Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

08/11/2016

Dúvidas (173) – Irá o Brexit consumar-se? (IV)

Outras dúvidas sobre a consumação do Brexit.


O Supremo Tribunal da Grã-Bretanha decidiu a semana passada que competia ao Parlamento invocar o artigo 50.º do Tratado para a Grã-Bretanha sair da EU, contrariando o governo que defende ter a autoridade exclusiva sobre essa matéria e que, por isso, vai apelar para a revisão da decisão. Ainda que o Supremo Tribunal mantenha a decisão, dificilmente o Parlamento votará contra o Brexit, apesar de a maioria dos deputados não ser a favor da saída. É o custo de uma cultura democrática.

Entretanto, velhas teorias económicas estão a ser invocadas para justificar a permanência. Uma delas é o «modelo de gravidade» de Jan Tinbergen, um Nobel holandês, que explica a geografia do comércio internacional com base em duas dimensões PIB e distância: (1) quanto maior o PIB dos países numa relação comercial bilateral, maior é o fluxo de trocas entre ambos; (2) quanto mais distantes se encontram dois países, menor é o volume de comércio entre eles.

Desse modelo, cujas capacidades explicativas foram recentemente confirmadas por vários estudos, incluindo a sua aplicabilidade aos serviços, decorre obviamente que para a GB é mais fácil desenvolver as trocas com a UE, ali mesmo ao lado, do que com os EU com um oceano pelo meio, apesar de as dimensões das economias serem próximas.

Decorre igualmente do modelo de gravidade que o argumento dos Brexiters de que países populosos da Commonwealth, como a Índia, ou fora dela, como a China, poderão facilmente substituir a UE, fica enfraquecido pelo facto de ainda durante muitos anos o PIB per capita da UE será superior a qualquer desses países.

(Ver uma fundamentação mais desenvolvida aqui.)

Na verdade, nenhum destes argumentos racionais parece capaz de contrariar uma decisão baseada na irracionalidade do medo e do preconceito - os eleitores britânicos, ou a maioria deles, estão a fazer de Luddites substituindo os teares, como ameaça aos seus empregos, pelos imigrantes.

Sem comentários: