como motivação repor a independência do BdeP. Independência é coisa que António Costa já demonstrou não apreciar, pelo que é melhor procurar outras explicações. Por exemplo, ter no lugar de Carlos Costa um sucedâneo de Vítor Constâncio, comprar mais uns votos dos «lesados do BES» e dar mais um osso para o BE e o PCP se entreterem compensado «as imposições de Bruxelas», tudo à custa dos «lesados do Estado».

1 comentário:

Dudu disse...

Pedro Santos Guerreiro sempre apreciou a fantasia.