Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/03/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «Why did you leave us this way?»

Foi com o título em epígrafe que João Marques de Almeida escreveu este artigo do Observador, onde nos lembra que o excepcionalismo britânico faz mais falta à Europa do que a Europa faz aos britânicos, por muito que o colectivismo, o furor regulamentário e uniformizador e o pendor estatista predominante numa boa parte do continente europeu pensem o contrário e pretendam agora castigar o Reino Unido pela sua decisão e por muito que, como escreve Rui Ramos, «a classe política europeia (mostre) perante o Reino Unido uma coragem que muitas vezes lhe faltou perante a Rússia de Putin ou a Turquia de Erdogan

Chávez & Chávez, Sucessores (55) – Esfumaram-se os últimos vestígios de democracia

Outras obras do chávismo.

O Supremo Tribunal de Justiça venezuelano, um órgão do poder chávista controlado pelos seus fiéis, assumiu os poderes legislativos que retirou à Assembleia Nacional onde a oposição tem a maioria. Como escreve o NYT, «os últimos vestígios da democracia venezuelana foram derrubados».


Era mais o que os unia do que aquilo que os separava?
Não será melhor, mas ao menos é mais claro: um regime autocrático puro e duro, sem disfarces. Vamos ouvir o que têm para nos dizer os admiradores domésticos da socialismo chávista, depois do silêncio sobre a nacionalização das padarias de portugueses.

Pro memoria (341) - Ele deixou de acreditar nisso

Em entrevista ao Dinheiro Vivo/DN/TSF, uma criatura disse, a propósito da venda do Novo Banco:
« o banco vai ter de melhorar a sua eficiência, reduzir custos - fala-se em fechar balcões e reduzir pessoal -, e eu não acredito que se o banco ficasse na posse do Estado pudesse levar a cabo o plano de reestruturação e de ganho de eficiência que será necessário. Veja-se o que se está a passar com a CGD. Na Caixa, que, segundo foi anunciado, precisará de reduzir também pessoal e fechar balcões, há logo um processo político em torno deste tema. E veja-se a pressão que é feita para que a CGD de facto não melhore a eficiência da sua operação. Imagino também que o mesmo se passaria no Novo Banco (...) a ideia de que nacionalizando o banco permitiria preparar melhor o banco para o vender melhor mais tarde, eu não acredito nisso (...) Vamos todos pagar isto. ».
Pode ser difícil de acreditar, mas quem disse isso foi Teixeira dos Santos, o ministro socialista das Finanças ou, talvez melhor, o ministro das Finanças Socialistas de Sócrates, que nacionalizou o BPN e a quem dediquei uma longa série de posts com o título «a nacionalização do BPN não custou nada e o nada vai já em...»

Mais um que viu a luz e teve uma epifania?

30/03/2017

ESTADO DE SÍTIO: Habituem-se (7)

Outros Habituem-se

Por muito que aqui no (Im)pertinências se prognostique o fim da geringonça (leia-se a série Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça que já vai em 76 episódios) e, para sermos sinceros, se deseje, para bem do país, isso não significa que ela faleça espontaneamente numa bela manhã de nevoeiro.

O último Habituem-se de há quase três meses, foi a propósito do artigo do FT «Costa confounds critics as Portuguese economy holds course» que foi devidamente exaltado pela máquina agiprop da geringonça que controla quase todas as redacções. Este Habituem-se é a propósito de um outro artigo da imprensa inglesa, desta vez a Economist «Portugal cuts its fiscal deficit while raising pensions and wages» que tem como subtítulo «The Socialists say their Keynesian policies are working; others fret about Portugal’s debts». Preparai-vos para nos próximos dias a máquina de propaganda deturpar o artigo e alardear as grandes realizações da geringonça, alegadamente segundo uma revista de referência.

Não deixando de apontar os pés de barro da governação socialista, é certo que a Economist faz uma apreciação líquida positiva. E seria difícil não o fazer porque, na aparência, visto de St James's Street ou de Southwark Bridge, a 3 horas de voo de S. Bento, numa Europa em turbulenta decadência, os problemas portugueses face aos gregos, por exemplo, parecem insignificantes - e são-no para britânicos enrascados com o Brexit, holandeses a recuperar do susto, franceses que se sentem ameaçados por Le Pen, italianos sob influência do palhaço Grillo, alemães inquietos com o problema dos refugiados e todos a verem as rachas do edifício da construção europeia em risco de colapsar.

Para observadores informados e atentos à realidade portuguesa subterrânea, as canalizações e a infraestrutura da economia dão outros sinais. E não é só a dívida pública e privada e a dependência cada vez maior do BCE, é a enorme bomba do crédito malparado e sobretudo uma economia descapitalizada convivendo com produtividades baixíssimas que só poderiam aumentar com um investimento maciço que não existe, nem existem meios financeiros para o fazer, porque não existe poupança das famílias, nem investimento estrangeiro produtivo.

Entretanto, isso não significa que a geringonça não possa continuar a flutuar iludindo a realidade, sobretudo se ajudada por um clima económico internacional favorável, pelo aumento do turismo e, claro, por uma realidade paralela construída pelos mídia arregimentados por uma geringonça que atrela a esmagadora maioria dos jornalistas. Como também pode afundar-se rapidamente, por ocorrências aparentemente menores, como um outlook negativo (pouco provável) da DBRS, a única agência que mantém a notação acima do lixo.

29/03/2017

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (74)


As uniões de facto, que quase duplicaram em 10 anos, representavam no censo de 2011 aproximadamente 1 em cada 8 relações conjugais e nas regiões de Lisboa e Algarve 1 em cada 5, e estima-se que representem actualmente quase metade das novas relações conjugais. Quanto às gravidezes, cada vez mais raras com a taxa de fertilidade mais baixa da EU28, as que escapam à pílula do dia seguinte e ao aborto (ou, se preferirem, interrupção voluntária da gravidez, em politicamente correctês), são evidentemente conhecidas da mãe, como sempre foram, acompanhadas com ecografias e, nos tempos actuais, geralmente também conhecidas do pai que, em caso de dúvida, pode fazer o teste de paternidade ADN, hoje uma trivialidade, até nas farmácias.

É neste contexto que o socialismo serôdio do PS descobriu uma nova causa fracturante - desta vez fracturante apenas para a terceira idade - e  apresentou um projecto de lei no parlamento para reduzir o chamado prazo de interdição do casamento de 180 para homens e 300 dias para mulheres (ou, se preferirem em politicamente correctês, para pessoas do género masculino e do género feminino, respectivamente) para um prazo único de 30 dias. O prazo de 300 dias para as mulheres foi introduzido em 1966 no Código Civil então aprovado, pela dificuldade à época de saber quem era o pai da criança.

Chegado a este ponto, pergunto-me porque razão, no contexto das práticas sociais actuais, as almas socialistas, e já agora as berloquistas, querem reduzir o prazo de interdição do casamento concedendo um certificado de menoridade mental aos cada vez menos nubentes, em vez de simplesmente o eliminarem? Isso sim, seria fracturante, mas teria o inconveniente para os amantes do Estado omnipresente de tirar o Estado de cima das relações conjugais.

28/03/2017

CASE STUDY: DGSS, uma aplicação prática da lei de Parkinson

Este é mais um post dedicado às aplicações práticas da lei de Parkinson nos órgãos da vaca marsupial pública.

Comecemos por recordar a lei de Parkinson que em rigor são duas leis: a lei da Multiplicação dos Subordinados e a lei da Multiplicação do Trabalho.

Continuemos com as premissas, confirmadas por anos de observação, que na administração pública portuguesa são aplicáveis variantes das leis de Parkinson: a lei da Multiplicação das Chefias, em vez da lei da Multiplicação dos Subordinados, e a lei da Multiplicação das Folgas, no lugar da lei da Multiplicação do Trabalho.

A esta luz, estamos agora em condições de compreender o caso da Direcção-Geral de Segurança Social (DGSS) tal como nos é descrito pelo DN, o diário da manhã do regime, a partir de uma auditoria da IGF aos recursos humanos da DGSS.

