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06/03/2018

Revendo o casting dos clássicos à luz da inclusion rider

O discurso de Frances McDormand na cerimónia de entrega dos Oscares e a cláusula inclusion rider (*) que ela propôs passasse a ser incluída nos contratos dos actores, por um lado, e a extraordinária actriz que ela é, por outro, são uma demonstração prática do carácter enganador do halo effect que faz os ingénuos e/ou ignorantes imaginar que tudo o que uma pessoa extraordinária faz ou diz é extraordinário em outros domínios para além daquele em que é extraordinária. Ou, ao contrário, faz pensar que uma pessoa que é medíocre ou mesmo tonta ou incompetente num domínio é igualmente incompetente em todos os outros.

Vejamos alguns exemplos do que poderia ter acontecido em alguns grandes clássicos se a cláusula inclusion rider fizesse parte dos contratos:
  • Casablanca de Michael Curtiz - Humphrey Bogart e Ingrid Bergman substituídos por Sidney Poitier e Juanita Moore
  • Lolita de Stanley Kubrick -  James Mason e Shelley Winters substituídos por Sammy Davis Jr. e Diana Ross
  • E Tudo o Vento Levou de Victor Fleming -  Butterfly McQueen substituída por Shelley Winters 
  • Tempos Modernos de Charles Chaplin - Charlot protagonizado por Mantan Morley
  • Carmen Jones de Otto Preminger -  Harry Belafonte e Dorothy Dandridge substituídos por Gene Kelly e Doris Day
(*) «So what is an inclusion rider? As Stacy Smith, who researches gender equality in film and television at the University of Southern California, has put it, it’s the idea that A-list actors have the ability to stipulate in their contracts that diversity be reflected both onscreen and in “below the line” positions, where women, people of color, and members of L.G.B.T. communities are traditionally underrepresented.» (NYT)

Quanto à subrepresentação das minorias, tomemos como exemplo a minoria homossexual que se estima representar 2 a 5% da população e comparemos com a percentagem de filmes produzidos nos últimos anos em que um ou mais dos protagonistas são homossexuais ou de sexo indefinido ou mesmo o filme inteiro é dedicado à minoria LGBTQQIAAP, minoria que acabará a ser maioria quando todo o alfabeto lhe for acrescentado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que sim. Quando usarem todo o alfabeto e todas as siglas e todas as abreviaturas, estão naquele ponto morto.
Ou seja, estão no ponto de todos serem mortos pelos que ignoram alfabeto, siglas, abreviaturas.
Abraço