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08/03/2016

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (39) Unintended consequences (XI) – O adiamento da limpeza dos balanços dos bancos

Uma das consequências indesejadas das taxas de juro próximas de zero praticadas pelos bancos centrais (Fed, BoE, ECB, BoJ e ainda os bancos centrais da Suécia, Dinamarca e Suíça) tem sido o agravamento das fragilidades dos bancos reduzindo-lhe as margens e dificultando o assumir das perdas do crédito malparado que vão enfiando para debaixo do tapete. Daqui decorre, pelo menos no caso britânico, segundo o assessment do FMI, que os bancos continuam a emprestar dinheiro a empresas inviáveis para evitarem registar imparidades, não desviando o crédito dessas empresas para empresas viáveis mais eficientes e afectando assim o potencial de melhoria da produtividade e, consequentemente, o aumento dos salários. (Fonte: The Economist Espresso)

E decorre também a nível da Zona Euro que o crédito malparado é em termos relativos o dobro do registado nos Estados Unidos. Segundo o Financial Times, é 3% nos Estados Unidos e 6% na Zona Euro, onde o total do malparado atinge 7,3% do PIB da União Europeia, o equivalente ao PIB da Espanha.

Como as taxas de juro já são actualmente negativas na Zona Euro, Dinamarca, Suécia, Suíça e Japão resultam daqui duas sérias complicações. Citando Stephen Roach da Yale num artigo recente no MarketWatch:

«The first is that central banks have ignored the risks of financial instability. Drawing false comfort from low inflation, overly accommodative monetary policies have led to massive bubbles in asset and credit markets, resulting in major distortions in real economies. When the bubbles burst and pushed unbalanced economies into balance-sheet recessions, inflation-targeting central banks were already low on ammunition — taking them quickly into the murky realm of zero policy rates and the liquidity injections of quantitative easing.

Second, politicians, drawing false comfort from frothy asset markets, were less inclined to opt for fiscal stimulus — effectively closing off the only realistic escape route from a liquidity trap. Lacking fiscal stimulus, central bankers keep upping the ante by injecting more liquidity into bubble-prone financial markets — failing to recognize that they are doing nothing more than “pushing on a string” as they did in the 1930s.

The shift to negative interest rates is all the more problematic. Given persistent sluggish aggregate demand worldwide, a new set of risks is introduced by penalizing banks for not making new loans. This is the functional equivalent of promoting another surge of “zombie lending” — the uneconomic loans made to insolvent Japanese borrowers in the 1990s.»

Após anos de administração desta medicina pelos bancos centrais, parecem estar agora a ser mais evidentes os efeitos nocivos deste paradigma. Como exemplo, quatro títulos recentes do Negócios:

Se lessem o (Im)pertinências já podiam ter chegado a essa conclusão há mais tempo... ah! ah! ah!.

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