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27/03/2016

Pro memoria (301) - Tiveram um apagão de memória (2)

Além das três luminárias já aqui citadas que sofreram um apagão de memória, podemos acrescentar uma quarta. O ex-ministro das Finanças Eduardo Catroga que alinha com Costa e Marcelo na intervenção na banca e em declarações ao Expresso defende uma «magistratura de influência no sentido de procurar uma diversificação de dependências».

Catroga refere o seu próprio exemplo quando em 1994 apresentou um ultimato ao Banesto que controlava 50% do Totta para vender essa participação a António Champalimaud. A partir daí, a memória de Catroga apagou-se, esquecendo-se que 5 anos depois Champalimaud vendeu o Totta ao Santander.

Com o nome Santander Totta e presidido por António Horta Osório, a quem as luminárias bancárias portuguesas apelidavam en privé de «traidor» e «amigo dos espanhóis», as mesmas luminárias que haveriam de levar os seus bancos à quase falência uns anos mais tarde, o banco tornou-se o mais rentável e solvente em Portugal.

Devemos adicionar às memórias apagadas de todos os que pretendem salvar a banca com mais intervenções do governo, desde há 40 anos intervencionada pelos governos, um simples facto: o dinheiro dos impostos dos portugueses que já foi enterrado na Caixa em sucessivos aumentos de capital, sempre insuficientes, superou largamente o dinheiro dos mesmos sujeitos passivos enterrado no BES e no Banif somados.

Falando de apagões, não devemos esquecer que não há jornalista de causas económicas que se preze que não expresse a sua indignação pelas dezenas de milhares de milhões de euros entornados na banca e não acabe a perguntar, com teorias da conspiração implícitas, insultando a inteligência dos leitores que ainda resistem à alienação: para onde foi esse dinheiro?

Prestando-me, uma vez mais, a fazer um serviço público vou recordar: essa montanha de dinheiro foi despejada em crédito, hoje malparado, aprovado pelos bancos por razões políticas, ou por compadrio ou por tráfico de influências, a milhares de empresas e projectos inviáveis. Essa montanha de dinheiro, assim torrada, ao ficar indisponível para empresas e projectos viáveis, provocou um duplo dano.

Como é que isto não é entendido é para mim um mistério. José António Lima no jornal SOL lamenta que o Santander Totta entre 2008 e 2014 não tenha feito o mesmo que a Caixa e o BES/Novo Banco que «assumindo os riscos de incumprimento de algumas dessas empresas» aumentaram perto de dez vezes em sete anos o crédito malparado «mas o Santander em Portugal ficou praticamente incólume». Se tivesse feito o mesmo, o Santander Totta seria mais um banco a torrar dinheiro dos sujeitos passivos que, em vez de ser usado para criar riqueza, teria sido gasto a financiar buracos.

É esse estado de coisas que Costa, acolitado pelos lentes da Mouse School of Economics, o presidente Marcelo e Catroga querem preservar?

1 comentário:

Anónimo disse...

«É esse estado de coisas que Costa, acolitado pelos lentes da Mouse School of Economics, o presidente Marcelo e Catroga querem preservar?»

Claro que é...

Boa semana de Páscoa.