Citando o DN, podemos identificar a ocorrência das referidas leis na DGSS:
  • Lei da Multiplicação das Chefias - «em setembro de 2015, o rácio era de um chefe para 4,5 funcionários, quando em 2009 a média era de 6,5 por dirigente (...) existirem duas coordenadoras técnicas a chefiarem um e três trabalhadores, respectivamente»; 
  • Lei da Multiplicação das Folgas «esta situação traduz-se no benefício adicional de mais 12 dias anuais de não trabalho (que acrescem aos dias de férias)

ACREDITE SE QUISER: Aleluia! O Senhor seja louvado! Eles tiveram uma epifania e viram a Luz?


Ainda estou aturdido. Na visita ao Insurgente este vosso escriba deparou-se com a reprodução de um surpreendente, inacreditável e esotérico post de Porfírio Simões de Carvalho e Silva, Doutor em Epistemologia E Filosofia Das Ciências e emérito ideólogo do Costismo, louvando a contenção orçamental, reprovando os défices e demonizando a dívida, numa palavra, exaltando a austeridade.


Podemos, com boa vontade, reconhecer alguma razão ao Doutor Centeno quando contestou a classificação de Teodora Cardoso, presidente do CFP, do défice de 2,1% como milagre. Milagre, verdadeiro milagre, é o que escreveu o Doutor em Epistemologia E Filosofia Das Ciências. O défice de 2,1% (ou 2,06%, se quisermos ser rigorosos) é apenas prodigioso.

27/03/2017

ACREDITE SE QUISER: A geringonça nossa amiga...

... vai generosamente permitir que os contribuintes a autorizem a debitar directamente os impostos nas suas contas bancárias. Resmas e remas de contribuintes mal podem esperar pelo Simplex + até ao fim do ano para correr para os seus bancos dando autorizações de débito directo e cantando em coro: debitem-nos! obrigado geringonça!

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (76)

Outras avarias da geringonça.

A valorização do euro face ao dólar é mais um indicador de que os mercados estão a antecipar o fim da era dos juros negativos do BCE, de que depende a sobrevivência da geringonça para aguentar uma dívida pantagruélica a crescer e com um mercado secundário cada vez menos profundo porque um dos efeitos da compra de dívida pelo BCE é de o secar e torná-lo menos líquido - mais um factor a puxar pelos yields.

A isso devemos juntar o aviso do BCE no seu boletim de Março de que poderá ser iniciado o procedimento de desequilíbrio macroeconómico excessivo em relação à Itália, a Chipre e a Portugal se não apresentarem políticas correctivas até Abril. Para se ter uma ideia do que implicaria este procedimento leia-se esta síntese. O quadro começa a ficar escuro, por muito que o presidente Marcelo invoque o ministro-anexo que agora reside em Frankfurt.

26/03/2017

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (LXIII)

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

A saga grega continua, o que, para começar, me leva a evocar o nosso Costa que há dois anos nos exortava com um inspirador «vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha».

Dois anos e mais um resgate depois (o terceiro desde 2010 totalizando 240 mil milhões de euros), o governo Syriza-Anel continua a tentar fintar a troika, que agora se chama as «instituições», quando está perigosamente próxima a maturidade de 7 mil milhões da dívida detida pelo BCE,

Enquanto isso, metade dos trabalhadores gregos estão isentos de impostos sobre o rendimento, o défice da segurança social é superior a 10% do PIB (quatro vezes mais do que a média na Zona Euro) e as dívidas fiscais representam 70% do PIB. Talvez também o Syriza tenha encontrado consolação vilipendiando Dijsselbloem por ter tido (não disse) que eles gastaram o dinheiro com briol e mulheres (não gastaram, gastaram com os jogos olímpicos e com reformas aos 53 anos em profissões «árduas e insalubres» como cabeleireiras e massagistas),

Lost in translation (287) - A democracia e o défice

Diz-se que Costa se exprime em português - no dialecto politiquês, o que pode fazer toda a diferença. Daí que, quando ele vai além da troika e se pavoneia que alcançou o défice mais baixo da democracia, ao mesmo tempo que tenta controlar ou condicionar instituições independentes como o Banco de Portugal ou o Conselho das Finanças Públicas, devemos talvez traduzir que sob a sua batuta (e do presidente dos Afectos) a democracia está a caminho de atingir o seu maior défice.

25/03/2017

Pro memoria (340) - Os inimigos da liberdade (III)


Voltando à anulação da conferência de Jaime Nogueira Pinto na Universidade Nova, Francisco Caramelo, o director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, resolveu insultar a inteligência das pessoas a quem enviou uma mensagem electrónica referindo que «a decisão de adiar a conferência foi um acto pensado e debatido colectivamente com a direcção da faculdade (para garantir) a liberdade de expressão, resgatando-a de uma envolvência de perigo e da probabilidade de violência", sustentou, acrescentando que "hoje tomaria, em consciência, a mesma decisão».

Recordo este episódio a propósito de um outro ocorrido recentemente no Middlebury College, Vermont em que uma horda de energúmenos politicamente correctos avacalhou uma conferência de Charles Murray, a pretexto de o acharem preconceituoso por ter escrito um livro sobre a relação entre raça e inteligência. Depois de Murray ter sido entrevistado por uma professora os protestos escalaram, os energúmenos puxaram os cabelos da professora e vandalizaram o seu carro.

Murray, o conferencista, comparou mais tarde os energúmenos a «camisas castanhas» e a Economist, que relatou o incidente, recomendou aos energúmenos que se interrogassem como foi possível um sujeito a quem chamaram racista ganhar o direito a compará-los a fascistas. O artigo termina com um conselho lapidar:
«Os estudantes em todo o mundo deveriam interrogar-se porquê a liberdade de expressão, um valor central do liberalismo, está a tornar-se uma bandeira dos conservadores.»

Mitos (248) - Marine Le Pen, a candidata da direita reaccionária e chauvinista…

… e também a candidata favorita dos jovens em geral e dos jovens de origem portuguesa em particular: 31% dos primeiros votantes e desses 46% dos luso-descendentes, como agora se diz, preferiam-na. (lido aqui)

24/03/2017

Exemplos do costume (50) - O culpado é o homem branco


Os angolanos não são responsáveis pela chuva, nem pelo estado deplorável das infraestruturas, nem, evidentemente, por sacudirem a água do capote ao culpar os portugueses. Eles aprenderam com os portugueses a responsabilizar os outros pelos seus problemas. A diferença é apenas um pouco mais de imaginação dos antigos colonizadores que, ao contrário dos colonizados que só apontam o dedo aos colonizadores, estes apontam o dedo, conforme as circunstâncias, à monarquia, à república, ao Salazar, ao fascismo, às agências de rating, ao capitalismo neoliberal, à economia de casino, aos americanos, aos alemães, a Merkel, a Schäuble, a Trump, a Jeroen Dijsselbloem, etc.

SERVIÇO PÚBLICO: Não há ciência de borla. Alguém paga por ela

Já em tempos aqui escrevi sobre a contradição entre o ódio de estimação que radicais do género chic dedicavam e ainda dedicam a Bill Gates e a idolatria que esses e outros parolos dedicaram a Steve Jobs, um sacana terminal, «ruthless, deceitful, and cruel» como o descreveu Alex Gibney, um bastard que enganou da forma mais mesquinha o seu amigo e sócio Steve Wozniak, tratou de forma miserável a sua namorada e mãe do seu filho, a quem começou por negar a paternidade, e imensa outra gente com quem se cruzou, incluindo muitos dos que trabalhavam para ele.

Como então escrevi, Bill Gates está longe de ser um santo mas face a Jobs mereceria ser beatificado. A Fundação Gates, a quem doou uma parcela importante da sua fortuna e a quem dedica a maior parte do seu tempo, está aí para o mostrar com os seus $4 mil milhões anuais para financiar investigação relevante, nomeadamente para a saúde pública.

Uma das últimas iniciativas da Fundação Gates foi suportar o custo de publicação dos papers com os resultados das investigações que patrocina em repositórios acessíveis a toda a gente, como o o Wellcome Trust, passando ao lado dos jornais científicos que cobram assinaturas caríssimas e que levam meses ou anos para publicar os trabalhos que lhes são submetidos.

CASE STUDY: Trumpologia (15) - O eleitorado de meia-idade de Donald está a morrer (mais depressa)

Mais trumpologia.


Porque está a mortalidade dos brancos americanos no escalão etário 45-54 a aumentar quando diminui por todo o lado? E não, não se trata de redução do nível de vida, porque negros (ou afro-americanos como diz a tropa do PC) e latinos da mesma faixa etária não registaram aumento da mortalidade. Há várias causas próximas: drogas, álcool e suicídio. E a causa remota?

