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21/03/2017

ESTADO DE SÍTIO: In statu quo res erant ante bellum

«O meu colega Mário Centeno anda triste e queixa-se de os mercados e as agências de rating não estarem a refletir, nem nas notações de rating nem nas taxas de juro de longo prazo, o sucesso da nossa economia. Qual Calimero a lacrimejar "É uma injustiça, pois é... ", Centeno e Costa herdaram uma dívida que a 10 anos custava 2,305% ao ano e está agora a 4,297%. Na data da posse, a diferença entre Portugal e Alemanha para as taxas de juro a 10 anos era de 1,845%, hoje é de 3,849%.

Estarão os mercados e os analistas errados?

Quanto ao passado recente, a atividade económica medida através do PIB cresceu menos em 2016 (1,4%) do que em 2015 (1,6%). O consumo interno, apesar de um esforço grande do Governo para o promover, cresceu menos em 2016 (2,3%) do que em 2015 (2,6%). O consumo público não se conseguiu descer, pois manteve-se a crescer a 0,8% em 2016, igual ao que cresceu em 2015. O investimento caiu em 2016 {-0,3%), quando em 2015 tinha subido (4,5%). Isto é, a procura interna cresceu menos em 2016 (1,5%) do que em 2015 (2,5%). As exportações cresceram menos em 2016 (4.4%) do que em 2015 (6,1%). O histórico défice orçamental foi obtido à custa de um aumento dos impostos ordinários e extraordinários e do adiamento de muita despesa pública que em 2015 se reclamava prioritária mas que agora parece que já não é. O aumento da dívida pública (aproximadamente €7 mil milhões em 2016) foi superior ao défice orçamental do ano (€4,2 mil milhões), mostrando que além do adiamento de despesa ainda houve muita que não passou pelo Orçamento.

Eu sei que o desemprego desceu e em muitos casos, quando se analisam os dados trimestrais, há sinais de algumas variáveis a apresentarem algum dinamismo, pois se assim não fosse os valores ainda seriam piores.

E quanto ao futuro? Os consumidores, anestesiados nesta primavera de ilusões, ignoram os torniquetes que aí vêm: os salários a sofrerem pressão para manter as empresas concorrenciais, a inflação a caminhar para os desejados 2%, a Euribor a tender a acompanhá-la na subida, e um Estado a ter de continuar a aumentar impostos para servir uma dívida que é cada vez mais e mais cara. Eu nem quero imaginar as queixas de quem tem créditos à habitação ...

A dívida não para de subir e de ser agravada com os aumentos de capital da CGD, garantias de Estado pelos lesados daqui e dacolá. O maná que foi o Plano Draghi cessará. Somem ao cocktail uma população a envelhecer com uma população ativa a desaparecer, por idade, no espaço de uma década, e verão o risco da dívida a 10 anos a disparar... É por isto, caro Mário, que Portugal tem um futuro carregado, mais carregado do que vai ser o ano de 2021, em que necessitaremos de uns €135 mil milhões para financiar o Estado! Cuidem-se!»

«É uma injustiça, pois é…», João Duque no Expresso

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