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08/05/2017

CASE STUDY: Os bonzos marxistas das Humanidades

«A minha geração - a que nasceu nos anos 40 - está hoje no topo da profissão universitária. Alguns dos meus colegas, sobretudo os que leccionam cursos nas chamadas Humanidades (História, Sociologia, Filosofia, Literatura), retêm do passado o pior que ele tem, nomeadamente a veneração bacoca pelos rituais académicos, enquanto que, no dia-a- dia, se entretêm a debitar o catecismo marxista, a sebenta bourdiana ou lá o que é aquilo. 

Vem isto a propósito do recente livro "História e Memória: Última Lição", de Fernando Rosas. Após os patéticos elogios dos seus pares, aparece o discurso" do homenageado. As suas ideias sobre a História são perigosas. Contemplem-se os subtítulos: "História (Desmemória e Hegemonia) ", "História e Uso Público da História", "Em Busca de um Passado para o Presente", "Da Desmemória à Manipulação da Memória". O Professor Doutor menciona o "processo social complexo de construção das legitimidades que sustentam as formas de estar, de transformar ou de conservar o mundo em que vivemos". E acrescenta: "A memória é sempre matéria- prima para arquitecturas de geometria variável, invariavelmente construídas a partir do presente". Li e reli, sem ter percebido bem o que Fernando Rosas queria dizer. Após meditação, conclui não se destinar esta prosa a ser entendida, tendo antes como objectivo servir de ritual de iniciação às tribos mais delirantes de esquerda. Segundo os historiadores aqui filiados, tudo é "construído". Os factos não são factos, mas interpretações politicamente orientadas. Trump teria aprovado. 

Estou consciente de que nunca existiu em Portugal uma Universidade decente. Tivemos Coimbra, e os seus horrendos bacharéis e, mais tarde, a Universidade organizada pelo Estado Novo, uma instituição de tal forma deprimente que quase me levou ao suicídio. Claro que nunca tendo o liberalismo encontrado terreno fértil em Portugal, espantar-me-ia que nas universidades se respirasse um clima de diálogo aberto. Mas adiante. 

Comecei a ensinar em 1974 a alunos que, dizendo-se trotskistas, pretendiam ter boas notas sem estudar. Por julgar que o meu papel não consistia em ajudá-los a entoar disparates, mas em estimulá-los a pensar, não cedi. Ao fim de quatro meses de berraria, deixei o ensino, tendo passado a dedicar-me à investigação. Entretanto, à frente de um exército de post-docs que tudo aceitam porque não têm alternativa, Fernando Rosas trepava pela hierarquia universitária. 

Como Allan Bloom alertou, em "Giants and Dwarfs", "as universidades transformaram- se numa luta entre a democracia liberal e o igualitarismo, radical, ou, melhor dizendo, totalitário". Os docentes que, em vez de se apresentarem como intelectuais especializados numa certa disciplina, se armam em guias morais e activistas políticos, estão ipso facto a abandonar a função para que foram contratados. Não é assunto menor. Ao impedir que os alunos pensem livremente, os novos mandarins estão a cometer um crime.»

«Os catedráticos revolucionários», Maria Filomena Mónica no Expresso

1 comentário:

Unknown disse...

Por outras palavras : o 2aggiornamento" possível dos lentes queirosianos. broncos, ignorantes e oportunistas.
Portugueses, em suma...