Talvez ajude acrescentar que estamos a falar dos deplorables, como lhes chamou Hillary Clinton, o núcleo central do eleitorado de Trump, que, mantendo-se a tendência de aumento da mortalidade, minguará e reduzirá as suas chances de ser reeleito.

23/03/2017

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (34)

Outras preces.

O BCE admitiu no seu boletim económico de Março que em Maio poderá ser iniciado o procedimento de desequilíbrio excessivo em relação à Itália, a Chipre e a Portugal se não apresentarem políticas correctivas até Abril.

Podemos não estar de acordo com o BCE, mas o certo é que os três países assumiram compromissos de adoptar reformas e estão a fugir com o rabo à seringa. Se as não queriam adoptar não se deveriam ter comprometido o que teria implicado não ter acesso ao programa de compra de dívida pública.

Como deveria reagir um presidente da República de um desses três países a este aviso do BCE? Como nenhum deles tem poderes executivos, a atitude mais recomendável seria ficar calado. Evidentemente isso é muito difícil para pelo menos um deles. Não conseguindo calar-se, estaria no limite do admissível lamentar a posição do BCE ou contar uma estória qualquer sobre as agências de rating ou a economia de casino ou o neoliberalismo.

Não foi essa a escolha do presidente Marcelo que reagiu perguntando «o que é que Vítor Constâncio está lá a fazer?». Colocou-se assim ao nível do presidente da junta de freguesia de Belém, por exemplo um socialista, a quem a câmara de Lisboa por exemplo não aumentou o orçamento, perguntando por exemplo o que é que o Fernando Medina está lá a fazer?

Imaginemos Sergio Mattarella, o presidente italiano, também sem poderes executivos, a perguntar o que é que Mario Draghi está lá a fazer? Seria ridículo, não é verdade? Certamente, mas apesar de tudo menos ridículo porque o Mario "dele" foi capaz de garantir que «the ECB is ready to do whatever it takes to preserve the euro» enquanto o "nosso" Vítor continua a ser o mesmo verbo de encher que foi à frente do BdP.

Se o ridículo fosse mortal, não teríamos este presidente da República e, se tivéssemos, já teria tido havido novas eleições poucos dias depois da tomada de posse. A sorte dele (e o nosso azar) é que ninguém o ouve para lá de Badajoz.

22/03/2017

Bons exemplos (118) - Em defesa do Jero

Nós, o povo, estamos a ser vítimas de novo de um tsunami de indignações a pretexto do ministro holandês das Finanças e presidente do Eurogrupo ter insinuado que nos países do Sul da Europa se gasta o dinheiro em álcool e mulheres, o que, como sabemos, infelizmente não é verdade. Antes de condenarmos a criatura leia-se o que ele disse na entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, segundo o Observador:
«O pacto na zona euro baseia-se na confiança. Com a crise do euro, os países do norte na zona euro mostraram a sua solidariedade para com os países em crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige, também tem obrigações. Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda. Este princípio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e, inclusivamente, europeu.»
Em primeiro lugar, Jeroen Dijsselbloem fez uma espécie de declaração de princípio acerca das suas próprias despesas o que é de louvar, sobretudo sendo nacional de um país onde copos e mulheres se encontram frequentemente juntos.


Em segundo lugar, pergunto, como podem indignar-se com tal coisa os nacionais de um país que para caracterizar um tipo folgazão muito comum entre nós lhe associam a expressão «putas e vinho verde»? Não podem. Suspeito, aliás, que a maioria da população não se sentiu ofendida pelo Jero e até subscreveria o que disse, pelo menos a nível pessoal, local, nacional - já quanto ao nível europeu a coisa fia mais fino, porque sacar dinheiro à Óropa desde há 31 anos é uma actividade meritória. Direi mesmo mais, suspeito que além dos políticos idiotas que julgam ser sua obrigação indignar-se a este propósito, só mariconços e mulheres frígidas (*) reagiram mal ao desabafo do Jero - uns e outras por despeito, claro.

(*) Em aditamento, permitam-me citar Pedro Arroja que explicou muito bem porque se indignaram certas mulheres: «If not for other reason, possibly because they cannot find a man who would spend money on them».

ACREDITE SE QUISER: No país dos sovietes

«O governo quer que o Banco de Portugal, gerido por Carlos Costa, aumente os guardas da GNR que desde 1995 fazem a segurança do complexo do Carregado, que alberga as reservas de ouro do país.

Em resposta a um requerimento do PCP, a ministra da Administração Interna (MAI), Constança Urbano de Sousa, garante que vai pedir ao comando-geral da GNR que "reavalie o protocolo" com o Banco de Portugal, que data dos anos 90 do século passado, "designadamente no que concerne aos montantes que estão a ser pagos pela prestação de serviço ao Banco de Portugal"».(Expresso)

21/03/2017

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (33)

Outras preces.

«Mais do que isso [um banco público manter o serviço público], é uma ligação que tradicionalmente existe entre a Caixa Geral de Depósitos e os portugueses, sobretudo uma camada menos jovem que está há muito tempo relacionada com a Caixa e que quer continuar relacionada com a Caixa», disse, a propósito da redução da rede de agências, o presidente Marcelo dos Afectos, numa exposição qualquer, ou numa vernissage, ou enquanto sorvia uma vichyssoise, ou tirava uns selfies com os alunos da escola primária n.º 98, ou dava uma entrevista simultânea a 43 jornalistas, sabe-se lá.

E qual é a ligação que tradicionalmente existe entre a Caixa Geral de Depósitos e os portugueses? Elementar, meu caro Watson. Há uns portugueses que tradicionalmente lá enterram o dinheiro dos seus impostos e há outros que tradicionalmente de lá extraem o dinheiro dos que lá o enterraram. Sobretudo uma camada menos jovem que está há muito tempo enterrá-lo.

E como sabe o presidente Marcelo estas coisas todas da banca? Elementar, meu caro Watson. Porque tem estado tradicionalmente ligado à banca.

Pro memoria (339) - Sintonizados a trabalhar para o próxima recapitalização

O mausoléu onde se enterra dinheiro dos contribuintes
«Presidente da República e governo continuam sintonizados quando o tema é Caixa. Agora sobre a presença de balcões em todos os concelhos»

Estava escrito nas estrelas. Quem foi que disse que a Caixa iria ser gerida como um banco privado? É só o princípio de uma nova saga igual às anteriores que terminará como as anteriores com o enterro de mais dinheiro no mausoléu da Avenida João XXI.

Vamos ver se Paulo Macedo tem cojones para resistir à interferência dos afectos, das manobras, dos populismos, dos interesses instalados e dos amigos do regime. É muito para um homem só, resta-lhe demitir-se.

ESTADO DE SÍTIO: In statu quo res erant ante bellum

«O meu colega Mário Centeno anda triste e queixa-se de os mercados e as agências de rating não estarem a refletir, nem nas notações de rating nem nas taxas de juro de longo prazo, o sucesso da nossa economia. Qual Calimero a lacrimejar "É uma injustiça, pois é... ", Centeno e Costa herdaram uma dívida que a 10 anos custava 2,305% ao ano e está agora a 4,297%. Na data da posse, a diferença entre Portugal e Alemanha para as taxas de juro a 10 anos era de 1,845%, hoje é de 3,849%.

Estarão os mercados e os analistas errados?

Quanto ao passado recente, a atividade económica medida através do PIB cresceu menos em 2016 (1,4%) do que em 2015 (1,6%). O consumo interno, apesar de um esforço grande do Governo para o promover, cresceu menos em 2016 (2,3%) do que em 2015 (2,6%). O consumo público não se conseguiu descer, pois manteve-se a crescer a 0,8% em 2016, igual ao que cresceu em 2015. O investimento caiu em 2016 {-0,3%), quando em 2015 tinha subido (4,5%). Isto é, a procura interna cresceu menos em 2016 (1,5%) do que em 2015 (2,5%). As exportações cresceram menos em 2016 (4.4%) do que em 2015 (6,1%). O histórico défice orçamental foi obtido à custa de um aumento dos impostos ordinários e extraordinários e do adiamento de muita despesa pública que em 2015 se reclamava prioritária mas que agora parece que já não é. O aumento da dívida pública (aproximadamente €7 mil milhões em 2016) foi superior ao défice orçamental do ano (€4,2 mil milhões), mostrando que além do adiamento de despesa ainda houve muita que não passou pelo Orçamento.

