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15/03/2016

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (40) O clube dos incréus reforçou-se (VII)

Outras marteladas.


Agora que a bazuca de Draghi fez pff outra vez, e o BCE iniciou mais uma ronda de alívio quantitativo e de juros negativos, reganha actualidade o artigo «O dilema de Minsky da Zona Euro» de Daniel Gros, director do Centro de Estudos Políticos Europeus, de onde respigo algumas passagens:

«Mas, em vez de repensar a sua estratégia, o BCE está a considerar redobrá-la: comprar ainda mais títulos de dívida e reduzir os juros para terreno negativo. Isso seria um erro grave.

Condições de crédito facilitadas e taxas de juro mais baixas supostamente impulsionam o crescimento, estimulando o investimento e o consumo. Mas no núcleo da Zona Euro - países como a Alemanha e os Países Baixos – o crédito tem sido abundante, e as taxas de juro têm estado próximas de zero durante algum tempo, por isso nunca houve muitas hipóteses de as compras de títulos terem um impacto significativo nesses países. E, de facto, as previsões económicas mais recentes da Comissão Europeia mostram que os gastos nesses países não aumentaram como resultado das políticas do BCE; na verdade, o excedente externo da Alemanha está a crescer.

É claro que, nos países periféricos altamente endividados, havia espaço para as taxas de juro caírem e para a oferta de crédito crescer - e isso aconteceu, levando os governos e as famílias a aumentarem os seus gastos. Embora o impacto assimétrico da política do BCE seja adequado, em princípio (porque o desemprego é muito mais elevado na periferia), a realidade é que uma recuperação suportada pelas economias menos solventes não é sustentável.

Em 1986, Hyman Minsky lançou um alerta sobre os perigos de longo prazo para a estabilidade financeira se os devedores "Ponzi" - aqueles que apenas conseguem cumprir o serviço da sua dívida com nova dívida – se tornassem o principal pilar da economia. Um ambiente de juros zero é, naturalmente, ideal para esses devedores, porque não há nada que forneça uma indicação de solvência; os devedores podem simplesmente rolar a sua dívida. Mas é mau para aqueles que têm uma forte posição das disponibilidades; reduzindo o seu poder de compra, estimula-os a poupar ainda mais.

A resposta padrão para a preocupação de Minsky – que os que costumam gastar não o possam fazer, e que os que costumam poupar não gastem – é que a política monetária deve focar-se em garantir a estabilidade dos preços, enquanto a política macroprudencial tem como objectivo salvaguardar a estabilidade financeira, limitando o crédito para agentes altamente endividados. Mas esta abordagem não funciona. Se a política macroprudencial limitasse o crédito adicional aos devedores marginais, de forma eficiente, a política monetária não teria impacto na procura (enquanto os agentes mais solventes se recusarem a gastar mais).»

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