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03/06/2016

CASE STUDY: Um imenso Portugal (32)

[Outros imensos Portugais]

Escrevi aqui que o Brasil com Temer pior não fica. Exactamente duas semanas depois, tenho agora as maiores dúvidas. Confirmaram-se os piores receios que, só por si, inspirava a presença de 7 ministros investigados no Lava Jato, receio confirmado pela queda de dois ministros e ainda a procissão vai no adro.

No meio de toda a desbunda em que se encontra o Brasil, até no melhor pano cai a pior nódoa. Desbunda? Não será excessivo? Parece que não, quando o ministro da Transparência é «gravado a dar conselhos sobre como escapar às investigações da justiça»

Sabe-se agora a razão porque mudou de campo Aécio Neves, o candidato presidencial do PSDB, o partido de Fernando Henrique Cardoso e o melhor pano que se pode encontrar no Brasil, que teria preferido que à destituição de Dilma se seguissem eleições, a solução que também me parecia melhor.

A explicação está na escuta da conversa de Romero Jucá do PMDB (o mesmo Jucá que já tinha sido escutado a defender um pacto para «estancar a sangria» do Lava Jato e por isso teve de se demitir de ministro do Planeamento) com Sérgio Machado, o tal com um acordo de delação, em que o primeiro diz ao segundo:
«Eu disse a Aécio, se tiver outra eleição, nem Serra nem nenhum político tradicional ganha essa eleição. ( ... ) Na hora dos debates vão perguntar: 'Você vai fazer reforma da previdência?' O que tu vai responder? Que vou! Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas?».
E o pior é que Jucá tem toda a razão. No Brasil - e em Portugal - não se ganham eleições a anunciar as medidas que as circunstâncias exigem. Aqui está o nó da questão. É uma fatalidade os políticos não conseguirem dizer a verdade aos eleitores? Não necessariamente. Leiam-se aqui excertos da entrevista à McKinsey Quarterly de Göran Persson, ministro das Finanças a partir de 1994 e primeiro-ministro do partido Social-Democrata sueco a partir de 1996, e da sua resposta à crise que então a Suécia atravessava. Destaco a seguinte passagem:
«My party was elected in 1994 because we promised to carry out the harshest program with the deepest budget cuts and the sharpest tax increases.»

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