Eu sei que o desemprego desceu e em muitos casos, quando se analisam os dados trimestrais, há sinais de algumas variáveis a apresentarem algum dinamismo, pois se assim não fosse os valores ainda seriam piores.

E quanto ao futuro? Os consumidores, anestesiados nesta primavera de ilusões, ignoram os torniquetes que aí vêm: os salários a sofrerem pressão para manter as empresas concorrenciais, a inflação a caminhar para os desejados 2%, a Euribor a tender a acompanhá-la na subida, e um Estado a ter de continuar a aumentar impostos para servir uma dívida que é cada vez mais e mais cara. Eu nem quero imaginar as queixas de quem tem créditos à habitação ...

A dívida não para de subir e de ser agravada com os aumentos de capital da CGD, garantias de Estado pelos lesados daqui e dacolá. O maná que foi o Plano Draghi cessará. Somem ao cocktail uma população a envelhecer com uma população ativa a desaparecer, por idade, no espaço de uma década, e verão o risco da dívida a 10 anos a disparar... É por isto, caro Mário, que Portugal tem um futuro carregado, mais carregado do que vai ser o ano de 2021, em que necessitaremos de uns €135 mil milhões para financiar o Estado! Cuidem-se!»

«É uma injustiça, pois é…», João Duque no Expresso

CASE STUDY: Scotexit - a independência tem um preço

Este post poderia ser uma espécie de continuação de «A Escócia à luz da tudologia» (1) e (2).

Com fundamento no facto de o Brexit ter alterado significativamente os pressupostos do referendo de 2014, a primeira-ministra e líder do SNP Nicola Sturgeon anunciou que pretende referendar de novo a independência da Escócia, depois de o primeiro referendo a ter rejeitado.

Não se sabe muito bem se o SNP e Nicola Sturgeon pretendem mesmo a independência ou apenas querem animar a sua base eleitoral e marcar uma posição negocial mais forte face ao governo de Theresa May. De facto, com os preços do petróleo ao nível de 40% dos preços considerados no orçamento escocês US$113), nível a que metade da produção é economicamente inviável, os ímpetos independentistas deparam com a séria consequência indesejada de não poder contar com o fluxo de dinheiro do orçamento inglês que sustenta o «Estado Social» escocês que custa mais £ 1.300 por pessoa e ano do que a média no Reino Unido.

Um referendo à independência da Escócia, que aliás tem de te ser previamente aprovado por Westminster, ou da independência da Madeira ou dos Açores ou de qualquer outra região subsidiada por um governo central com o dinheiro dos contribuintes de outras regiões é uma espécie de bomba atómica que perde o seu poder dissuasor uma vez usada.

20/03/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (75)

Outras avarias da geringonça.

Finalmente, um dos componentes da geringonça disse com clareza que o governo está a fazer o contrário do que tinha dito que faria. Jerónimo de Sousa criticou asperamente «a política de obsessão pelo défice (...) como se fosse esse o grande problema nacional e para colocar na sombra os problemas centrais do país». Alguém deveria explicar ao camarada que, se não fosse assim, secariam os dinheiros de Frankfurt, feneceria a geringonça e os comunistas ficariam sem abono de família.

Segundo a chamada lei dos compromissos a execução orçamental das entidades públicas não pode conduzir à acumulação de pagamentos em atraso. Segundo a Direção Geral do Orçamento, no final de 2016 havia 90 entidades que não respeitaram a lei - não contando com o governo central, pois claro.

Dúvidas (192) - Dará conta do recado? Pelos vistos não (2)

Diferentemente do que previra Ricardo Costa, não foi preciso que o Presidente americano começasse a tweetar contra a ONU, até porque Trump esteve ocupado com outros tweets, para Guterres se ver em sarilhos. Bastou que a diplomata jordana Rima Khalaf, secretária executiva da Comissão Económica e Social para a Ásia e o Pacífico, publicasse um relatório descrevendo o tratamento de Israel aos palestinos como apartheid. A Comissão dedicada à Ásia e ao Pacífico região onde, como todos sabemos, se situa a Palestina, tem sede em Beirute e inclui, apropriadamente, 18 países árabes entre os quais não há notícia de algum que disponha de um regime democrático.

Perante a reacção americana, Guterres pediu a Rima Khalaf para retirar o relatório alegadamente porque o secretariado da ONU não foi consultado previamente à publicação. Khalaf vitimizou-se pela alegada censura e demitiu-se em protesto. Sem surpresa, a embaixadora americana Nikki R. Haley elogiou Guterres pela sua «decision to distance his good office from it» e o embaixador palestino manifestou a sua admiração pela «principled position in defending principles» da Sr. Khalaf (Fonte: NYT).

Business as usual numa organização onde a maioria dos países membros dispõem de sistemas autocráticos com práticas políticas e sociais que não envergonhariam o apartheid.

19/03/2017

Títulos inspirados (68) - A cabeça do presidente é um livro aberto para o semanário de referência

Com uma cajadada acabo com uma Coelho e um Coelho (*)
Sob o título «Marcelo teme que Lisboa destrua direita para 2019», ilustrado por uma foto do presidente dos Afectos artilhado com um zingarelho (para ele perfeitamente supérfluo) de realidade virtual, o Expresso publicou ontem um longo artigo onde explica detalhadamente o que se passa «na cabeça do presidente da República (para quem) a legislatura sempre esteve dividida em duas metades. Uma até às autárquicas e outra das autárquicas até às legislativas». É um pensamento digno do seu antecessor em Belém almirante Américo Tomaz que um dia disse «é a primeira vez que cá estou desde a última vez que cá estive».

Abençoada Pátria que dispões de um presidente comme ci e de um semanário de referência comme ça.

(*) Inspirado numa boutade editorial do director do semanário de referência.

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.

Chuck Berry



«If you tried to give rock and roll another name, you might call it ‘Chuck Berry’´» 
John Lennon

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia

«Everyone is entitled to his own opinion, but not to his own facts

Daniel Patrick Moynihan, senador democrata por NY durante 3 mandatos

18/03/2017

Figuras do regime - o comentador de "direita"

«O comentador de “direita” alinha sempre com as “causas” do momento. Dos movimentos “gay” ao apoio a refugiados que linchariam “gays” mal pudessem, da liberalização das drogas “leves” à proibição dos refrigerantes, do aborto à eutanásia, o comentador de “direita” não perde tempo a ponderar a complexidade dos assuntos e assume imediata e histericamente a posição que lhe parece mais “progressista” e lhe assegura a bancada dos “progressistas” em futuros “Prós e Contras”, a consagração televisiva da ortodoxia. Passar por retrógrado assusta-o mais do que acordar em cuecas no Rossio.»

«O comentador de “direita”: uma profissão de futuro», Alberto Gonçalves no Observador

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (9) - Entradas de leão podem dar saídas de sendeiro com o chapéu na mão

Outras botas para descalçar.

Um dia destes, Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças, conhecido por não usar rodriguinhos e figuras de estilo, aconselhou o governo a certificar-se de que «não precisam de resgate». Um sábio conselho dirigido ao governo de um país que nos últimos 40 anos já teve três e que qualquer observador atento percebe poder estar a caminho do quarto.

Costa poderia ter agradecido o conselho. É claro que isso comprometeria a farronca com que se apresenta no teatro doméstico com claque garantida, pelo que poderia aceitar-se o seu silêncio.

Em vez disso, Costa respondeu como se estivesse num comício, enaltecendo os resultados da sua recente obsessão pelo défice, e rematou «Estes são os números. E contra factos não há argumentos».

Fonte: IGCP
Por sorte, Schäuble nunca virá a saber o que Costa diz aos jornalistas nas inaugurações e por isso não lhe irá atirar à cara a farronca quando ele se dirigir de chapéu na mão a Bruxelas, a Frankfurt ou Berlim a pedir o donativo.

17/03/2017

Dúvidas (191) - Como chegou ele onde chegou?

