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11/09/2016

CASE STUDY: Câmara de Lisboa – a obra feita pelo sucessor de Costa (2)

Rui Paulo Figueiredo, o deputado pelo PS que escreveu há tempos no Negócios um artigo vibrantemente apologético sobre a gestão da câmara de Lisboa, pouco mais de um mês depois reincidiu na graxa a Fernando Medina. No lugar do sucessor, botava-lhe um “+” na caderneta e metia uma cunha ao sucedido Costa para numa próxima vaga de secretário de estado reservar um lugar para o puxa-saco.

Como expliquei, Figueiredo não percebeu, ou fingiu não perceber, que a «saúde financeira que Lisboa respira» resulta de uma respiração assistida:
  • Em primeiro lugar, por 286 milhões pagos pelo governo PSD-CDS pela compra há mais de 70 anos dos terrenos do aeroporto, 20 anos antes de Costa ter nascido, e pela «compra» dos terrenos da Expo, uns 20 anos antes de Costa ter aterrado na câmara.
  • Em segundo lugar, pela venda de 500 milhões do património municipal;
  • Em terceiro lugar, pela extorsão de taxas e taxinhas aos lisboetas e empresas com sede em Lisboa que por habitante é mais de 80% superior à do Porto.
Ou talvez Figueiredo tenha percebido depois que, apesar da respiração assistida, se avaliada pela dívida por habitante que é de 1.338 € (2,7 vezes a do Porto), Lisboa respira mais doença do que saúde financeira, e por isso fez a agulha para outro domínio e cita agora o índice de satisfação dos lisboetas de 89%, segundo o Urban Europe. Como bom socialista, habituado a aldrabar estatísticas, esquece quatro coisas que modificam definitivamente a apreciação que nos quer vender:
  • Primeira, Lisboa tem o 22.º índice de satisfação em 28 capitais europeias;
  • Segunda, algumas capitais europeias como Helsínquia, Estocolmo e Londres, têm índices de satisfação mais baixos do que Lisboa, apesar de reconhecidamente terem uma qualidade urbana muito superior, o que significa que a expectativa dos lisboetas é tão baixa que ficam felizes com pouca coisa;
  • Terceira, o índice de satisfação dos lisboetas desceu de 91% em 2012 para 89% em 2015;
  • Quarta, como quer que seja, o índice não diz respeito apenas à cidade de Lisboa, mas à Grande Lisboa que incluiu 9 concelhos e câmaras com mais de 2,2 milhões de habitantes da qual Lisboa representa menos de ¼.

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