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11/11/2017

ARTIGO DEFUNTO: Escreveu a primeira coisa de jeito em anos e... arrependeu-se

O ano passado e há dias escrevi que acho excelente termos umas dezenas de milhar de forasteiros, com um razoável poder de compra, durante quatro dias em Lisboa a lotarem os hotéis, os restaurantes e os bares e a gastarem umas dezenas de milhões de euros. Já quanto aos pensamentos milagrosos que atribuem ao evento virtualidades para transformar o Portugal dos Pequeninos numa pátria de startups e num Silicon Valley manifestei as maiores reservas.

Socorri-me de um dos jornalistas-comentadores mais propenso aos pensamentos milagrosos que constatou com grande desgosto não ter encontrado nenhuma startup com sucesso que tivesse nascido do parto do ano passado e que a Web Summit não atraiu novas ideias nem investidores para startups portuguesas. Deve ter sido o pensamento mais sensato e realista que a criatura produziu durante a sua já longa carreira.

Pois, foi sol de pouca dura. Reparei agora que, poucos dias depois, Nicolau Santos se desdisse, talvez chamado à pedra pelos polícias do pensamento oficial - especulo eu -, atribuindo o que escreveu antes a ter sido vítima da sua impaciência - eu diria que sucumbiu ao realismo, o que para a criatura deve ser uma espécie de bacilo de Koch.

Para se desdizer cita vários sucessos de startups portuguesas desde a Farfetch e a Feedzai até à Critical Software, a Ciscog e a Outsystems cujo sucesso nada tem a ver com a Web Summit, aliás as 3 últimas são até anteriores à primeira Dublin Web Summit em 2009. Maravilha-se pelo facto de na Irlanda irem lá 25 startups portuguesas e em Lisboa estarem 250 - se contasse as startups irlandesas era capaz de chegar a números comparáveis. Resta o quê? Resta essencialmente o impacto no turismo, na hotelaria e na restauração que o bom do Nicolau estima em 200 milhões, o que para 60 mil pessoas a ficarem 4 dias dá uma média superior a 800 euros por pessoa/dia o que mostra que o nosso pastorinho da economia dos amanhãs que cantam voltou a usar na sua estimativa o multiplicador keynesiano, como já tinha feito com as autoestradas.

Para um retrato realista do impacto da Web Summit nas meninges dos investidores, recomendo a leitura do artigo do DN - estranhamento tresmalhado do pensamento oficial - com um título que é um bom resumo «Investidores há, não chegam é a abrir a mala do dinheiro».

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