«Chegados aqui, a pergunta que ninguém quer fazer tem de ser feita: ninguém sabia? Há suspeitas que recaem sobre Sócrates desde os tempos da Covilhã e ninguém soube de nada? O Partido Socialista nunca ouviu falar? Aqueles que hoje em dia acham que Carlos Costa foi vesgo e cobarde por não ter corrido mais cedo com Ricardo Salgado não foram vesgos e cobardes no que diz respeito a José Sócrates? Uma acusação sólida não deve servir apenas para arrumar com Sócrates de vez. Ela também deverá obrigar o PS, que hoje anda por aí tão impoluto e tão impante, a assumir responsabilidades políticas e a responder pela sua cumplicidade com o maior desastre da democracia portuguesa. Os elefantes não voam. Foi preciso alguém abrir-lhe a porta da sala e convidá-lo a entrar.»

«Sócrates e a pergunta que ninguém quer fazer», João Miguel Tavares no Público

Se ninguém quer fazer esta pergunta, em contrapartida há resmas de criaturas que fazem a pergunta porquê ainda não o acusaram?, pergunta seguida de declaração indignada pelo funcionamento da justiça.

Curtas e grossas (46) - “Estavam todos feitos”

«De uma forma ou outra, estavam todos feitos» disse Paulo Azevedo, o filho do pai Belmiro Azevedo, referindo-se à OPA da Sonae sobre a PT de há 10 anos sabotada pelos «todos» que eram os Sócrates, os Espírito Santo, os peões ao seu serviço como os Varas, os Santos Ferreira, os Bava, os Granadeiro e toda a legião de apparatchiks, jornalistas de causas e opinion dealers que permitiu aos Espírito Santo e seus aliados vender a Vivo, e desnatar a PT. No final sobrou o cadáver vendido à Altice e uma participação no minotauro no labirinto da Oi intermediada por um pêtismo corrupto encabeçado por Lula.

16/03/2017

Pro memoria (338) - Eles pensam que nós somos completamente estúpidos (e têm geralmente razão)

«Se me tivesse dado uma palavrinha que fosse que eu deveria sair, pode crer que eu o fazia na hora» disse Ricardo Salgado à SIC ao perguntarem-lhe se Carlos Costa lhe deveria ter retirado a idoneidade mais cedo, confirmando assim o seu desapego ao poder de que todos já suspeitávamos há muito.

«Nós não anunciámos o fim da austeridade, (…) anunciámos um período novo de esperança» disse ao parlamento o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, desmentindo de uma assentada toda a propaganda do seu chefe Costa desde que em Novembro de 2014 expulsou o usurpador Seguro e assumiu as rédeas do PS.

Vieira da Silva, Ministro da Segurança Social e tutela da associação mutualista Montepio «confrontado com (...) uma situação líquida negativa de 107 milhões de euros, afirmou desconhecer os números» dando assim um exemplo de proactividade a Carlos Costa que no BdP tem andado a dormir na forma. (Observador)

Centeno, o ministro das Finanças, mostrando um enorme sentido de responsabilidade e de respeito pela esfera privada, opôs-se à revelação dos créditos malparados da Caixa (La Seda, Pescanova, Vale do Lobo, etc. - um grande ETC. onde se sumiram milhares de milhões) porque, explica na contestação à decisão do Tribunal da Relação de Lisboa que essa revelação «pode assumir consequências sistémicas de dimensão difícil de determinar (e implicaria ainda) uma quebra de confiança irreversível num negócio que assenta nesse pressuposto». Bendita Pátria que tens filhos destes que percebem que o segredo é a alma do negócio e velam pelas nossas instituições.

Entretanto, o presidente da República dos Afectos, tirando partido da sua enorme experiência económica, colocou o chapéu de investidor emérito e desdobrou-se ontem em declarações e produção de factóides confidenciando que «teve dificuldades em convencer empresários a investir em Portugal». Isso foi ao princípio, porque agora os investidores nacionais e estrangeiros acotovelam-se na bicha para investir, o investimento bate todos os recordes e, sobretudo o externo, «mudou muito apreciavelmente». Mostrou assim que os investidores não são muito diferentes do bom povo português que com uma dúzia de selfies por dia e duas dúzias de comentários vêem renas, o Pai Natal e acreditam que vivem na Noruega. Que nenhuma criatura do governo neoliberal anterior se tenha lembrado disto só mostra que não mereciam tirar o lugar da geringonça.

Curtas e grossas (45) - A liberdade tem um preço que nem todos estão preparados para pagar

«Nada tenho a ver com os meus leitores, não lhes devo coisa nenhuma, tão-pouco me interessa o seu favor ou desfavor, ou que eles suponham poder-me associar com Wilders, a islamofobia, a extrema-direita, o partido dos animais ou os vegetarianos. Não pertenço, não me associo, não tiro proveito. Sou livre e ajo com liberdade, nenhum interesse material, político, económico, social ou outro tem poder para coartar a minha liberdade.

Claro que sofro as consequências e sei o preço dessa liberdade. O não ter cantado loas ao 25 de Abril, paguei-o com quarenta anos de desdém e ostracismo. De nada contou ser na Holanda um escritor bestseller, um jornalista respeitado, um docente universitário de boa fama, um sujeito estimado. Em vez de dizer que nem as moscas nem o excremento tinham mudado, teria sido proveitoso entrar no coro e gritar que, finalmente, o sol brilhava para todos, até para os deserdados.»

Rentes de Carvalho, em entrevista ao Observador

15/03/2017

ARTIGO DEFUNTO: No perder é que está o ganho

«Extrema direita de Wilders perde as eleições na Holanda, segundo as projeções»

Foi este o título escolhido pelo Observador para nos informar que o PVV, o partido de Wilders, foi o segundo mais votado ganhando quatro deputados, o PvDA dos socialistas perdeu 16 deputados e o VVD, o partido mais votado perdeu 10 deputados.

Um título expectável no Público, no Diário de Notícias ou no Expresso, os quais, desta vez, optaram por títulos menos manipulativos.

Actualização:
Algumas horas depois o título foi modificado para «Mark Rutte: “Depois do Brexit e das eleições dos EUA, o povo da Holanda disse não ao populismo” - como aconteceu».

SERVIÇO PÚBLICO: «O socratismo como doença terminal do socialismo»

O polvo socialista
Uma radiografia absolutamente imperdível de José Manuel Fernandes no Observador. Infelizmente não é uma autópsia, porque o socratismo anda por aí e o socialismo bafiento e mafioso continua de boa saúde.

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Os caminhos para a servidão e para a pobreza são paralelos

Fonte

Fonte

O que terá acontecido às Coreias do Norte e do Sul desde 1945, às Alemanhas de Leste e Oeste entre 1945 e 1989 e à China e a Taiwan desde 1949? Os primeiros viveram e vivem (salvo a Alemanha de Leste), sob regimes despóticos governados por partidos comunistas.

E a China que está a sair da miséria e continua sob um regime despótico? Graças ao camarada presidente Deng Xiaoping e ao seu «um país, dois sistemas» que tem tido sucesso até um dia implodir o país ou um dos sistemas.

ACREDITE SE QUISER: Rácio de verborreia

Orçamento de Estado português 2017 
  • Despesa total 57 mil milhões de euros
  • Número total de páginas 270 (Lei 233 + Normas de Execução 37)
Orçamento do Reino Unido 2017 
  • Despesa total 784 mil milhões de libras (900 mil milhões de euros)
  • Número total de páginas 68
Número de páginas por cada milhão de euros
  • Portugal 4,7 / Reino Unido 0,076
  • Rácio de verborreia 1 para 62
Outros exemplos: 
  • «É expressamente proibida a entrada de pessoas estranhas ao serviço» / «Staff only» 
    • (55 letras contra 9; rácio de verborreia 1 para 6,1)
  • «Tenha atenção ao espaço entre a carruagem e o cais» / «Mind the gap»
    • (47 letras contra 10; rácio de verborreia 1 para 4,7)

14/03/2017

DIÁRIO DE BORDO: Como o justicialismo degenera (outra vez) em oportunismo e falta de princípios (VIII)

Recapitulando:

Íñigo Errejón, «um dos fundadores e ideólogos do Podemos e o estratega da campanha que levou Pablo Iglésias e mais quatro ao Parlamento Europeu» e actual secretário político «é suspeito de irregularidades num contrato de investigação que lhe dava 1825 euros brutos mensais» (DN).

Tania Sánchez, noiva de Pablo Iglésias, uma espécie de líder do Podemos, ganhou 50 mil euros especulando com um apartamento atribuído a preço subsidiado por uma cooperativa quando assessora da Esquerda Unida na câmara de Rivas (Libertad Digital, via Insurgente).

Como se fosse pouco, Raúl Sánchez Herranz, o irmão de Tania Sánchez e cunhado de Pablo Iglésias, foi acusado de ter beneficiado de uma «escandalosa adjudicação de um contrato de 137.000 euros pela câmara de Rivas (Libertad Digital, via Insurgente).

O Podemos, um movimento criado em Espanha como alternativa aos partidos incumbentes corroídos pela corrupção, nasceu do Centro de Estudos Políticos e Sociais uma organização financiada pela clique chávista em mais de 7 milhões de euros entre 2003 e 2011 «para criar forças políticas bolivarianas em Espanha».

E assim chegamos à actualidade:
«Insultos por teléfono y una legión de ‘trolls’ en la red»
«Podemos “amedrenta y amenaza” a periodistas críticos, según la APM»
Isso foi em Espanha, onde parece ainda existirem jornalistas com cojones. Conseguem imaginar um comunicado do equivalente doméstico da Asociación de la Prensa de Madrid a exigir fosse o que fosse ao equivalente doméstico do Podemos?
«Considerados los testimonios y las pruebas documentales aportados por estos periodistas, la APM exige a Podemos que deje de una vez por todas la campaña sistematizada de acoso personal y en redes que viene llevando a cabo contra profesionales de distintos medios, a los que amedrenta y amenaza cuando está en desacuerdo con sus informaciones.»

Não? Eu também não.

Dúvidas (190) - Devemos concordar com Centeno?

«Centeno para agências de rating: "O Portugal de hoje é diferente do Portugal de 2012"»

Em 2012, devido à falência no ano anterior do Estado Sucial administrado por um PS conduzido por José Sócrates, Portugal estava então no segundo ano de um resgate, sob a tutela da troika, tendo como gerência o governo PSD-CDS. Dia sim, dia não, havia maninfestações de indignados excitados pela forças que hoje apoiam a geringonça, os mídia infestados pelo jornalismo de causas mostravam um país na miséria a morrer de fome, vítima de um neoliberalismo obcecado com o défice.

Em 2017, Portugal está no segundo ano de gerência da geringonça, um zingarelho tripeça improvisado para salvar a cabeça de Costa, provavelmente a caminho de um outro resgate. As manifestações sumiram-se, os mídia continuam infestados pelo jornalismo de causas mas mostram um país próspero, pleno de afectos, a fruir o fim da austeridade, com a carga fiscal a aumentar, a crescer menos, com as contas externas a deteriorarem-se, a dívida pública a crescer e, pasme-se, com governo obcecado com o défice.

Por isso, a resposta é sim: com excepção da obsessão pelo défice, o Portugal de hoje é diferente do Portugal de 2012.

Mutatis mutandis, o Portugal de hoje é mais parecido com o Portugal de 2009 ou 2010. Em vez das auto-estradas de José Sócrates temos a clientela eleitoral da geringonça e temos a obsessão pelo défice de que Sócrates não padecia, ceteris paribus.

13/03/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (74)

Outras avarias da geringonça.

Assistiu-se nos últimos dias ao «assalto ao castelo» do BdP e ao cerco do Conselho de Finanças Públicas (CFP) concertados no parlamento e nos mídia amigos (quase todos, diga-se). Porquê? Porque, pela sua independência, têm desempenhado o papel de borbulha no traseiro da geringonça dificultando-lhe o sentar.

No caso do CFP, até o presidente dos Afectos fez uma perninha com as suas tretas sobre milagres, tretas que nunca sabemos se são ignorância, ligeireza, falta de escrúpulos ou uma mistura de tudo isso. Já que escrevo «milagre», recomendo o artigo muito esclarecedor de Miranda Sarmento «O “milagre” nas contas públicas».

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: A geringonça como frente popular apoiada na ligeireza de Marcelo

«Esta aliança de “frente popular” não se interessa por salvar ninguém da miséria ou por uma economia paralisada e pobre. Logo do princípio o seu grande objectivo foi ocupar e dominar o Estado, de maneira a nunca ser removida do poder. Uma política que Marcelo, na sua natural ligeireza e esquecido como sempre de que é Presidente, aprecia e jura que está de “pedra e cal” ou mesmo de “cimento armado” para eterna felicidade dos portugueses.

Desde que emergiu das combinações torpes de 2015 o governo só pensa, de facto, em alargar o Estado, revertendo as privatizações de Passos (a TAP e os transportes urbanos, por exemplo), aumentando o funcionalismo público e, agora, restaurando a sua progressão nas carreiras (na prática sempre corporativa, paroquial e automática).

Claro que qualquer instituição independente é para este benemérito regime uma provocação, seja o Conselho de Finanças ou a rede ferroviária. Segundo Jorge Coelho, “quem se mete com o PS leva”. Carlos Costa, Teodora Cardoso e outros réus de autonomia e liberdade própria vão agora levar com um “organismo de cúpula” que os meta na ordem e force a não destoar da mascarada estabelecida. Se a Geringonça durar acabaremos na “democracia diferente”, em que um cidadão ande bem vigiado e em que o governo controle a economia, como a que o dr. Cunhal nos preparava e, no “11 de Março”, esteve quase a impor.»

Uma democracia “diferente”?, Vasco Pulido Valente no Observador

12/03/2017

Dúvidas (189) - Estamos a falar de quê? Porquê? e outras not Frequently Asked Questions (continuação)

Uma continuação daqui.

Mais Factos: «Núncio ajudou a criar 120 “offshores” na Zona Franca da Madeira» e «foi advogado de petrolífera venezuelana que fez transferências para offshore»

Not Frequently Asked Questions:

1. a 10.
- ver post anterior

11. Está Núncio envolvido num conflito de interesses?
Sem dúvida, apesar de não ser nada original porque, como escreveu o outro contribuinte, «para o português comum conflito de interesses será uma figura de retórica sem aplicação prática numa lusofonia onde só há conflito de interesses num caso de polícia».
O problema não está evidentemente no que ele fez na Zona Franca da Madeira. Já não se poderá dizer o mesmo quando representou a Petróleos da Venezuela, uma peça importante regime chávista, que chegou a ter papel comercial de empresas do GES, uma operação que muito provavelmente foi agenciada por Sócrates, o amigo de Chávez. Algumas das transferências para offshores parecem estar estão relacionadas com estas operações.

13. Porquê?
Porque não sendo Núncio socialista, comunista ou bloquista são-lhe aplicáveis as regras de conflito de interesses.

12. Estas relações promíscuas são graves?
Sem dúvida.

13. Porquê?
Porque Núncio não é socialista, comunista ou bloquista o que coloca as exigências éticas muito acima do que ele mostrou conseguir cumprir.

Pro memoria (337) - Os inimigos da liberdade (II)

Fernando Câncio, a alegada jornalista e alegada namorada de José Sócrates, o alegado corrompido e alegado corruptor em vários casos que têm afligido o regime, apresentou em tribunal uma providência cautelar pedindo a apreensão de todos os exemplares e a proibição da venda do livro de José António Saraiva, onde este relatava em dois parágrafos episódios que lhe foram contados sobre os alegados gostos sexuais exibicionistas da alegada jornalista.

Sabiamente, o juiz da primeira instância, certamente pensando que o mau gosto do autor não é crime, deliberou que a «análise objectiva do trecho do livro em causa não autoriza este tribunal a restringir a liberdade de expressão do seu autor e, consequentemente, a decretar a proibição da venda do referido livro».

«A Família» de Almada na Ática
Não satisfeita, a alegada jornalista recorreu para o tribunal da Relação que considerou aqueles dois parágrafos «uma evidente invasão da zona da vida privada da requerente, e nesta, parcialmente, na sua esfera íntima», o que, sendo verdade, omite o facto de a requerente ter alegada e descuidadamente espalhado a sua alegada esfera íntima tão descuidadamente que o autor, que alegadamente não frequentava a requerente, veio a ter dela (esfera íntima) conhecimento.

Com alguma dificuldade, conseguiria acompanhar os juízes da Relação se o autor fosse acusado de um qualquer das várias dezenas de crimes que sucessivas ejaculações do órgão legislativo foram injectando no Código Penal e condenado a pagar à requerente uma qualquer indemnização por ter penetrado a sua esfera íntima.

Não foi o caso. Os juízes da Relação decidiram proibir o livro, mandá-lo recolher e obrigar o autor a suprimir os tais dois parágrafos em próximas edições, O que é que isto me fez lembrar? A mim, que sou do tempo em que tinha de ir a correr à minha livraria habitual (a Ática, ali na Alexandre Herculano) pedir ao Sr. Sequeira que me vendesse um dos exemplares do livro que tinha de reserva na gaveta para os amigos poupado à acção da Censura salazarista.

11/03/2017

Pro memoria (336) - Os inimigos da liberdade


«A conclusão é óbvia e inquietante: o Dr. Álvaro Cunhal foi melhor tratado pela Universidade de Lisboa, em pleno Estado Novo, do que, em democracia, o Dr. Jaime Nogueira Pinto, pela Universidade Nova. Talvez não tenha sido por acaso que a Associação 25 de Abril interveio, em defesa da liberdade de pensamento e expressão, tão ameaçada por grupos de extrema-esquerda que não escondem a sua mentalidade e práticas totalitárias.»

P. Gonçalo Portocarrero de Almada no Observador

O inquietante não é haver 24 esquerdistas infantis dispostos a exigir a censura das ideias que detestam - é possível encontrar muitas outras duas dúzias de patetas a exigir qualquer outra coisa. O inquietante é haver órgãos académicos que se acobardam prestando-se a ceder a essas exigências.

E, por falar no falecido Álvaro Cunhal, é bom não esquecer que, se fosse vivo, certamente apoiaria com gosto esta e outras censuras de vozes «reaccionárias».

Aditamento:
Acabei de lei no Expresso o texto que serviria de base à conferência de Jaime Nogueira Pinto. Pode-se concordar ou discordar, mas tem de valorizar-se como uma peça inteligente e informada, inspirada num pensamento lúcido e independente a anos-luz do alcance de cérebros de adolescentes retardados atafulhados de preconceitos e ideias mal feitas.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (32)

Outras preces.

O Senhor não está a ouvir as nossas preces


Estudo de opinião da Eurosondagem para o Expresso

Portanto, das duas, três:
  • ou bem a Eurosondagem ajeita as sondagens, 
  • ou bem Marcelo preenche um qualquer défice nas amígdalas cerebelosas da populaça;
  • ou bem, nós, os que não temos um défice de afecto, temos de engolir o sapo transmutado em princesa do povo.
Ou quatro, quando a populaça cair outra vez no mundo real, constatar que os "afectos", os selfies e a verborreia não só não pagam dívidas como até as aumentam, os afectos podem virar ódios.

10/03/2017

ESTADO DE SÍTIO: A costela jacobina do PS e o «assalto ao castelo»

Com o beneplácito de Belém, o PS cerca os últimos vestígios de independência e procura minar o Conselho de Finanças Públicas. Comunistas e berloquistas vão mais longe e propõem a sua exterminação.

Como o BdP não se pode exterminar, nem a geringonça quer correr o risco de demitir Carlos Costa invocando falha grave e entrando em rota de colisão com o BCE, tenta-se, com o ruidoso apoio da tropa de choque comunista e berloquista, obrigar a criatura a demitir-se acusando-o de inacção no caso do BES (leia-se a propósito este artigo de João Vieira Pereira), recusando as suas propostas de nomeação para a administração e, cereja em cima do bolo, nomeando para o Conselho Consultivo do BdP Francisco Louçã, o tele-evangelista do trotskismo, inimigo da Europa e do euro, acompanhado por Murteira Nabo e Luis Nazaré, duas luminárias da nomenclatura socialista.

Enquanto isso, a imprensa amiga faz rufar os tambores. «Carlos Costa tem de se demitir» titula, por exemplo, Daniel de Oliveira, jornalista de causas/militante/comentador/analista, ex-comunista, ex-Plataforma de Esquerda, ex-Política XXI, ex-bloquista, ex-Livre, ex-Tempo de Avançar, cobrindo assim todo o leque da geringonça.

E, para o caso do homem não se demitir, colocam-se de reserva falhas graves. Só o pastorinho da economia dos amanhãs que cantam Nicolau Santos coleccionou sete. Sim, é o mesmo pastorinho que enfiou o barrete do vigarista Baptista da Silva, e que, como aqui escrevi há nove anos, fez o frete de limpeza dos detritos do Millenium bcp dos ombros do ministro anexo Constâncio, escrevendo no Expresso um artigo laudatório com o assombroso título «Greenspan defende Vítor Constâncio».

Ao mesmo tempo, Carlos César, presidente dos socialistas, com o descaramento habitual, considera que as «falhas do BdP “foram em segunda instância falhas da governação” de Passos», sem tirar as consequências do que diz que seria considerar os governos de Guterres e Sócrates responsáveis pelas falhas de governação do ministro anexo Vítor Constâncio, uma personalidade, agora estacionada em Frankfurt, que entre 1986 e 1989 saltitou entre a liderança do PS e a governação do BdP, voltando a esta em 2000 durante dez anos consecutivos.

09/03/2017

Lost in translation (286) - Trocou "tricas" por "pingue-pongue" e traduziu "punch-bag" por "boxe"

Qual Egas Moniz a ir à corte de Leão, ponho a corda ao pescoço para vir junto de vós reconhecer que estava errado o meu prognóstico sobre a performance seguinte de Costa, ao perceber que o governo estaria a dar tiros nos pés se continuasse com o caso offshores.

Não. Não é verdade que Costa queira encerrar com um deixem-se de tricas o assunto dos 10 mil milhões do "nosso dinheiro" (assim o dizem o Sr. Jerónimo e a D. Catarina, acompanhados por um coro de patetas) transferidos para offshores "ilegalmente" (idem e assim o dizia o Sr. Costa).


Desta vez, depois de enfiar algumas balas nos pés, Costa fez um flic-flac, trocou as tricas pelo pingue-pongue. Disse «não quero continuar a alimentar este pingue-pongue com o PSD», e acrescentou, na esteira do presidente Marcelo dos Afectos, não pretender criar um «clima artificial de confrontação», logo agora que a oposição, farta de ser malhada, para usar a expressão de Santos Silva - o homem que confessou gostar de malhar na direita -, começava a fazer o gosto ao punho.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (148) - Lá estamos outra vez a entrar em "tricas"

Diário de Notícias

«Num documento enviado pelo governo ao Parlamento com as datas das vinte declarações com transferências para offshores que ficaram fora do radar da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) revela que a maioria delas deveria ter sido escrutinada já com o atual governo em funções (tomou posse em 26 de novembro de 2015).»

Se há domínios onde PS tem talentos notáveis um deles, o mais óbvio, é a manipulação da informação e o controlo dos jornalistas de causas que enxameiam as redacções. A evidente sincronia orquestral do caso offshores foi de grande mestria e apagou os SMS de Domingues que cairam irremediavelmente no caixote do lixo da luta partidária, com PSD e CDS a mostraram pouca competência, mesmo descontado o episódio suicidário do antigo SEAF Paulo Núncio.

Não se tratou apenas de levantar mais um caso. Não, não foi "um" caso. Foi "o" caso dos "ricos" que fogem com o "nosso dinheiro" para os offshores, tema tratado com o enorme descaramento habitual por Costa e mais inaudita ignorância à mistura com demagogia por Jerónimo e Catarina, todos devidamente acolitados por pelotões de repetidores. Como seria de esperar, o tema assim tratado bloqueou a módica inteligência de um grande número de tolos que fazem a opinião pública e colocou-os a espumar de raiva espicaçada pela inveja.

É claro que, com a maioria das declarações que deveria ter sido escrutinada já com o atual governo em funções, chegámos agora a um ponto em que o PS percebe que começa a atirar nos próprio pés. Pode-se esperar, por isso, o desacelerar da máquina agitprop da geringonça. Levará algum tempo até os peões mais zelosos perceberem e entraremos de seguida na fase Mutual Assured Distraction (MAD) onde todos se aquietarão, permanecendo só o ruído de comunistas e bloquistas - ruído surdo porque nem uns nem outros quererão entalar demasiado o governo e acabar com o seu abono de família.

SERVIÇO PÚBLICO: «Agora é fácil, não é?»

«Não é a primeira vez que escrevo sobre este assunto. E a julgar pelo número de heróis anti-Salgado que surgem hoje publicamente é muito provável que não seja a última.

Quando o Banco de Portugal (BdP) iniciou o seu processo de investigação ao Banco Espírito Santo não tinha os elementos legais para derrubar Ricardo Salgado, por muitas que fossem as suspeitas ou até evidencias de que as coisas estavam muito piores do que se imaginava. Mas o grande obstáculo à atuação do Banco de Portugal era muito mais do que legal. Era uma parede construída pelo poder do então Dono Disto Tudo.

Hoje é fácil atacar Ricardo Salgado. Na altura não só era difícil poucos ousavam criticar publicamente o GES. E não estou só a falar dos líderes de opinião que se mantiveram fiéis a Salgado quase até ao fim, como foi o caso de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas também de muitos banqueiros que, à semelhança de outros casos como  o do BPN, se mantiveram calados até o escândalo rebentar.

Não eram só algumas pessoas. Era toda uma economia assente nos braços fortes do Grupo Espírito Santo e da sua capacidade de Influência. Com destaque para o poder político dos partidos do centro.

08/03/2017

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: O dia mundial da Mulher visto por um homem

Hoje é dia mundial da Mulher e um pouco por todo o lado a manipulação do cortex cerebral do mulherio pelos esquadrões do politicamente correcto (que inclui muito mulherio) atinge o paroxismo. Entre muitas outras acções (desta vez parece que não vão tirar os trapinhos), até uma greve mundial de gajas está prevista sob a bandeira do histerismo anti-trumpista. É claro que a greve não é mundial. Se fosse, seria americana, mas é uma mania das mulheres americanas, copiada dos homens americanos, que o que é americano é mundial, a começar pelo campeonato de futebol americano.

Créditos: The Economist Espresso
(clicar para ampliar)
Desde que me lembro, tenho as mulheres em muito boa conta, considerando-as, em vários domínios e em média, superiores aos homens. Comecei a ter dúvidas quando a influência destes movimentos politicamente correctos gerou uma certa paranóia igualitária em cada vez mais mulheres ou pelo menos em cada vez mais mulheres mediáticas. Um dos pontos altos das minhas dúvidas foi quando promovi sem sucesso a petição «Não mais urinar sentado!»

Por cá, na jangada de pedra, não parece que o mulherio tenha muito do que se queixar em termos relativos. Veja-se no diagrama aqui ao lado a insólita posição de Portugal no que respeita ao ambiente favorável às mulheres, quase só superada pela honrosa posição do país no que respeita à dívida pública e privada.

Felizmente há muitas mulheres desalinhadas e para as homenagear publico outra vez o texto «Homens» de Fernanda Montenegro, uma das maiores actrizes brasileiras da sua geração.

Homens

O modo de vida, os novos costumes e o desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está o macho da espécie humana.

Tive apenas 1 exemplar em casa, que mantive com muito zelo e dedicação num casamento que durou 56 anos de muito amor e companheirismo, (1952-2008) mas, na verdade acredito que era ele quem também me mantinha firme no relacionamento. Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha 'Salvem os Homens!' Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da masculinidade a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam:

Títulos inspirados (67) - «Campanha de Costa tentou comprar “posts” no blogue Pipoca Mais Doce»

Soube-se agora - talvez em resultado de uma estratégia de desenterrar «factos alternativos» de que o PS e a esquerdalhada são mestres - que a campanha de Costa para alijar o Tozé tentou comprar posts em blogues como o «Pipoca Mais Doce». No caso deste último, a autora recusou porque se tratava de «um produto ou uma marca (que não podia) «testar — e depois dar o feedback aos meus leitores».

O (Im)pertinências compreende sem dificuldade a reticência da Pipoca à época. Hoje, depois de testes que já vão em quinze meses desde a inauguração da geringonça, acreditamos que tudo seria diferente e Ana Garcia Martins estaria em condições de dar feedback aos leitores. O (Im)pertinências, a quem falta a carinha laroca de Ana mas sobra a verrina, não teve, mesmo à época, qualquer dificuldade em pronunciar-se sobre o produto e a marca baseado nas suas performances enquanto ministro e presidente da câmara e até lhe dedicou a série de 14 posts Costa com «obra feita» em Lisboa. Amanhã em Portugal?, apesar de não ter sido contactado por nenhuma agência de meios e, por isso, não chegámos a falar em valores.

07/03/2017

Curtas e grossas (44) - Correlação geralmente não implica causação. Geralmente...

«Aquele senhor careca que apresenta o Isto É Matemática deveria dedicar um episódio do seu programa a estudar a correlação entre o número de vezes que um articulista se queixa da demora da Operação Marquês e o número de vezes que ele almoçou com José Sócrates entre 2005 e 2011. Desconfio que uns pingos de matemática e uns pós de jornalismo serão mais do que suficientes para descobrir uma fórmula que, a bem dizer, está à vista de todos: quanto mais paparocas, mais telefonemas e mais trocas de SMS tiverem existido com o antigo primeiro-ministro, mais artigos indignados com prazos, com mudanças na investigação e com fugas ao segredo de justiça terão sido paridos pelo articulista entre 2014 e 2017.»

«Os terríveis prazos da Operação Marquês», João Miguel Tavares no Público

Recomenda-se vivamente a leitura integral do artigo que é uma pedrada no charco da mediocridade subserviente que prevalece nos opinion dealers.

ARTIGO DEFUNTO: «Universidade de Harvard vai estudar a geringonça»

Fica-se esmagado, ou pelo menos amarrotado, com o título fabricado pelo Diário de Notícias, um jornal que está para o regime sucialista como o desaparecido Diário da Manhã estava para o falecido regime salazarista. Pensa-se num curso em Harvard, ao menos numa nova disciplina dedicada à geringonça, talvez numa equipa de investigação composta por luminárias para dissecar o zingarelho, que sei eu.

Não. Nada disso. Trata-se apenas do convite ao politólogo António Costa Pinto para participar numa conferência, com dois painéis de 2 horas cada, organizada em 11 de Abril pela Universidade Harvard sobre o tema «Is There a Future for the Left in Europe?».

Segundo o politólogo disse ao DN, a geringonça «não é exportável» - felizmente para outros povos, como o espanhol, acrescento eu - aparentemente com pena sua porque «após uma grande incerteza expressa por observadores políticos e pela UE (para não falar das agências de rating) face à aliança (...) os objetivos difíceis impostos por Bruxelas são cumpridos.»  Pelos vistos Costa Pinto não teve tempo de estudar o milagre de Teodora que, como escreveu ontem o Pertinente, foi conseguido à custa de muita oração do ministro das Finanças (perdão fiscal, cativações, enorme redução do investimento e outros pequenos golpes).

06/03/2017

Pro memoria (335) – O presente é feito do passado (II)

Como que uma continuação daqui.


A Ucrânia, ao tempo  uma das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi objecto em 1932 e 1933 do extermínio pela fome promovido pelo Estado soviético dirigido por José Estaline que vitimou milhões de ucranianos. O criminoso episódio ficou conhecido por «Grande Fome da Ucrânia» ou «Holocausto Ucraniano» (Holodomor em ucraniano) e foi tão intenso que em 1941 o povo ucraniano recebeu as tropas nazis da Operação Barbarossa como um exército de libertação.

Na passada 6.ª feira 3 de Março, no parlamento foram aprovados dois votos a propósito do Holodomor.

O primeiro voto de iniciativa do PSD expressava a solidariedade com o povo ucraniano, reconhecia o genocídio e condenava todas as formas de totalitarismo, foi aprovado com o voto contra do BE, do PCP, do PEV e de 3 deputados do PS, entre as quais Isabel Santos, Presidente da Comissão de Democracia, Direitos Humanos e Questões Humanitárias da Assembleia Parlamentar da OSCE e a grande combatente pelas liberdades Isabel Moreira.

O segundo voto de iniciativa do PS expressava solidariedade às vítimas da Grande Fome (Holodomor) e teve votos contra do PCP e do PEV.

Em resumo, BE, PCP, PEV e os referidos 3 deputados do PS não reconhecem o genocídio e não condenam todas as formas de totalitarismo ou, pelo menos, não reconhecem o totalitarismo estalinista.